Sem “tempo” para escrever, transcrevo frases soltas de Lobo da Estepe (Hermann Hesse (1887-1962), tradução Ivo Barroso, editora BestBolso)
O selvagem
“Arde então em mim um selvagem anseio de sensações fortes, uma ardor pela vida desregrada, baixa, normal e estéril...” p.37
A educação adiposa
“O que eu odiava mais profundamente e maldizia mais era aquela satisfação, aquela saúde, aquela comodidades, esse otimismo bem cuidado dos cidadãos, essa educação adiposa e saudável do medíocre, do normal, do acomodado.” P. 37
Vinhos
“Prefiro os vinhos simples, puros, mais leves e modestos, sem nome conhecido; desses pode-se tomar boa quantia e têm um grato sabor a campo, a terra, a céu e a bosque.”
p.45
A felicidade
“E esses homens para os quais a vida não oferece repouso, experimentam, às vezes, em seus raros momentos de felicidade, tanta força e tão indizível beleza, a espuma do instante de ventura emerge às vezes tão alta e deslumbradora sobre o mar da dor, que sua luz, espalhando radiância, vai atingir a outros com seu encantamento.” P. 57
O burguês
“O burguês é, pois, segundo sua natureza, uma criatura de impulso muito débeis e angustiosos, temerosa de qualquer entrega de si mesma, fácil de governar. Por isso, colocou, no lugar do poder, a maioria, no lugar da autoridade, a lei, no lugar da responsabilidade, as eleições” p. 66
O humor
“só o humor (talvez o produto mais genuíno e genial da humanidade) atinge esse impossível e une todos os aspectos da existência nos raios de um prisma”. P. 68
"Mas todo verdadeiro humor começa quando a pessoa deixa de levar-se a sério." p. 202
O homem
“o homem é um bulbo formado por cem folhas, um tecido urdido com muitos fios.” P.74
Eternidade
“A eternidade não é mais que um momento, cuja duração não vai além de um gracejo.” P. 115
“E a eternidade não era outra coisa senão a libertação do tempo; era, de certo modo, à volta à inocência, o regresso ao espaço.” P. 177
Viver
“Quem quiser música em vez de balbúrdia, alegria em vez de prazer, alma em vez de dinheiro, verdadeiro trabalho em vez de exploração, verdadeira paixão em vez de jogo, na encontrará guarida neste belo mundo.” P. 174
A experiência da festa
“Uma experiência, que me fora desconhecida ao longo de cinquenta anos, embora familiar a qualquer mocinha airada ou a qualquer estudante, revelou-se-me naquela noite de baile: a experiência da festa, o rumor da comunidade em festa, o segredo da submersão da pessoa na multidão, da unio mystic da alegria." p.192
domingo, 19 de setembro de 2010
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
Tempo perdido, tempo sem escrita
Se eu afirmar que não tenho tempo para escrever, parecerá mentira. Mas é verdade, falta-me tempo interior, um tempo que não se conta no relógio, pois afinal como disse Borges: o tempo é uma vaga e imprecisa convenção humana.
Tempo é faca de sete lâminas, com uma nos toma a juventude, com as demais vou pensar sobre o assunto e depois escrevo.
beijos
Rai
Tempo é faca de sete lâminas, com uma nos toma a juventude, com as demais vou pensar sobre o assunto e depois escrevo.
beijos
Rai
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Ainda sobre o Amor: das táticas para esquecer
Tenho observado que comumente se adotam três táticas para esquecer um ex-amor.
1. Odiá-lo;
2. ridicularizá-lo;
3. arranjar outro;
É claro que a mais eficiente e a melhor de todas é arranjar outro, lembrando o que nos ensina Roland Barthes, "é o amor que o sujeito ama, não o objeto".
Porém, se é a mais eficiente, nem sempre é a mais fácil, não só pela dificuldade natural de se encontrar um parceiro, mas, sobretudo, por causa da torrente de sentimentos negativos que nos imobiliza nesses momentos.
Creio que odiar, fora de toda pregação cristã, é de todas as maneiras a mais dolorosa e prejudicial, pois, no fundo, odiar é se expor ao outro, é cutucar a própria ferida. Mas sendo esse sentimento um tanto quanto primitivo, por vezes, é dificílimo controlá-lo.
