sexta-feira, 25 de maio de 2007

Garimpeira

Ah, se eu pudesse escolher um ofício, seria garimpeira. Sairia garimpando os tesouros que estão por aí.
Hoje saí para garimpar. Encontrei tantos tesouros que terei que omitir alguns. Primeiro, encontrei um menino embolado numa rede amarela em cima de uma árvore. Eu o cumprimentei. Ele é meu amigo, mas nem sabemos o nome um do outro.
Eu gritei por ele, ao que ele se desenrolou da rede muito sorridente e foi logo me contando uma história. Disse que o meu cãozinho, o filhote da cachorra dele, o que eu havia escolhido, havia morrido. Notícia que me deixou muito triste. Explicou que eu fui infeliz em escolher o filhote mais magrinho e tímido, que vivia longe da ninhada. Eu lamentei, perguntei se ele havia chorado tal tragédia, mas ele me disse que não. Que pena! E imaginei um funeral para o cachorrinho. Mas ele já não estava mais ali.
Depois passei numa casa, onde havia inúmeras crianças e vi dois meninos iguais, guiando juntos um carrinho. Eles eram os seres mais lindos do mundo, morenos, olhos azuis, cabelos escuros e lisos. Logo conheci outro irmão deles. Era loiro dos olhos verdes, devia ter uns cinco anos. Por último conheci o quarto menino, o mais velho de todos e era bonito também.
Porém, os gêmeos eram os mais encantadores, magrinhos, com aqueles olhos azuis parecendo dois faroletes em contraste com o cabelo escuro.
Segui adiante. Desci o vale, passei pela cachoeira que não pode ser vista, mas ouvi a queda d'água, derramando-se tranqüila, harmoniosa, despreocupada de tudo em volta.
Lá embaixo do vale, encontrei o Gabriel, sobre quem fiz uma aposta com o meu sobrinho para adivinhar o nome. Eu gritei:
- Gabriel!
Ele respondeu:
- Oi!
Meu sobrinho ficou abismado porque acertei de primeira!
Gabriel tem três anos. É meigo e carinhoso como toda criança bem-amada. Prossegui, depois de uma afável troca de palavras e juras de amizade.
Parei numa construção feita de bambu e concreto, local que eu nunca vi gente e que sempre despertou a minha curiosidade. Ouvi um barulho e vi que hoje, os supostos donos estavam lá. Aproximei-me de um limoeiro que fica nos fundos e, como pretexto para conversa, eu pedi um limão.
O dono, que era um japonês muito simpático, concluí depois, autorizou-me a pegar quantos limões quisesse. Vendo sua simpatia, perguntei se podia entrar para ver a construção.
Lá encontrei um lindo tesouro: a Luíza, uma menina de quatro anos, alegre e comunicativa. Ela foi logo me contando tudo de seu fim de semana, chamando-me atenção para uma flor que, segundo ela, iria se abrir dali a um instante.
Ela tinha duas irmãs mais velhas: Clara e Alice. A primeira era tipicamente japonesa, a Alice era mais para branca, como a mãe. E Luíza, era bem mestiça, mas bem diferente dos pais, que eram corteses, porém pouco conversadores.
A Luíza, tenho certeza que, em tempos longínquos, fora minha filha.
E na volta, entre tantas coisas, "tinha uma pedra no meio do caminho", olhei para trás, mas não vi Drummond. E, notando que nenhum outro poeta se interessaria pela pedra, retirei-a do meio do caminho para que ninguém nela tropeçasse.

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