Introdução:
Você acha que os nossos aborrecimentos vêm da falta de dinheiro, de tempo ou da bagunça das cidades? Não, a maior parte de nossos aborrecimentos cotidianos vem de nossa dificuldade de comunicação.
Por isso, hoje, vou apresentar para vocês seis regras, por meio das quais podemos melhorar a nossa interação social no dia a dia.
Argumentação:
Essas regras são chamadas de máximas da polidez ou cortesia, ou máximas de Leech, por causa do estudioso da Pragmática da Comunicação que as enunciou, Geoffrey Leech (1983).
Em 1983, Geoffrey Leech analisou vários princípios conversacionais e aproximou o conceito tradicional de retórica ao de pragmática, enquanto estudo do sentido em relação às situações discursivas.
As seis máximas de Leech derivam do principio da polidez. Vejamos:
1. Máxima do Tato: minimize o custo para o outro; maximize as vantagens dele.
Considere o exemplo abaixo: “Posso interrompê-lo, professor? Se eu pudesse, gostaria de esclarecer meu ponto de vista”.
2. Máxima da generosidade (minimize os seus próprios benefícios, maximize as vantagens para o outro, o custo para você mesmo)
Exemplo: você tem um hóspede em sua casa, ele resolve arrumar a mesa, você diz: “O que é isso? Relaxe e me deixe arrumar a mesa. Você é nosso convidado e hóspede”.
3. Máxima da Aprovação (minimize a censura do outro; maximiza o elogio do outro)
Ex: “Eu assisti à sua apresentação, foi muito boa. Você fez um ótimo trabalho”.
4. Máxima da Modéstia (minimiza o elogio de si próprio; maximiza a crítica de si próprio)
O exemplo mais famoso é sobre Sócrates. Quando o oráculos de Delfos proclamou que Sócrates era o homem mais sábio de toda a Grécia, ele replicou: Quanto mais procuro saber, me dou conta que de nada sei.
5. Máxima da Concordância (minimiza o desacordo entre si próprio e o outro;
maximiza o acordo entre si próprio e o outro)
Ex: Sem dúvida, parece que é isso mesmo. Mas façamos uma correção, pois corremos o risco de não fazer uma precisa definição do assunto.
6. A máxima da simpatia: (minimiza a antipatia entre si próprio e o outro; maximiza a simpatia entre si próprio e o outro)
Ex: Ana: “Você está lendo esse livro? Você está gostando?” Bia: “Sim” . Ana: Também adorei essa obra.
Conclusão
Por fim, num mundo onde ainda predomina a aspereza, a discórdia, o insulto, pessoas que agem com polidez, com cortesia terminam, quase sempre, sendo bem recebidas em toda parte e conquistando ouvintes.
Colocando essas regras em prática, você conseguirá uma interação social muito mais harmoniosa, mais rica e mais lúdica.
Quem se comunica com polidez e cortesia revela respeito, atenção, delicadeza e consideração ao outro, além de potencializar a sua capacidade de comunicação.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Fale com o cavalo ou A Crise da Atenção
(Não sei quando comecei este texto, interrompi-o no trecho que começa a falar de Tchekhov, ponto de onde hoje recomecei, 29/01/2012)
Existe uma crise que, embora, encontremo-nos com ela em nosso cotidiano, não está na mídia. Esta crise é tão concreta quanto está passeando numa estrada tranqüila e, de repente, topar numa pedra. Mas ela muda de aspecto como um camaleão, se camufla como um urutau, por isso é difícil defini-la e mesmo notá-la.
Se a sociedade de massa estimula o individualismo, ela fez com que perdêssemos o sentido da significação individual. A importância que cada um de nós tem perante a sociedade foi diminuindo à medida que se foi difundindo a idéia de que ninguém é insubstituível, e, de fato, percebemos que o mundo continua seu curso, a despeito do desaparecimento trágico de milhares de pessoas em catástrofes naturais ou na guerra, e percebemos que isso acontecerá quando chegar a nossa vez. Provavelmente, só faremos falta para os familiares e os amigos.
Mas essa crise não é de agora e a verdade é que nenhum governo, povo, ou nação resolveu enfrentá-la. Ela virou problema para psicólogos, terapeutas, sociólogos, teólogos e, sobretudo, foi deixada aos cuidados das religiões, seitas, associações, filiações, clubes, etc.
Estava trelendo os contos de Anton Tchekhov (1860-1904), pois os contos de Tchekhov, penso eu, merecem ser relidos muitas vezes, quando me deparei com um desses personagens solitários, carentes de atenção. Solitário, não por sua índole, mas por sua invisibilidade. Com certeza, o solitário pode ser encontrado em vários contos de Tchekhov, mas o que me refiro encontra-se no conto “Angústia”, que tem o subtítulo “A quem confiar minha tristeza”.
