quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Foge o irrecuperável tempo

Foge o irrecuperável tempo
Em 1736, Benjamim Franklin cunhou um dos mandamentos do mercado capitalista, que nos assombra até hoje: "Tempo é dinheiro".
Em elementos fundamentais para a crítica da economia política, Marx afirmou que a riqueza capitalista se baseia no "roubo do tempo de trabalho alheio".

Filme: A cor do Paraíso

Filme: A cor do Paraíso

1999. De Majid Majidi. Com Hossein Mahjoub e Mohsen Ramezani.

Mohammad é um menino cego, seu pai Ramezani é viúvo e mora com sua mãe e as duas filhas pequenas, de 9 e 10 anos aproximadamente, Baharet e Hanihed numa vila. O menino é entregue a escola especial de cegos na capital do Irã, Teerã. Chega o tempo das férias e todas as crianças foram embora, mas o pai de Mohammad não apareceu. Um professor Bernied (?) para alegrar Mohammad pega o celular de brinquedo do menino e finge que está ligando para o seu pai. O tempo passa e o pai não aparece. Mohammad espera sentado sozinho no banquinho da escola. Escuta um gato perseguindo um passarinho, entra no jardim vai tateando entre as folhas secas e finalmente encontra o filhote de passarinho, ele coloca-o no bolso de sua camisa. (Mohammad está sempre bem vestido de calça comprida e camisa por dentro, cinto afivelado, em muitas cenas usa um óculos escuro, noutras vemos o seus olhos cegos, (o ator é cego), sem brilho, que procuram a luz sem ver. Um dia, chega seu pai, que o observa em silêncio, ele pede ao diretor da escola e funcionários que fique com o menino, os funcionários não aceitam, pois a escola fechará por três meses. O menino toma a mão do pai, mão de trabalhador, grossa e cheia de calos, e com lágrimas nos olhos de emoção diz: "Eu pensei que o senhor não vinha nunca." O funcionário conta para o pai o quanto ele sofreu nesses dias de espera.
Na aldeia, as duas irmãs de Mohammad são lindas e alegres. Mal ele alcança a vila ele começa a gritar por sua avó, as meninas estão vindo da floresta trazem galhos de árvores presos às costas, pastagem para alimentar uma vaca. Elas ficam contente com a chegada do irmão, ele toca no rosto delas e diz o quanto elas cresceram. Mohammad vai encontrar a sua avó que está na plantação de alfafa e trigo. As meninas levam-no, ele se esconde detrás de uma árvore para surpreender a avó. Ela descobre o seu esconderijo e fica muito feliz. Ele pede para a avó fechar os olhos e lhe entrega um presentinho, uma fivela colorida para ela por nos cabelos, ele dá para a irmã um colar feito de tampas de refrigerante e para a outra um pente amarelo de prender o cabelo e um cartãozinho colorido para cada uma.
Mohammad quer ir à escola com suas irmãs, mas sua avó não pode permitir por causa do seu pai. Ele chora, então sua avó vai deixá-lo na escola. As crianças adoram a presença dele, todas querem se sentar perto dele, o professor manda um aluno ler a lição, Mohammad corrige os erros do menino, o professor manda ele continuar a leitura, construindo um dos momentos mais bonitos do filme.
Ramezani não aceita que o filho vá à escola. E pensando que seu filho pode atrapalhar seus planos de casamento, entrega-o a um carpinteiro cego para que o ensine o ofício. O desespero de Mohammad quando é abandonado pelo pai é um dos momentos mais tristes do filme, nesse momento compreendemos todo o seu isolamento, todo o seu sofrimento, toda a sua diferença, a sua dor nos assalta, assalta aos nossos corações como se fosse nossa.
A avó de Mohammad é uma velhinha e diante da atitude do filho, ela arruma uma trouxa com seus poucos pertences e sai de casa sem destino, Ramezani suplica-lhe para que ela não o abandone, lamenta a sua vida desgraçada, de não haver chegado a conhecer o seu pai, de haver trabalhado desde cedo, de haver perdido a sua esposa e de ser obrigado a cuidar do filho cego pelo resto da sua vida. Ela sai na chuva e salva um peixe que pulava sufocado na água escassa e coloca-o nas profundezas da fonte, a atmosfera cinzenta, ouve-se o cantar de um pica-pau. Mohammad está sempre escutando os pássaros, os sapos, como se comunicasse com estes, numa cumplicidade com a natureza. A avó volta para casa. Após alguns dias, ela falece, escuta o canto do pica-pau e sorrindo lembra de Mohammad antes de morrer.
Um homem vem entregar a Ramezani os presentes que ele enviou a sua noiva, o casamento foi desfeito. Ele fica desesperado. Vai buscar Mohammad, ao retornar atravessam a ponte que cede com o peso do cavalo onde está o menino. Mohammad cai na correnteza. Ramezani expressa alívio e pasmo. Sim, era aquilo que ele queria. Entretanto, de repente seu coração é tocado, e ele pula no rio. Quando ele acorda já está na praia. O corpo do menino ali perto na areia. As gaivotas vem em grande alarido, como que chorasse ou se alegrasse com a morte ou a outra vida. Ramezani recolhe o corpo do filho, vemos a sua mão se mexer e uma luz que brilha como o sol.

