quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Golpe do Elevador

Pedro levantou as axilas e borrifou-as de perfume, deu uma cheirada em cada lado. Virou-se para o espelho carcomido pela ferrugem e rilhou os dentes. Estavam cinzentos e sem brilho, inclusive os cinco da prótese, mas ficou na ilusão de que seria defeito do espelho. Vestiu uma camisa branca, que estava sobre a guarda da cama, ajeitou o colarinho com zelo. Já havia posto as calças. Fitando-se novamente no velho espelho, penteou o cabelo, alinhou os óculos, pegou a carteira, um lenço e saiu.
No corredor do hotel havia apenas uma luz mortiça, que, misturada a um silêncio sepulcral e ao odor forte de mofo do carpete, criava uma atmosfera pesada. Porém, subitamente, aquele silêncio foi rompido pelo som de passos apressados. Pedro olhou para trás e avistou uma mulher redonda, vestida de negro, tentando se equilibrar sobre um salto plataforma.
– Augusto, é você?!
– Não, senhora.
Pedro respondeu. Virando as costas, seguiu apressado.
– Querido, espere por mim. Espere aí.
Pedro tomou o elevador. No mesmo instante, a mulher chegou ofegante e sorridente à porta.
– Deixe-me entrar!
Indiferente, Pedro apertou o botão: fechar porta.
– Pedro Augusto, pare esse elevador! Pare. Espere. Pedro!
Disse a mulher batendo com histeria na grade do elevador.
Ouvindo os berros da esposa, Pedro disparou a rir. Mas antes que a sensação prazerosa do riso se diluísse por seu corpo, o elevador fez uma parada brusca, rangendo como os trilhos de um trem. Para sua surpresa, entrou uma moça que mais parecia uma boneca. Possuía os seios empinados e redondos como se fossem duas bolas, os olhos azuis cintilantes, os cabelos loiros reluzentes. Diante daquela formosura, Pedro pensou consigo mesmo: “ Meu Deus, não me deixei cair em tentação, mas nunca vi uma mulher mais linda!”
Ela era jovem, perfumada, fresca como uma rosa. Pedro estava hipnotizado. Não conseguia desviar os olhos do belo par de seios, que se elevavam propositalmente a cada respiração, nem do colo bronzeado e macio.
Que se lembrasse, nenhuma mulher bonita olhara para ele alguma vez na vida. Mas a moça encarava-o com estudada malícia. Mordia os lábios vermelhos com sensualidade, exibindo os dentes brilhantes, enquanto piscava os olhos e forçava um dos cantos da boca desenhando uma covinha na bochecha, num sorriso ambíguo.
Pedro sentiu-se encorajado e, num gesto de pura audácia, deu dois passos em direção à moça. Naquele espaço exíguo, dois passos significavam ficar próximo demais. A moça jogou os cabelos para trás e aproximou-se um passo. Claro sinal de consentimento. Pedro não pensou duas vezes. Foi direto bolinar os belos seios, ao que ela reagiu com um curto gemido. As luzes do elevador subitamente se apagaram. Parecia que a providência divina queria ajudá-lo: a máquina havia parado. Era tudo o que desejava naquele momento.
Na escuridão do cubículo, Pedro agarrava a moça, enquanto lhe dizia:
– Gata, nunca pensei que uma gata linda como você me desse bola. É claro que isso se deve à minha baixa auto-estima. Tenho uma mulher que levaria até o Ermírio Moraes à falência, entende? Com aquela mulher, aposto que até um tarado ia falhar. É de levar um garanhão à impotência, entende? Mas isto é outra história. Será que tô sonhando? Queria jogar uma água frio no rosto agora pra saber se não tô sonhando. Isso é um sonho? Só pode ser um sonho! Que sorte danada, te encontrar assim, gatinha! Nunca vi gata tão fácil!
A moça não dizia uma palavra. Limitava-se a soltar uns gemidos altos que mais pareciam o miado de uma gata no cio. Pedro estava cada vez mais audacioso, descia a mão pelo corpo da sua gata tocando-lhe as partes mais íntimas. Naquela bolinação, acariciou-a entre as pernas. Ali encontrou um objeto não identificado.
“Será um absorvente? Um pacote de dinheiro? Ou será uma arma?” Pensou com desconfiança. Apertou o objeto com mais força. Foi então que se deu conta que tocava uma parte exclusiva do corpo masculino. E que potência!
– O que é isso, moça?!
– Moça, eu?!
Exclamou. O timbre grave da voz não negava.
Pedro procurou com desespero os botões do elevador.
– Onde fica o alarme? Onde é o interfone?
– Não sei, tio.
Respondeu com voz manhosa. Pedro começou a se empapar de suor. De repente, sua cabeça virou um turbilhão de pensamentos.
“E se eu morrer aqui? Todos vão rir muito de minha cara! Vão tirar sarro de mim. Não vai ter neguinho que me defenda.”
– Onde fica o alarme? Onde é o interfone?
Repetiu.
– Quanto tempo uma pessoa agüenta respirar num elevador? Você quer morrer aqui, sua traveca? Está rindo da minha cara, é?
Disse, ao notar que ela sorria. A bela, muito gentilmente, parou de sorrir. Apertou um botão e a porta do elevador se abriu de imediato justamente na recepção.
Alguns hóspedes, ao vê-lo com a camisa empapada, coberta de desenhos de boca, caíram na risada. A esposa, que o esperava ali, sem pensar duas vezes, meteu-lhe um violento safanão na cara.
– Vamos pegar um táxi!
Disse-lhe, depois de desferir-lhe o golpe.
Ele apalpou os bolsos com nervosismo procurando a carteira.

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