Portanto, em minha opinião, ridicularizar é a tática menos nociva. Digo ridicularizar no sentido do lado risível de todos nós, pois, como disse Nietzsche, observado de perto todo indivíduo é ridículo.
Posso listar uma dúzia de atitudes ridículas do meu ex, como por exemplo: ele escondia comida no armário; ele não sabia contar piada, e quando se metia a fazer graça dava pena; ou então, ele era terrivelmente avarento, de forma que a única vez que chorou foi quando o dispensei de pagar o aluguel (chorou de emoção por economizar o seu bom dinheirinho).
Com isso, em vez de odiá-lo, você vai dar boas risadas do seu ex-amorzinho.
P.S. Se você tiver uma opinião diferente, ou queira acrescentar algo, deixe seu comentário.
1. Odiá-lo;
2. ridicularizá-lo;
3. arranjar outro;
É claro que a mais eficiente e a melhor de todas é arranjar outro, lembrando o que nos ensina Roland Barthes, "é o amor que o sujeito ama, não o objeto".
Porém, se é a mais eficiente, nem sempre é a mais fácil, não só pela dificuldade natural de se encontrar um parceiro, mas, sobretudo, por causa da torrente de sentimentos negativos que nos imobiliza nesses momentos.
Creio que odiar, fora de toda pregação cristã, é de todas as maneiras a mais dolorosa e prejudicial, pois, no fundo, odiar é se expor ao outro, é cutucar a própria ferida. Mas sendo esse sentimento um tanto quanto primitivo, por vezes, é dificílimo controlá-lo.
Portanto, em minha opinião, ridicularizar é a tática menos nociva. Digo ridicularizar no sentido do lado risível de todos nós, pois, como disse Nietzsche, observado de perto todo indivíduo é ridículo.
Posso listar uma dúzia de atitudes ridículas do meu ex, como por exemplo: ele escondia comida no armário; ele não sabia contar piada, e quando se metia a fazer graça dava pena; ou então, ele era terrivelmente avarento, de forma que a única vez que chorou foi quando o dispensei de pagar o aluguel (chorou de emoção por economizar o seu bom dinheirinho).
Com isso, em vez de odiá-lo, você vai dar boas risadas do seu ex-amorzinho.
P.S. Se você tiver uma opinião diferente, ou queira acrescentar algo, deixe seu comentário.
domingo, 25 de abril de 2010
Debate sobre o amor na perspectiva pós-moderna
A ponte sobre o abismo – Começo pelo Fim
“Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados.”
"Era inevitable: el olor de las almendras amargas le recordaba siempre el destino de los amores contrariados.”
Gabriel García Márquez: O Amor nos Tempos do Cólera.
Eram duas horas da manhã e Justina ainda estava acordada. As ondas do mar rebentavam, a brisa soprava em sua janela. Porém, nada disso lhe importava. Nem mesmo o zumbido de uma mariposa que passeava pelo quarto. Remexia-se na cama numa espécie de frenesi. Seu coração batia contra as paredes de seu tórax como se desejasse rebentá-las, sair de seu cativeiro e escapar. Sua cabeça estava quente e as têmporas pareciam que iam explodir. Naquele momento, ela era um feixe de emoções.
Chorava e batia com uma das mãos no travesseiro e não conseguindo se acalmar, gemia e se lamentava dizendo sempre:
- Ai, como dói. Eu não agüento isso! É horrível!
Não sabia explicar por que, mas precisava falar, gemer, embora não houvesse ninguém para ouvi-la, o que tornava as coisas mais difíceis. Se ao menos tivesse a companhia de um animal, se ao menos pudesse abraçar o seu gato, mas estava sozinha naquele quarto de hotel. Dali a pouco um galo misterioso começaria a cantar e ela não iria conseguia dormir, muito menos parar de chorar.
Se pudesse evitaria o choro, pois, na sua vaidade, lembrava que amanheceria com o rosto marcado por grandes olheiras e com ar cansado. Por um instante, isso lhe provocou o riso, pois viu a si mesma como uma outra pessoa. Que conseguisse num momento doloroso se preocupar com as suas olheiras era engraçado. Mas logo parou de sorrir e continuou a chorar.
- Como pôde fazer isso comigo? Eu não mereço! Que injusto!