Filme: A Estrada

Filme: A Estrada
La Strada, Itália,, 1954, drama, preto e branco
Federico Fellini

personagens: Zampano - Anthony Quinn
Gelsomina - Giulieta Masina
A história começa com as imagens de uma praia, o mar avançando pela areia, crianças correndo ao encontro de Gelsomina, que carrega um feixe de lenha nas costas. As crianças contam que chegou um homem com uma moto grande, trazendo a notícia de que sua irmã, Rosa, morreu. A mãe foi abandonada pelo marido e tem quatro filhos pequenos para criar. Sendo muito pobre, aceita dinheiro de Zampano pela entrega da filha para ser artista mambembe. Gelsomina é desajeitada, sensível e algo idiota, ignorante, ingênua. Zampano ensina-a como deve fazeer para acompanhá-lo nos espetáculo e vendo que ela não aprende quebra um cipó e cada vez que ela ensaia e não acerta, ele bate nas pernas dela. Finalmente, Gelsomina começa a se interessar por música e quer aprender trompete, mas este só lhe permite tocar o tambor. Eles vão almoçar num restaurante e Zampano convida uma mulher para ir consigo e abandona Gelsomina. Ela dorme ao relento, uma mulher que lhe traz uma sopa, reconhece-a como a mulher do homem do pulmão de aço, pois Zampano vive de apresentar um número em que enchendo os pulmões de ar consegue quebrar uma corrente de aço presa ao peito, e lhe conta que viu o carro dele no final da rua. Depois que ser maltratada, ela resolve ir embora, quando vai partindo, três soldados saem com suas trombetas e trompetes tocando uma música, ela os acompanha e marcha imitando um soldado (é um dos momentos mais belos do filme), alcança a procissão do Senhor Morto. Assiste a um espetáculo de circo em que um equilibrista anda numa corda bamba e se senta sobre a corda para fazer uma refeição. Ela fica fascinada com o número. Mais tarde ela conhece pessoalmente esse artista num circo onde Zampano é contratado. O equilibrista não gosta de Zampano e resolve provocá-lo, chamando-o de "espingalda", em alusão à sua maneira de falar no seu número. É o único que desafia Zampano, levando-o a agredi-lo e passar um dia preso. A força física de Zampano, o seu jeito grosso e bárbaro o incomodam, ele é o único que consegue interpor-se perante a sua tirania, o seu jeito rústico.
No meio da estrada, os dois encontram-no enquanto este conserta o pneu furado do carro e acabam se enfrentando. Zampano sem querer assassina o artista, leva seu corpo para o mato e atira o seu carro no abismo. Esse fato causa grande desespero em Gelsomina que não consegue esquecer a morte do jovem que a ensinou a tocar trompete. Zampano incomodado com as alucinações e o desânimo de Gelsomina abandona-a deixando-a com o trompete.
Após muitos anos, Zampano escuta a música que Gelsomina aprendeu no trompete e se aproxima da moça que canta e esta lhe conta que há cinco anos aprendeu a canção com uma moça que a tocava ao trompete e que morreu em silêncio sem que ninguém pudesse identificar a sua origem.
Zampano deprimido se embebeda e briga no bar, é expulso do lugar. A cena final é ele sentado na areia de frente ao mar, com a expressão soturna e desesperada, chorando amassando os grãos de areias entre as mãos.

Amizade

Amizade

Se no presente não há amigos, façamos então que os haja daqui em diante, amigos dessa "amizade soberana e senhora". É a esses futuros amigos que apelo, respondam-me, essa é nossa responsabilidade. A amizade não é nunca uma coisa dada no presente, ela faz parte da experiência da espera, da promessa ou do compromisso. Seu discurso é o da oração, ele inaugura, não constata nada, não se contenta com o que é, se coloca no lugar onde uma responsabilidade se abre ao futuro.
Jacques Derrida