Filme: A cor do Paraíso
1999. De Majid Majidi. Com Hossein Mahjoub e Mohsen Ramezani.
Mohammad é um menino cego, seu pai Ramezani é viúvo e mora com sua mãe e as duas filhas pequenas, de 9 e 10 anos aproximadamente, Baharet e Hanihed numa vila. O menino é entregue a escola especial de cegos na capital do Irã, Teerã. Chega o tempo das férias e todas as crianças foram embora, mas o pai de Mohammad não apareceu. Um professor Bernied (?) para alegrar Mohammad pega o celular de brinquedo do menino e finge que está ligando para o seu pai. O tempo passa e o pai não aparece. Mohammad espera sentado sozinho no banquinho da escola. Escuta um gato perseguindo um passarinho, entra no jardim vai tateando entre as folhas secas e finalmente encontra o filhote de passarinho, ele coloca-o no bolso de sua camisa. (Mohammad está sempre bem vestido de calça comprida e camisa por dentro, cinto afivelado, em muitas cenas usa um óculos escuro, noutras vemos o seus olhos cegos, (o ator é cego), sem brilho, que procuram a luz sem ver. Um dia, chega seu pai, que o observa em silêncio, ele pede ao diretor da escola e funcionários que fique com o menino, os funcionários não aceitam, pois a escola fechará por três meses. O menino toma a mão do pai, mão de trabalhador, grossa e cheia de calos, e com lágrimas nos olhos de emoção diz: "Eu pensei que o senhor não vinha nunca." O funcionário conta para o pai o quanto ele sofreu nesses dias de espera.
Na aldeia, as duas irmãs de Mohammad são lindas e alegres. Mal ele alcança a vila ele começa a gritar por sua avó, as meninas estão vindo da floresta trazem galhos de árvores presos às costas, pastagem para alimentar uma vaca. Elas ficam contente com a chegada do irmão, ele toca no rosto delas e diz o quanto elas cresceram. Mohammad vai encontrar a sua avó que está na plantação de alfafa e trigo. As meninas levam-no, ele se esconde detrás de uma árvore para surpreender a avó. Ela descobre o seu esconderijo e fica muito feliz. Ele pede para a avó fechar os olhos e lhe entrega um presentinho, uma fivela colorida para ela por nos cabelos, ele dá para a irmã um colar feito de tampas de refrigerante e para a outra um pente amarelo de prender o cabelo e um cartãozinho colorido para cada uma.
Mohammad quer ir à escola com suas irmãs, mas sua avó não pode permitir por causa do seu pai. Ele chora, então sua avó vai deixá-lo na escola. As crianças adoram a presença dele, todas querem se sentar perto dele, o professor manda um aluno ler a lição, Mohammad corrige os erros do menino, o professor manda ele continuar a leitura, construindo um dos momentos mais bonitos do filme.
Ramezani não aceita que o filho vá à escola. E pensando que seu filho pode atrapalhar seus planos de casamento, entrega-o a um carpinteiro cego para que o ensine o ofício. O desespero de Mohammad quando é abandonado pelo pai é um dos momentos mais tristes do filme, nesse momento compreendemos todo o seu isolamento, todo o seu sofrimento, toda a sua diferença, a sua dor nos assalta, assalta aos nossos corações como se fosse nossa.
A avó de Mohammad é uma velhinha e diante da atitude do filho, ela arruma uma trouxa com seus poucos pertences e sai de casa sem destino, Ramezani suplica-lhe para que ela não o abandone, lamenta a sua vida desgraçada, de não haver chegado a conhecer o seu pai, de haver trabalhado desde cedo, de haver perdido a sua esposa e de ser obrigado a cuidar do filho cego pelo resto da sua vida. Ela sai na chuva e salva um peixe que pulava sufocado na água escassa e coloca-o nas profundezas da fonte, a atmosfera cinzenta, ouve-se o cantar de um pica-pau. Mohammad está sempre escutando os pássaros, os sapos, como se comunicasse com estes, numa cumplicidade com a natureza. A avó volta para casa. Após alguns dias, ela falece, escuta o canto do pica-pau e sorrindo lembra de Mohammad antes de morrer.
Um homem vem entregar a Ramezani os presentes que ele enviou a sua noiva, o casamento foi desfeito. Ele fica desesperado. Vai buscar Mohammad, ao retornar atravessam a ponte que cede com o peso do cavalo onde está o menino. Mohammad cai na correnteza. Ramezani expressa alívio e pasmo. Sim, era aquilo que ele queria. Entretanto, de repente seu coração é tocado, e ele pula no rio. Quando ele acorda já está na praia. O corpo do menino ali perto na areia. As gaivotas vem em grande alarido, como que chorasse ou se alegrasse com a morte ou a outra vida. Ramezani recolhe o corpo do filho, vemos a sua mão se mexer e uma luz que brilha como o sol.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
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