quarta-feira, 4 de julho de 2007

Dona Divina e Zé Comprido

Dona Divina e Zé Comprido foi o casal mais feliz que já conheci.
Ele era um sujeito muito engraçado. Comprava um par de botina nova e só usava na festa de São João. Isto é, ele colocava-as nos pés, pois quando chegava no local da festa, atrelava-as e jogava-as nas costas. Ficava de pés descalço do jeito mais natural do mundo.
Mas bastava dona Divina aparecer e dizer quase num resmungo:
- Nhô!
Zé Comprido mais que depressa entendia o recado e colocava o calçado. Porém, na hora em que ela dava as costas, voltava a pôr os pés no chão. Ficava jogando truco cofiando o bigode. Os seus companheiros bebiam pinga. Ele só ficava sentindo o cheiro e pensando na Dona Divina, que com certeza, estaria rezando o rosário, tirando terço, acendendo velas, pedindo perdão pelos pecados que o marido lhe obrigava a cometer.
- É fornicação, homem. Deixa-me dormir em paz.
Porém, depois de tanto remelecho, entre apelos e beijos, a mulher terminava cedendo. E a filharada crescia.
A coisa mais estranha era a falta de semelhança entre os filhos do casal. Eram treze criaturas, cada uma com o semblante tão diferente da outra que ninguém julgaria que fossem irmãos. Mas Dona Divina era mulher honesta.
Uma vez alguém insinuou que o seu Zé Comprido tinha esse apelido por causa do tamanho do seu chifre. Dona Divina espichou os olhos para o sujeito. Não precisou dizer nada, deu-lhe um nó na língua. O autor da infâmia está com a língua presa até hoje. Quem manda querer atrapalhar a felicidade dos outros!

Um comentário:

Anônimo disse...

Mas que era, era!