- Guarda me faça um favor. Pegue seu revólver e atire em mim. Atira pelo amor de Deus!
Era uma senhora que havia acabado de sair da perícia médica. É claro que o médico havia indeferido o benefício dela. Não precisava perguntar nada. Isso acontece diariamente.
Mas naquele dia, a coisa foi séria. A mulher desmaiou. Não era chilique. A mulher estava ali estirada no chão feito morta.
Um grupo de curiosos se aproximou e foi um deus-nos-acuda. Uns diziam que ela estava inventando, outros que devia estar morta mesmo.
- Chamem um médico, por favor. - Pediu a chefe.
Vieram dois médicos peritos. Mas, no meio daquela confusão, pessoas começaram a gritar:
- Assassinos, assassinos.
A multidão não deixou os médicos se aproximarem.
Liguei para o serviço de ambulância do governo do estado.
- Me manda uma ambulância aqui para a agência do INSS.
- Em primeiro lugar, com quem você pensa que está falando?
Foi o que me respondeu a pessoa no outro lado da linha. Atarantada, completei:
- Uma mulher está desmaiada aqui e nós precisamos de uma ambulância, urgente.
- Como é o nome dela, senhora?
- Não sei, moça. Eu não conheço.
- O que você é dela?
- Não sou nada. Não já lhe disse: não conheço ela.
-Mas eu não estou entendendo...
- Pelo amor de Deus, me manda uma ambulância...
- A senhora está nervosa. Sem essas informações não posso fazer nada.
- Me passa para um médico, por favor.
Depois de algum tempo, o médico atendeu e me perguntou:
- Quais os sintomas da paciente?
- Ela está desmaiada...
- Ela está respirando?
- Não sei, doutor. Não sou médica.
- Mas eu sou médico e preciso saber se a paciente está viva ou não.
- Como vou saber?
- Quantos anos a paciente tem?
- Não sei. Não a conheço. Ela veio aqui para o INSS...
Do outro lado da linha, o médico ou seja lá quem fosse interrompeu:
- O quê? Você está falando do INSS?! Pois olhe, aqui não tem ambulância nenhuma não. Está tudo ocupado. - E assim desligou o telefone na minha cara.
Sobrou para o doutor Siqueira que desafiou a multidão e socorreu a paciente.
Não era nada demais só uma queda de pressão. Mas se a segurada morresse ali, iam dizer que a culpa era nossa e de todo o INSS. Uma vez um transeunte teve um ataque fulminante na porta da agência e morreu ali mesmo, pois inventaram que ele havia morrido na fila do INSS. Ele só ia passando.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
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