Sim, era injusto! Mas quem lhe disse que no relacionamento amoroso existe “justiça”? Ela achava injusto que ele a abandonasse de forma tão indelicada, trocando-a por outra. Opa, quem disse que a delicadeza reina no amor? Oh, Justina, o tempo da delicadeza talvez ainda esteja por ser instaurado ou esteja confinado dentro de um velho livro.
Justina sabia que dali em diante jamais iria ficar com ele, que não mais viajariam juntos, que não iria mais dormir do seu lado, e o que era pior, ele não mais a abraçaria, nem alisaria suas costas quando ela reclamasse do cansaço.
De repente, notou que aquela ponte mágica que se estendera entre eles com muita rapidez estava à beira do abismo. Não se esforçara muito para edificá-la, porém, para mantê-la estava descobrindo que era preciso colocar muitas estacas, cuidar das fundações, das enxurradas e tomar outras providências.
Sim, era verdade! Ele estava com outra. Como se enganara! Pensava que a ponte era firme. Esquecera em que tempos vivia?! Há muito tempo fora anunciado "um tempo em que tudo se desmancha como espuma no ar".
Pego o meu livro de cabeceira, “Ética Pós-Moderna”, procuro extrair dele alguma lição para compreender o meu personagem. Não me refiro a Justina, refiro-me ao amor, o amor na perspectiva pós-moderna.
Mas o que é essa categoria que os filósofos chamam de “pós-moderna”?
Ora, se eu disser que trato do amor nos tempos atuais correrei o risco de escrever algo tão datado, que o leitor do futuro, se porventura, esse texto vingar, ache que me refiro ao amor dos seus dias. Então para definir que troço é esse, me valho novamente do meu livro de cabeceira, que diz:
“A perspectiva pós-moderna significa sobretudo o rasgamento da máscara das ilusões; o reconhecimento de certas pretensões como falsas e de certos objetivos como inatingíveis, e nem por isso mesmo desejáveis."
Para polemizar mais, consulto Giles Lipovetsky em seu Crepúsculo do Dever. O pós-modernos seria a era do pós-dever, em que supostamente teríamos nos libertado de toda constrição, dos deveres infinitos, dos mandamentos e das obrigações.
Trata-se do tempo pós-moderno como o contexto da experiência da superação da ética do dever. As prescrições de ordem familiar, moral, ética, são banidas como constrições à liberdade individual.
Tempo próprio para o meu personagem fazer estripulias à vontade, dar vazão à sua natureza instintiva e desenfreada. Andar feito um cigano, sem rédeas e sem regras, exibindo sua face obscura e egoísta, sem pudor.
Como um gato persa, ele mostra as garras.
Depois daquela decepção, Justina prometeu nunca mais amar, porém, todavia, numa manhã ensolarada, numa tarde dourada ou ao anoitecer, conheceu alguém especial. Renovadas as esperanças, voltou a amar, pois, como afirma Roland Barthes:
"é o amor que o sujeito ama, não o objeto."
“Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados.”
"Era inevitable: el olor de las almendras amargas le recordaba siempre el destino de los amores contrariados.”
Gabriel García Márquez: O Amor nos Tempos do Cólera.
Eram duas horas da manhã e Justina ainda estava acordada. As ondas do mar rebentavam, a brisa soprava em sua janela. Porém, nada disso lhe importava. Nem mesmo o zumbido de uma mariposa que passeava pelo quarto. Remexia-se na cama numa espécie de frenesi. Seu coração batia contra as paredes de seu tórax como se desejasse rebentá-las, sair de seu cativeiro e escapar. Sua cabeça estava quente e as têmporas pareciam que iam explodir. Naquele momento, ela era um feixe de emoções.
Chorava e batia com uma das mãos no travesseiro e não conseguindo se acalmar, gemia e se lamentava dizendo sempre:
- Ai, como dói. Eu não agüento isso! É horrível!
Não sabia explicar por que, mas precisava falar, gemer, embora não houvesse ninguém para ouvi-la, o que tornava as coisas mais difíceis. Se ao menos tivesse a companhia de um animal, se ao menos pudesse abraçar o seu gato, mas estava sozinha naquele quarto de hotel. Dali a pouco um galo misterioso começaria a cantar e ela não iria conseguia dormir, muito menos parar de chorar.
