Há muito tempo não escrevo nesta página. Tenho que revelar que eu estava sentindo um terrível cansaço, um enfado, um desânimo que me impedia de escrever uma frase que fosse. Meu trabalho me absorveu totalmente. Tive que escrever imensos relatórios, examinar os dados econômicos dos últimos cinco anos, estudar o mercado de ações, operações com derivativos, opções, BM&F, operações com títulos públicos, etc. Imagine o meu esforço para dominar tais assuntos, eu, que sequer tenho uma caderneta de poupança. Mas é o meu trabalho e não é justo querer um salário sem aceitar o ônus do ofício.
E por falar em ônus, lembrei das manchetes das revistas que vi hoje de manhã. É claro que na próxima semana as mesmas manchetes estarão lá. Numa dessas revista, li o seguinte: "Você pode ficar rico". Outra dizia: "Perca 4kg em 15 dias." E um jornal preceituava: "Como conseguir o emprego de seus sonhos". O leitor só precisa comprá-los para conseguir tal façanha. Essa é a ilusão que vendem.
Esse gênero de publicação é florescente, assim como prosperam as igrejas da mesma linha . Elas prometem aquilo que não está ao nosso alcance. Satisfazem o nosso desejo infantil de querer maravilhas sem o respectivo esforço.
Você se lembra do livro, filme, video, e não sei quanto tipo de mídia que se vendeu feito coca-cola sob o nome "O Segredo"? Ele se tornou quase uma religião, uma doutrina, um saber esotérico, e quem ousasse criticá-lo era visto como um não-iniciado, um infeliz, um derrotado. Quem poderia se levantar contra a massa de leitores de "O Segredo" ávidos por ver os milagres que o livro prometia em suas vidas? Deus me livre, que eu não queria ser excomungada. Agora que a fome emocional foi saciada, que a falácia caiu por terra, é possível criticar, não sem suscitar a peleja de algum renitente.
Encontrei no livro de Carl Sagan, "O Mundo Assombrado pelos Demônios", uma passagem que cai bem nessa discussão. Ele afirma: "A pseudociência fala às necessidades emocionais poderosas que a ciência frequentemente deixa de satisfazer. Nutre fantasias sobre poderes pessoais que não temos e desejamos ter (como aqueles atribuídos aos super-heróis das histórias em quadrinhos modernas e, no passado, aos deuses). (...) No âmago de algumas pseudociencias ( e também de algumas religiões, da Nova e da Antiga Era) reside a ideia de que é o ato de desejar que dá forma aos acontecimentos."
Ele continua:
"Como seria agradável se pudéssemos, à semelhança do folclore e das histórias infantis, satisfazer os desejos de nosso coração pelo simples fato de desejar."
Ora, aquela outra visão, a de "O Segredo" vem justamente satisfazer nossas fantasias de grandeza, de onipotência, de sucesso e negar o duro esforço, o empenho, a aplicação, a disciplina, que, na maioria das vezes, são necessários para a realização de um sonho. A maioria de nós gostaria que as coisas fossem assim, no entanto, a realidade está aí nos confrontando todo dia, nos mostrando que é preciso muito mais que desejar.
domingo, 24 de maio de 2009
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