domingo, 20 de maio de 2007

Do que aconteceu com o Pintagol de Beatriz

Alice colocou o corpo do pintagol sobre a cama de Beatriz. Fechou a porta do quarto, foi para a sala e sentou-se em frente à televisão.
Beatriz entrou e cumprimentou a amiga com um sorriso.
- Bia, o passarinho pegou o gato. - Disse Alice como se acabasse de ver uma pulga dando um salto.
- Como?!
- Não. Eu quis dizer o contrário.
- Oh, não! O meu pintagol?! - Alice confirmou com a cabeça. Beatriz deixou os livros caírem no chão.
- Eu vou matar esse gato!
- Bia, o animal não tem culpa de nada. É instinto.
- Alice, como consegue continuar assistindo a seu programa de tevê, quando o meu pintagol morreu! Isso é insuportável.
Beatriz, num ímpeto, desligou a televisão.
- Bia, pare de dar chilique. Um dia, ele ia morrer mesmo!
- Você não entende nada. Não sabe o quanto dói.
- Mas não precisa se vingar em mim.
- Está certa, Alice. Vou para o meu quarto.
Beatriz viu o frágil corpo estendido sobre sua cama, algumas gotas de sangue haviam tingido o lençol e desenhado uma rosa. Ela pegou o pintagol e o apertou com carinho contra o seu peito. Os olhos do animalzinho ainda estavam abertos. Ela os admirou, lembrando como eles piscavam e que não piscariam mais.
- E agora, eu te pergunto, meu pintagol, como vou despertar sem teu canto? Um gato enfiou as presas no teu peito delicado e num instante calou a tua voz. Para onde foi o teu canto? Ninguém sabe explicar. Deve existir um céu exclusivamente para ti. Para mim não sei se há.
Beatriz estava chorando muito. Mas, de repente, percebeu que estava deitada na sua cama, que o dia estava amanhecendo e que o pintagol estava cantando aos seus pés.
Levantou-se, enxugou as lágrimas do rosto, acariciou a cabeça do pintagol e lhe deu um beijinho.
- Desculpe, querido, dei muito trabalho para acordar?!

3 comentários:

Anônimo disse...

Ai, quase me acabo de chorar. Ainda bem que o bichinho, por quem me apaixonei, não morreu. Eu quero o pintagolzinho de Beatriz, mas não sou gato, não, viu.

disse...

Se fosse o gato Bóris, não mataria o Pintagol: cantaria junto com ele.

Do conto inédito: Bóris, o gato que cantava com os pássaros (estou esperando que vc escreva esse...).

Toque de Mel disse...

Jô, que bela sugestão: "Bóris, o gato que cantava com o Pintagol." (Dá uma aulas de afinação para o Bóris.) Vou botar a idéia na minha caixola. (Depois não vá dizer que surrupiei sua idéia.)