Se pudesse evitaria o choro, pois, na sua vaidade, lembrava que amanheceria com o rosto marcado por grandes olheiras e com ar cansado. Por um instante, isso lhe provocou o riso, pois viu a si mesma como uma outra pessoa. Que conseguisse num momento doloroso se preocupar com as suas olheiras era engraçado. Mas logo parou de sorrir e continuou a chorar.
- Como pôde fazer isso comigo? Eu não mereço! Que injusto!
Sim, era injusto! Mas quem lhe disse que no relacionamento amoroso existe “justiça”? Ela achava injusto que ele a abandonasse de forma tão indelicada, trocando-a por outra. Opa, quem disse que a delicadeza reina no amor? Oh, Justina, o tempo da delicadeza talvez ainda esteja por ser instaurado ou esteja confinado dentro de um velho livro.
Justina sabia que dali em diante jamais iria ficar com ele, que não mais viajariam juntos, que não iria mais dormir do seu lado, e o que era pior, ele não mais a abraçaria, nem alisaria suas costas quando ela reclamasse do cansaço.
De repente, notou que aquela ponte mágica que se estendera entre eles com muita rapidez estava à beira do abismo. Não se esforçara muito para edificá-la, porém, para mantê-la estava descobrindo que era preciso colocar muitas estacas, cuidar das fundações, das enxurradas e tomar outras providências.
Sim, era verdade! Ele estava com outra. Como se enganara! Pensava que a ponte era firme. Esquecera em que tempos vivia?! Há muito tempo fora anunciado "um tempo em que tudo se desmancha como espuma no ar".
Pego o meu livro de cabeceira, “Ética Pós-Moderna”, procuro extrair dele alguma lição para compreender o meu personagem. Não me refiro a Justina, refiro-me ao amor, o amor na perspectiva pós-moderna.
Mas o que é essa categoria que os filósofos chamam de “pós-moderna”?
Ora, se eu disser que trato do amor nos tempos atuais correrei o risco de escrever algo tão datado, que o leitor do futuro, se porventura, esse texto vingar, ache que me refiro ao amor dos seus dias. Então para definir que troço é esse, me valho novamente do meu livro de cabeceira, que diz:
“A perspectiva pós-moderna significa sobretudo o rasgamento da máscara das ilusões; o reconhecimento de certas pretensões como falsas e de certos objetivos como inatingíveis, e nem por isso mesmo desejáveis."
Para polemizar mais, consulto Giles Lipovetsky em seu Crepúsculo do Dever. O pós-modernos seria a era do pós-dever, em que supostamente teríamos nos libertado de toda constrição, dos deveres infinitos, dos mandamentos e das obrigações.
Trata-se do tempo pós-moderno como o contexto da experiência da superação da ética do dever. As prescrições de ordem familiar, moral, ética, são banidas como constrições à liberdade individual.
Tempo próprio para o meu personagem fazer estripulias à vontade, dar vazão à sua natureza instintiva e desenfreada. Andar feito um cigano, sem rédeas e sem regras, exibindo sua face obscura e egoísta, sem pudor.
Como um gato persa, ele mostra as garras.
Depois daquela decepção, Justina prometeu nunca mais amar, porém, todavia, numa manhã ensolarada, numa tarde dourada ou ao anoitecer, conheceu alguém especial. Renovadas as esperanças, voltou a amar, pois, como afirma Roland Barthes:
"é o amor que o sujeito ama, não o objeto."
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Foge o irrecuperável tempo
Foge o irrecuperável tempo
Em 1736, Benjamim Franklin cunhou um dos mandamentos do mercado capitalista, que nos assombra até hoje: "Tempo é dinheiro".
Em elementos fundamentais para a crítica da economia política, Marx afirmou que a riqueza capitalista se baseia no "roubo do tempo de trabalho alheio".
Em 1736, Benjamim Franklin cunhou um dos mandamentos do mercado capitalista, que nos assombra até hoje: "Tempo é dinheiro".
Em elementos fundamentais para a crítica da economia política, Marx afirmou que a riqueza capitalista se baseia no "roubo do tempo de trabalho alheio".
