terça-feira, 1 de maio de 2007

Giuliano, O Sedutor

Giuliano, O Sedutor

Giuliano conhecia o seu poder. Ele nascera para seduzir o sexo oposto. Seu nome de origem italiana fora bem escolhido, considerando a fama dos homens daquela nacionalidade. Se tivesse conhecimento, julgaria que poderia seduzir as virgens do Templo do Sol. Porém, mesmo sendo um ignorante, ele fazia muito sucesso.
Giuliano possuía um método que nunca falhava.
Primeiro, aproximava-se da vítima, exibia-se por alguns segundos.
Depois se afastava indiferente. Logo, ele estava perto de outra pretendente, para quem já havia cumprido a primeira etapa de seu plano. Puxava assunto e daí a pouco estavam batendo papo. Ele acurava os sentidos para gravar bem o que ela cantasse ao seu ouvido.
Terceira etapa do plano: repetir, como se fosse seu, tudo o que ela havia lhe contado.
Giuliano não sabia de muita coisa, mas, as suas pretendentes, inexplicavelmente, tratavam dos mesmos assuntos, o que tornava a coisa fácil.
A quarta etapa de seu plano era mais complicada. Ele era dessa espécie que gostava de sexo a toda hora, porém, não gostava do modo convencional, ou seja, da maneira pregada pela Igreja e seus doutores. Assunto que, na opinião dele, deviam guardar silêncio obsequioso, sob pena de revelarem que não respeitavam seus votos.
Gostava de fazer sexo em público e de usar um certo instrumento de tortura. Além disso, fidelidade era alguma coisa impossível para ele. É certo que não estava nem aí para o uso do preservativo. Nisso, ele estava do lado da Igreja. Achava que sexo era para ser feito e se desse resultado, ótimo. Não tinha qualquer responsabilidade para com a prole. Era um pai desnaturado. Nem sabia quantos filhos havia posto no mundo.
Havia uma figura interessante no pedaço. Uma figura verdadeiramente encantadora. Só sabia que ela se chamava Rosa e que ela gostava de comer flores. Surpreendera-a roubando as pétalas de uma roseira num canteiro do passeio público. Todavia, ela nem se agitou, nem o notou.
– Que figura estranha! - Concluiu Giuliano.
Não olhar para ele já era razão suficiente para que a considerasse uma estranha.
Observou que ela se importava mais com as flores, com as abelhas, com as formigas, do que com os seres de sua espécie.
– Quecriatura excêntrica. É a mais estranha de todas elas. Já sei. A Rosa é uma panteísta.
Giuliano concluiu fazendo um grande esforço de inteligência.
– Agora tem essa moda. Só falta ela me contar que é lésbica. – Ele pensou meio decepcionado.
No entanto, Rosa não tinha nada de panteísta. Ia recolhendo os bichinhos. Matava-os e, o que era pior: comia-os!
Giuliano aproximou-se de Rosa com uma sensação estranha. Parecia que seu poder de sedução havia desaparecido. Mesmo assim, perguntou educadamente:
– Por que a senhorita não come o que todo mundo come, senhorita? - Repeitu o pronome de tratamento tentando impressioná-la.
Dando uma rebolada e sem se dar ao trabalho de levantar os olhos, ela devolveu a pergunta:
– O que ocê perguntou pra mim, seu moço?
Ela tinha um sotaque estranho. Engolia as letras e arrastava muito o erre. Ele observou.
– Por que a senhorita não come o que todo mundo come? – Giuliano repetiu pacientemente.
– Uai, e tem comida mais gostosa do que esta?! Eu sou uma caipira, comprende? Aquilo que ocês come é ração.
Giuliano se surpreendeu muito com a resposta. Ao contrário do que poderia nos parecer, ele ficou mais encantado com ela. Era a primeira vez que alguém lhe dizia algo novo. Embora fosse uma bobagem.
Ele ficou meditando um pouco por ali. Rosa virou-lhe as costas e continuou seu passeio pelo jardim, contente da vida.
Então, Giuliano voltou para as suas pretendentes. Afinal perdera tanto tempo com Rosa que não tivera ocasião de pôr em prática , naquele dia, a última parte do seu plano. A mais sofisticada.
Naquele momento, ele tinha que ser ágil, valente. Preciso como um atirador.
Avistou no outro lado do jardim uma donzela branquinha. Ele preferia as de cores mais chamativas às branquelas. Ele ouviu algum ruído sobre a raça delas. Alguma coisa negativa. Mas, ela estava ali, melancólica! Parecia um ser extraviado. Sentiu que não podia se negar àquela gentileza.
Aproximou-se. Ela tentou se esquivar, pois já sabia como era. Gritou e se assanhou. Porém, antes que tivesse tempo de escapar, Giuliano enfiou duas esporas nas suas costelas. Agarrou-a, e, num segundo, dominou-a.
No mesmo instante, entrou ali a dona de Giuliano, que o pegou no flagra. Sem uma gota de ciúmes e, como se acabasse de ver a coisa mais natural do mundo, entre gargalhadas, ela desafiou-o:
– Giuliano, seu galo bobão! Só consegue pegar essa galinha de granja! Duvido que pegue a galinha rosa. Assim vai me dar prejuízo. Vou diminuir a sua ração, seu falso garanhão!

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