Ele é um pobre cocheiro, rodando pelas ruas geladas de São Petersburgo, como um fantasma, completamente coberto de neve. O primeiro passageiro entra, é um militar. O cocheiro anseia por se comunicar, vai logo puxando assunto: “Pois é, meu senhor, assim é... perdi um filho esta semana.” O passageiro chega a perguntar: “De que foi que morreu?” Mas logo que o velho cocheiro se volta para entabular conversa, o militar rosna: “Dá a volta, diabo! Não está mais enxergando, cachorro velho?”
Em seguida, entram três passageiros, um deles é corcunda. Eles cobrem o cocheiro de insultos, regateiam no pagamento. O mais agressivo de todos é o corcunda. Num instante de pausa da tagarelice dos passageiros, o cocheiro balbucia: “ Esta semana... assim... perdi meu filho!” Mas os passageiros reagem dando-lhes muitas pancadas no pescoço.
Nem seria necessário, mas em determinado trecho, o isolamento de Iona, o cocheiro, é descrito: “Os olhos de Iona correm, inquietos e sofredores, pela multidão que se agita de ambos os lados da rua: não haverá, entre esses milhares de pessoas, uma ao menos que possa ouvi-lo? Mas a multidão corre, sem reparar nele, nem na sua angústia...”
Iona precisa falar da morte do filho, precisa contar como padeceu, como sofreu. E “o ouvinte deve soltar exclamações, suspirar, lamentar...”
Na falta desse ouvinte, o velho cocheiro termina contando sua triste história para o cavalo.
Existe uma crise que, embora, encontremo-nos com ela em nosso cotidiano, não está na mídia. Esta crise é tão concreta quanto está passeando numa estrada tranqüila e, de repente, topar numa pedra. Mas ela muda de aspecto como um camaleão, se camufla como um urutau, por isso é difícil defini-la e mesmo notá-la.
Se a sociedade de massa estimula o individualismo, ela fez com que perdêssemos o sentido da significação individual. A importância que cada um de nós tem perante a sociedade foi diminuindo à medida que se foi difundindo a idéia de que ninguém é insubstituível, e, de fato, percebemos que o mundo continua seu curso, a despeito do desaparecimento trágico de milhares de pessoas em catástrofes naturais ou na guerra, e percebemos que isso acontecerá quando chegar a nossa vez. Provavelmente, só faremos falta para os familiares e os amigos.
Mas essa crise não é de agora e a verdade é que nenhum governo, povo, ou nação resolveu enfrentá-la. Ela virou problema para psicólogos, terapeutas, sociólogos, teólogos e, sobretudo, foi deixada aos cuidados das religiões, seitas, associações, filiações, clubes, etc.
Estava trelendo os contos de Anton Tchekhov (1860-1904), pois os contos de Tchekhov, penso eu, merecem ser relidos muitas vezes, quando me deparei com um desses personagens solitários, carentes de atenção. Solitário, não por sua índole, mas por sua invisibilidade. Com certeza, o solitário pode ser encontrado em vários contos de Tchekhov, mas o que me refiro encontra-se no conto “Angústia”, que tem o subtítulo “A quem confiar minha tristeza”.
Ele é um pobre cocheiro, rodando pelas ruas geladas de São Petersburgo, como um fantasma, completamente coberto de neve. O primeiro passageiro entra, é um militar. O cocheiro anseia por se comunicar, vai logo puxando assunto: “Pois é, meu senhor, assim é... perdi um filho esta semana.” O passageiro chega a perguntar: “De que foi que morreu?” Mas logo que o velho cocheiro se volta para entabular conversa, o militar rosna: “Dá a volta, diabo! Não está mais enxergando, cachorro velho?”
Em seguida, entram três passageiros, um deles é corcunda. Eles cobrem o cocheiro de insultos, regateiam no pagamento. O mais agressivo de todos é o corcunda. Num instante de pausa da tagarelice dos passageiros, o cocheiro balbucia: “ Esta semana... assim... perdi meu filho!” Mas os passageiros reagem dando-lhes muitas pancadas no pescoço.
Nem seria necessário, mas em determinado trecho, o isolamento de Iona, o cocheiro, é descrito: “Os olhos de Iona correm, inquietos e sofredores, pela multidão que se agita de ambos os lados da rua: não haverá, entre esses milhares de pessoas, uma ao menos que possa ouvi-lo? Mas a multidão corre, sem reparar nele, nem na sua angústia...”
Iona precisa falar da morte do filho, precisa contar como padeceu, como sofreu. E “o ouvinte deve soltar exclamações, suspirar, lamentar...”
Na falta desse ouvinte, o velho cocheiro termina contando sua triste história para o cavalo.
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