Filme: A cor do Paraíso
Filme: A cor do Paraíso
1999. De Majid Majidi. Com Hossein Mahjoub e Mohsen Ramezani.
Mohammad é um menino cego, seu pai Ramezani é viúvo e mora com sua mãe e as duas filhas pequenas, de 9 e 10 anos aproximadamente, Baharet e Hanihed numa vila. O menino é entregue a escola especial de cegos na capital do Irã, Teerã. Chega o tempo das férias e todas as crianças foram embora, mas o pai de Mohammad não apareceu. Um professor Bernied (?) para alegrar Mohammad pega o celular de brinquedo do menino e finge que está ligando para o seu pai. O tempo passa e o pai não aparece. Mohammad espera sentado sozinho no banquinho da escola. Escuta um gato perseguindo um passarinho, entra no jardim vai tateando entre as folhas secas e finalmente encontra o filhote de passarinho, ele coloca-o no bolso de sua camisa. (Mohammad está sempre bem vestido de calça comprida e camisa por dentro, cinto afivelado, em muitas cenas usa um óculos escuro, noutras vemos o seus olhos cegos, (o ator é cego), sem brilho, que procuram a luz sem ver. Um dia, chega seu pai, que o observa em silêncio, ele pede ao diretor da escola e funcionários que fique com o menino, os funcionários não aceitam, pois a escola fechará por três meses. O menino toma a mão do pai, mão de trabalhador, grossa e cheia de calos, e com lágrimas nos olhos de emoção diz: "Eu pensei que o senhor não vinha nunca." O funcionário conta para o pai o quanto ele sofreu nesses dias de espera.
Na aldeia, as duas irmãs de Mohammad são lindas e alegres. Mal ele alcança a vila ele começa a gritar por sua avó, as meninas estão vindo da floresta trazem galhos de árvores presos às costas, pastagem para alimentar uma vaca. Elas ficam contente com a chegada do irmão, ele toca no rosto delas e diz o quanto elas cresceram. Mohammad vai encontrar a sua avó que está na plantação de alfafa e trigo. As meninas levam-no, ele se esconde detrás de uma árvore para surpreender a avó. Ela descobre o seu esconderijo e fica muito feliz. Ele pede para a avó fechar os olhos e lhe entrega um presentinho, uma fivela colorida para ela por nos cabelos, ele dá para a irmã um colar feito de tampas de refrigerante e para a outra um pente amarelo de prender o cabelo e um cartãozinho colorido para cada uma.
Mohammad quer ir à escola com suas irmãs, mas sua avó não pode permitir por causa do seu pai. Ele chora, então sua avó vai deixá-lo na escola. As crianças adoram a presença dele, todas querem se sentar perto dele, o professor manda um aluno ler a lição, Mohammad corrige os erros do menino, o professor manda ele continuar a leitura, construindo um dos momentos mais bonitos do filme.
Ramezani não aceita que o filho vá à escola. E pensando que seu filho pode atrapalhar seus planos de casamento, entrega-o a um carpinteiro cego para que o ensine o ofício. O desespero de Mohammad quando é abandonado pelo pai é um dos momentos mais tristes do filme, nesse momento compreendemos todo o seu isolamento, todo o seu sofrimento, toda a sua diferença, a sua dor nos assalta, assalta aos nossos corações como se fosse nossa.
A avó de Mohammad é uma velhinha e diante da atitude do filho, ela arruma uma trouxa com seus poucos pertences e sai de casa sem destino, Ramezani suplica-lhe para que ela não o abandone, lamenta a sua vida desgraçada, de não haver chegado a conhecer o seu pai, de haver trabalhado desde cedo, de haver perdido a sua esposa e de ser obrigado a cuidar do filho cego pelo resto da sua vida. Ela sai na chuva e salva um peixe que pulava sufocado na água escassa e coloca-o nas profundezas da fonte, a atmosfera cinzenta, ouve-se o cantar de um pica-pau. Mohammad está sempre escutando os pássaros, os sapos, como se comunicasse com estes, numa cumplicidade com a natureza. A avó volta para casa. Após alguns dias, ela falece, escuta o canto do pica-pau e sorrindo lembra de Mohammad antes de morrer.
