domingo, 22 de julho de 2007

Os donos do jardim


Beija-flor vem tomar banho debaixo da chuva que o menino faz com a mangueira. Entra ali e esfrega as asinhas de forma educada. Dá novo mergulho, revolteia numa pirueta, pousa num galho e fica se esquentando. Depois vai catar gotas d'águas nas folhas.

Um canário verde-cinza canta no galho da palmeira chamando uma companhia para fazer um ninho. Ele bica as folhas secas, retira pequenas fibras, olha em torno, depois canta. Ele insiste. Passa horas cantando ali. Não sei por que não lhe atendem o chamado. O canário segue cantando sozinho, manhã adentro.

Um pássaro maior do que o canário, com o peito enfunado como o de uma pomba, também canta sozinho. De manhã, o gavião passou com um passarinho no bico, um bem-te-vi o perseguia. (Não sei por que esse passarinho pequeno é o único que tem coragem de desafiar o gavião.) Talvez fosse a fêmea de um dos pássaros que cantam sozinhos no jardim.
Um exibido casal de sabiá canta em uníssono em cima do ipê amarelo carregado com a primeira flor.
Tardezinha, o passarinho solitário vem cantar de novo. Escolhe a árvore mais alta, o último ramo, pousa ali e fica cantando. Olha em redor como se procurasse uma resposta. Outros passarinhos cantam, mas nenhum tem o canto igual ao seu. Sua esperança é comovente.
Mas antes que o céu escurecesse, eis que o seu canto ecoou. Ele ouviu o chamado do outro, mas não se alvoroçou. Permaneceu no mesmo ramo e, pacientemente, aguardou a aproximação. Acho que foram dormir juntos. Que sejam felizes!

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que a bem-te-vi voava desesperada atrás do amante que o gavião levou.
Pobres de todos nós, passarinhos, minhocas e bípedes, passageiros de um trem chamado cadeia alimentar.
beijos da
Jacinta
p.s. Jacinta Mello Torres. Lembra de mim?
- Ingrata! Se lembra não?