Não há dúvida de que entrar no mercado de trabalho é o mais importante canal para a independência e a liberação das mulheres. No entanto, conhecemos a história:
as mulheres têm pouca participação nas funções mais altas e estão mais presentes nos cargos menos especializados. Estamos sub-representadas nos cargos bem pagos e excessivamente presentes nos mal pagos. No Brasil, de cada 10 cargos executivos existentes nas grandes empresas, apenas um é ocupado por mulheres.
Nós mulheres somos a maioria da população brasileira. O Censo de 2010 indica 190.732.694 de brasileiros, dos quais 97.342.162 mulheres e 93.390.532 homens, ou seja, somos 51% da população do país. Porém, as mulheres são minoria no mercado de trabalho, tendo apenas 41,9% de participação contra e 58,1% de participação masculina.
Diante desse quadro vem-nos à mente duas grandes perguntas, a primeira é:
Por que isso acontece?
Vivemos milhares de anos sob o poder masculino. Esse poder foi legitimado por uma ideologia que afirmava que a mulher era inferior ao homem, que era menos inteligente, ou que talvez nem tivesse inteligência e que por isso não podia trabalhar.
Mentira! A verdade é que as mulheres sempre trabalharam.
Antes do processo de industrialização, eram elas que pilavam todo o arroz e o milho, que descaroçavam e fiavam o algodão; que teciam e costuravam as roupas, que abasteciam a casa de água, que faziam o pão e fabricavam todos os alimentos e até o sabão!
Então, imagine: a mulher fazia o trabalho que a companhia de águas faz hoje, que a indústria de beneficiamento do arroz, do milho e do algodão; que a indústria têxtil, de vestuário e de alimentos. E em alguns lugares ainda é assim. Mas nunca foi um trabalho reconhecido pela sociedade.
Contudo, a despeito das adversidades, as mulheres ingressaram no mercado de trabalho remunerado em enorme quantidade, obtendo ganhos importantes. Todavia, em nenhuma parte a igualdade de gênero foi alcançada.
Em 2009, aproximadamente 35,5% das mulheres brasileiras estavam inseridas no mercado de trabalho como empregadas com carteira de trabalho assinada, percentual inferior ao observado na distribuição masculina (43,9%).
Embora façam 2/3 do trabalho mundial, as mulheres detêm menos de 1% das riquezas mundiais. Elas continuam sendo exploradas e constantemente são vítimas de violência e abusos.
Agora vem a outra pergunta:
De que maneira mudar esse quadro?
Através de nossa ação:
Nós mulheres temos que entrar em ação, temos que assumir uma nova postura: participação política, cobrança e luta.
Através da Capacitação e do trabalho.
As estatísticas comprovam que a mulher estuda mais, lê mais, que tem mais instrução, no entanto, continuam ganhando menos que os homens que exercem as mesmas funções. Mas isso não é motivo para nos desestimular. Temos que nos capacitar mais ainda, pois, em parte, foi graças a essa capacitação que conseguimos melhorar nossa posição no mercado de trabalho.
Existe uma secretaria no Governo Federal voltada só para as mulheres, chamada Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, contudo sentimos os reflexos de sua atuação?
Temos que cobrar junto a essa Secretaria a implementação de políticas públicas voltadas para as mulheres.
Saiu um documento do governo federal, produzido por essa Secretaria, chamado de Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Esse documento, um calhamaço de mais 237 páginas, versão compacta, pode ser encontrado na página da Secretaria, traz, entre outros objetivos das políticas para as mulheres, os seguintes:
Apoiar a realização de cursos de capacitação e qualificação técnica e gerencial para mulheres.
Realizar campanhas para ampliar o acesso de mulheres a profissões, cargos e funções historicamente ocupadas por homens.
Promover a autonomia econômica e financeira das mulheres por meio da assistência técnica, do acesso ao crédito e do apoio ao empreendedorismo, associativismo, cooperativismo e comércio.
Ampliar o acesso das mulheres empreendedoras no âmbito do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado do MTE. (Que programa é esse?)
Implementar o Programa Trabalho e Empreendedorismo das Mulheres.
Implementar o Programa Trabalho, Artesanato, Turismo e Autonomia das Mulheres.
Aumentar em 12%, entre 2008 e 2011, o número de crianças entre zero e seis anos de idade freqüentando creche ou pré-escola na rede pública;
Construir 1.714 creches e pré-escolas, entre 2008 e 2011;
Adotar medidas que promovam a elevação em 4% na taxa de atividade das mulheres com 16 anos ou mais, entre 2006 e 2011;
Manter a média nacional em, no mínimo, 50% de participação das mulheres no total de trabalhadores capacitados e qualificados atendidos pelo PNQ e nos convênios do MTE com entidades que desenvolvam formação profissional;
Capacitar 12.000 mulheres no âmbito do Plano Trabalho Doméstico Cidadão e articular para sua incorporação na Educação de Jovens e Adultos;
Aumentar em 30% o número de trabalhadoras domésticas com carteira assinada;
Conceder crédito especial (Pronaf Mulher) a 58 mil mulheres trabalhadoras rurais, no período de 2008 a 2011;
Ampliar a participação das mulheres no Pronaf para 35%;
Atender 29 mil mulheres em projetos de Assistência Técnica protagonizada por mulheres até 2011;
Realizar 1.500 mutirões do Programa Nacional de Documentação das Trabalhadoras Rurais, no período de 2008 a 2011;
Emitir documentação civil para 80 mil mulheres nas áreas entorno dos empreendimentos dos setores eletro, energético e mineral, em todo o território nacional;
Promover políticas de ações afirmativas no mundo do trabalho que reafirmem a condição das mulheres como sujeitos sociais e políticos, considerando as dimensões étnico-raciais;
Promover a valorização e o reconhecimento da contribuição econômica das mulheres no meio rural e nas comunidades tradicionais;
Garantir às trabalhadoras domésticas o exercício de todos os direitos trabalhistas previstos no Artigo 7º da Constituição Federal concedidos às trabalhadoras em geral;
Promover a organização produtiva de mulheres que vivem em contexto de vulnerabilidade social, notadamente nas periferias urbanas.
Etc.
Temos que cobrar o cumprimento desses objetivos.
E aonde a mulher pode se capacitar para o trabalho?
Através do ensino regular e das universidades, nos centros de aprendizagem SENAC, SENAI e nas escolas técnico-profissionalizantes.
Ou seja, as opções não são muitas. Temos que reivindicar mais centros de capacitação e o cumprimento das metas do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres.
Precisamos de mais oportunidade, pois se uma mulher prospera, seus filhos também melhorarão de vida, as famílias prosperam e toda a comunidade se beneficia.
Veja o exemplo de Wangari Maathai, que ganhou o prêmio Nobel da Paz, em 2004. Ela conseguiu mobilizar as mulheres de um vilarejo no Quênia, onde já não havia mais nada. A terra estava estéril porque todas as árvores haviam sido cortadas e vendidas. Ela convence as mulheres a plantar e regar novas árvores, e, depois de seis anos, elas têm uma floresta, o solo é recuperado e a vila renasce.
O pior do preconceito é quando acreditamos nele e o aceitamos como uma verdade. Podemos combatê-lo no dia-a-dia, na escola, no bairro, na igreja, no sindicato ou no movimento social organizado. Combater o preconceito e o machismo não é apenas defender direitos iguais, é fortalecer a nossa auto-estima e melhorar a nossa inserção no mercado de trabalho.
quinta-feira, 10 de março de 2011
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