Um homem vem entregar a Ramezani os presentes que ele enviou a sua noiva, o casamento foi desfeito. Ele fica desesperado. Vai buscar Mohammad, ao retornar atravessam a ponte que cede com o peso do cavalo onde está o menino. Mohammad cai na correnteza. Ramezani expressa alívio e pasmo. Sim, era aquilo que ele queria. Entretanto, de repente seu coração é tocado, e ele pula no rio. Quando ele acorda já está na praia. O corpo do menino ali perto na areia. As gaivotas vem em grande alarido, como que chorasse ou se alegrasse com a morte ou a outra vida. Ramezani recolhe o corpo do filho, vemos a sua mão se mexer e uma luz que brilha como o sol.
1999. De Majid Majidi. Com Hossein Mahjoub e Mohsen Ramezani.
Mohammad é um menino cego, seu pai Ramezani é viúvo e mora com sua mãe e as duas filhas pequenas, de 9 e 10 anos aproximadamente, Baharet e Hanihed numa vila. O menino é entregue a escola especial de cegos na capital do Irã, Teerã. Chega o tempo das férias e todas as crianças foram embora, mas o pai de Mohammad não apareceu. Um professor Bernied (?) para alegrar Mohammad pega o celular de brinquedo do menino e finge que está ligando para o seu pai. O tempo passa e o pai não aparece. Mohammad espera sentado sozinho no banquinho da escola. Escuta um gato perseguindo um passarinho, entra no jardim vai tateando entre as folhas secas e finalmente encontra o filhote de passarinho, ele coloca-o no bolso de sua camisa. (Mohammad está sempre bem vestido de calça comprida e camisa por dentro, cinto afivelado, em muitas cenas usa um óculos escuro, noutras vemos o seus olhos cegos, (o ator é cego), sem brilho, que procuram a luz sem ver. Um dia, chega seu pai, que o observa em silêncio, ele pede ao diretor da escola e funcionários que fique com o menino, os funcionários não aceitam, pois a escola fechará por três meses. O menino toma a mão do pai, mão de trabalhador, grossa e cheia de calos, e com lágrimas nos olhos de emoção diz: "Eu pensei que o senhor não vinha nunca." O funcionário conta para o pai o quanto ele sofreu nesses dias de espera.
Na aldeia, as duas irmãs de Mohammad são lindas e alegres. Mal ele alcança a vila ele começa a gritar por sua avó, as meninas estão vindo da floresta trazem galhos de árvores presos às costas, pastagem para alimentar uma vaca. Elas ficam contente com a chegada do irmão, ele toca no rosto delas e diz o quanto elas cresceram. Mohammad vai encontrar a sua avó que está na plantação de alfafa e trigo. As meninas levam-no, ele se esconde detrás de uma árvore para surpreender a avó. Ela descobre o seu esconderijo e fica muito feliz. Ele pede para a avó fechar os olhos e lhe entrega um presentinho, uma fivela colorida para ela por nos cabelos, ele dá para a irmã um colar feito de tampas de refrigerante e para a outra um pente amarelo de prender o cabelo e um cartãozinho colorido para cada uma.
Mohammad quer ir à escola com suas irmãs, mas sua avó não pode permitir por causa do seu pai. Ele chora, então sua avó vai deixá-lo na escola. As crianças adoram a presença dele, todas querem se sentar perto dele, o professor manda um aluno ler a lição, Mohammad corrige os erros do menino, o professor manda ele continuar a leitura, construindo um dos momentos mais bonitos do filme.
Ramezani não aceita que o filho vá à escola. E pensando que seu filho pode atrapalhar seus planos de casamento, entrega-o a um carpinteiro cego para que o ensine o ofício. O desespero de Mohammad quando é abandonado pelo pai é um dos momentos mais tristes do filme, nesse momento compreendemos todo o seu isolamento, todo o seu sofrimento, toda a sua diferença, a sua dor nos assalta, assalta aos nossos corações como se fosse nossa.
A avó de Mohammad é uma velhinha e diante da atitude do filho, ela arruma uma trouxa com seus poucos pertences e sai de casa sem destino, Ramezani suplica-lhe para que ela não o abandone, lamenta a sua vida desgraçada, de não haver chegado a conhecer o seu pai, de haver trabalhado desde cedo, de haver perdido a sua esposa e de ser obrigado a cuidar do filho cego pelo resto da sua vida. Ela sai na chuva e salva um peixe que pulava sufocado na água escassa e coloca-o nas profundezas da fonte, a atmosfera cinzenta, ouve-se o cantar de um pica-pau. Mohammad está sempre escutando os pássaros, os sapos, como se comunicasse com estes, numa cumplicidade com a natureza. A avó volta para casa. Após alguns dias, ela falece, escuta o canto do pica-pau e sorrindo lembra de Mohammad antes de morrer.
Um homem vem entregar a Ramezani os presentes que ele enviou a sua noiva, o casamento foi desfeito. Ele fica desesperado. Vai buscar Mohammad, ao retornar atravessam a ponte que cede com o peso do cavalo onde está o menino. Mohammad cai na correnteza. Ramezani expressa alívio e pasmo. Sim, era aquilo que ele queria. Entretanto, de repente seu coração é tocado, e ele pula no rio. Quando ele acorda já está na praia. O corpo do menino ali perto na areia. As gaivotas vem em grande alarido, como que chorasse ou se alegrasse com a morte ou a outra vida. Ramezani recolhe o corpo do filho, vemos a sua mão se mexer e uma luz que brilha como o sol.
Filme: A Estrada
Filme: A Estrada
La Strada, Itália,, 1954, drama, preto e branco
Federico Fellini
personagens: Zampano - Anthony Quinn
Gelsomina - Giulieta Masina
A história começa com as imagens de uma praia, o mar avançando pela areia, crianças correndo ao encontro de Gelsomina, que carrega um feixe de lenha nas costas. As crianças contam que chegou um homem com uma moto grande, trazendo a notícia de que sua irmã, Rosa, morreu. A mãe foi abandonada pelo marido e tem quatro filhos pequenos para criar. Sendo muito pobre, aceita dinheiro de Zampano pela entrega da filha para ser artista mambembe. Gelsomina é desajeitada, sensível e algo idiota, ignorante, ingênua. Zampano ensina-a como deve fazeer para acompanhá-lo nos espetáculo e vendo que ela não aprende quebra um cipó e cada vez que ela ensaia e não acerta, ele bate nas pernas dela. Finalmente, Gelsomina começa a se interessar por música e quer aprender trompete, mas este só lhe permite tocar o tambor. Eles vão almoçar num restaurante e Zampano convida uma mulher para ir consigo e abandona Gelsomina. Ela dorme ao relento, uma mulher que lhe traz uma sopa, reconhece-a como a mulher do homem do pulmão de aço, pois Zampano vive de apresentar um número em que enchendo os pulmões de ar consegue quebrar uma corrente de aço presa ao peito, e lhe conta que viu o carro dele no final da rua. Depois que ser maltratada, ela resolve ir embora, quando vai partindo, três soldados saem com suas trombetas e trompetes tocando uma música, ela os acompanha e marcha imitando um soldado (é um dos momentos mais belos do filme), alcança a procissão do Senhor Morto. Assiste a um espetáculo de circo em que um equilibrista anda numa corda bamba e se senta sobre a corda para fazer uma refeição. Ela fica fascinada com o número. Mais tarde ela conhece pessoalmente esse artista num circo onde Zampano é contratado. O equilibrista não gosta de Zampano e resolve provocá-lo, chamando-o de "espingalda", em alusão à sua maneira de falar no seu número. É o único que desafia Zampano, levando-o a agredi-lo e passar um dia preso. A força física de Zampano, o seu jeito grosso e bárbaro o incomodam, ele é o único que consegue interpor-se perante a sua tirania, o seu jeito rústico.
No meio da estrada, os dois encontram-no enquanto este conserta o pneu furado do carro e acabam se enfrentando. Zampano sem querer assassina o artista, leva seu corpo para o mato e atira o seu carro no abismo. Esse fato causa grande desespero em Gelsomina que não consegue esquecer a morte do jovem que a ensinou a tocar trompete. Zampano incomodado com as alucinações e o desânimo de Gelsomina abandona-a deixando-a com o trompete.
Após muitos anos, Zampano escuta a música que Gelsomina aprendeu no trompete e se aproxima da moça que canta e esta lhe conta que há cinco anos aprendeu a canção com uma moça que a tocava ao trompete e que morreu em silêncio sem que ninguém pudesse identificar a sua origem.
Zampano deprimido se embebeda e briga no bar, é expulso do lugar. A cena final é ele sentado na areia de frente ao mar, com a expressão soturna e desesperada, chorando amassando os grãos de areias entre as mãos.
La Strada, Itália,, 1954, drama, preto e branco
Federico Fellini
personagens: Zampano - Anthony Quinn
Gelsomina - Giulieta Masina
A história começa com as imagens de uma praia, o mar avançando pela areia, crianças correndo ao encontro de Gelsomina, que carrega um feixe de lenha nas costas. As crianças contam que chegou um homem com uma moto grande, trazendo a notícia de que sua irmã, Rosa, morreu. A mãe foi abandonada pelo marido e tem quatro filhos pequenos para criar. Sendo muito pobre, aceita dinheiro de Zampano pela entrega da filha para ser artista mambembe. Gelsomina é desajeitada, sensível e algo idiota, ignorante, ingênua. Zampano ensina-a como deve fazeer para acompanhá-lo nos espetáculo e vendo que ela não aprende quebra um cipó e cada vez que ela ensaia e não acerta, ele bate nas pernas dela. Finalmente, Gelsomina começa a se interessar por música e quer aprender trompete, mas este só lhe permite tocar o tambor. Eles vão almoçar num restaurante e Zampano convida uma mulher para ir consigo e abandona Gelsomina. Ela dorme ao relento, uma mulher que lhe traz uma sopa, reconhece-a como a mulher do homem do pulmão de aço, pois Zampano vive de apresentar um número em que enchendo os pulmões de ar consegue quebrar uma corrente de aço presa ao peito, e lhe conta que viu o carro dele no final da rua. Depois que ser maltratada, ela resolve ir embora, quando vai partindo, três soldados saem com suas trombetas e trompetes tocando uma música, ela os acompanha e marcha imitando um soldado (é um dos momentos mais belos do filme), alcança a procissão do Senhor Morto. Assiste a um espetáculo de circo em que um equilibrista anda numa corda bamba e se senta sobre a corda para fazer uma refeição. Ela fica fascinada com o número. Mais tarde ela conhece pessoalmente esse artista num circo onde Zampano é contratado. O equilibrista não gosta de Zampano e resolve provocá-lo, chamando-o de "espingalda", em alusão à sua maneira de falar no seu número. É o único que desafia Zampano, levando-o a agredi-lo e passar um dia preso. A força física de Zampano, o seu jeito grosso e bárbaro o incomodam, ele é o único que consegue interpor-se perante a sua tirania, o seu jeito rústico.
No meio da estrada, os dois encontram-no enquanto este conserta o pneu furado do carro e acabam se enfrentando. Zampano sem querer assassina o artista, leva seu corpo para o mato e atira o seu carro no abismo. Esse fato causa grande desespero em Gelsomina que não consegue esquecer a morte do jovem que a ensinou a tocar trompete. Zampano incomodado com as alucinações e o desânimo de Gelsomina abandona-a deixando-a com o trompete.
Após muitos anos, Zampano escuta a música que Gelsomina aprendeu no trompete e se aproxima da moça que canta e esta lhe conta que há cinco anos aprendeu a canção com uma moça que a tocava ao trompete e que morreu em silêncio sem que ninguém pudesse identificar a sua origem.
Zampano deprimido se embebeda e briga no bar, é expulso do lugar. A cena final é ele sentado na areia de frente ao mar, com a expressão soturna e desesperada, chorando amassando os grãos de areias entre as mãos.
Amizade
Amizade
Se no presente não há amigos, façamos então que os haja daqui em diante, amigos dessa "amizade soberana e senhora". É a esses futuros amigos que apelo, respondam-me, essa é nossa responsabilidade. A amizade não é nunca uma coisa dada no presente, ela faz parte da experiência da espera, da promessa ou do compromisso. Seu discurso é o da oração, ele inaugura, não constata nada, não se contenta com o que é, se coloca no lugar onde uma responsabilidade se abre ao futuro.
Jacques Derrida
Se no presente não há amigos, façamos então que os haja daqui em diante, amigos dessa "amizade soberana e senhora". É a esses futuros amigos que apelo, respondam-me, essa é nossa responsabilidade. A amizade não é nunca uma coisa dada no presente, ela faz parte da experiência da espera, da promessa ou do compromisso. Seu discurso é o da oração, ele inaugura, não constata nada, não se contenta com o que é, se coloca no lugar onde uma responsabilidade se abre ao futuro.
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