quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

O que você está lendo?

O que você está lendo? Refiro-em a que livro, pois, neste momento você deve estar lendo esta página.
Eu estou lendo “Beppo”, de Lord Byron. Mas ainda não estou pronta para escrever sobre essa obra, que, diga-se, é divertidíssima. Quero hoje escrever sobre Freud, sobre quem eu li há alguns meses e sempre estou voltando, como quem tem sede e volta à mesma fonte.
Uma das coisas que mais me impressionam na biografia de Freud foi a quantidade de cartas que ele trocou. Ele era um correspondente leal e assíduo. Muitas das suas amizades iniciaram-se por cartas, como foi o caso de Jung.
Certamente, na época dele, o problema da escassez de tempo já existia, mas não tão intenso como nos nossos dias. Freud tinha outra relação com o tempo. Imagine que todos os dias, ele se sentava em seu gabinete, escritório, bireau, consultório (não sei) para escrever cartas aos amigos!
Ele tinha um grande amigo chamado Wilhelm Fliess, que também era médico, o qual era para ele uma espécie de alterego, pois eles se identificavam em tudo, até nas doenças! Esse homem admirável fez uma descoberta muito importante para a mulher e para toda a humanidade, ele descobriu os períodos da fecundidade, desvendando os mistérios da concepção. (Se essa informação estiver errada a culpa não é minha, li numa revista.) A partir daí, em tese, a mulher poderia se prevenir contra a gravidez indesejada. O próprio Freud quando soube da descoberta comemorou lamentando, entretanto, ter vindo um pouco tarde para ele, pois a sua esposa já estava grávida do sexto filho. Para Freud essa descoberta merecia uma placa de mármore. A partir daí, creio, que ele aproveitou a descoberta de seu amigo, pois Martha não mais engravidou. (Alguns dizem que, a partir dos 40 anos, Freud simplesmente parou de ter relações sexuais com a esposa, não sei como podem ter certeza disso.)
Mas voltando às cartas, as correspondências de Freud são verdadeiras obras de arte, são cheias de idéias, ensinamentos, afeto. Ele era um homem muito afetuoso, iniciava as cartas a seu mestre e amigo Joseph Breuer com os seguintes dizeres: “o mais estimado dos amigos e o mais amado dos homens”. Quem, em nossos dias, consegue falar assim a um amigo?
O amor dele por Martha Bernays, sua futura esposa, cresce com as cartas, cartas incansavelmente trocadas durante os quatro anos em que durou o noivado, no ritmo aproximado de uma carta por dia! Eram cartas extremamente amorosas, que refletiam não só o amor por ela, mas o turbilhão dos pensamentos que o atormentavam. Martha tornou-se para ele uma espécie de confidente.
Há um trecho de uma carta que ele escreveu pra ela que diz o seguinte: “É preciso que você me ame sem razão, como amam sem razão todos os que amam, simplesmente porque te amo.” Que homem romântico, não é?!
Freud conhece Martha em abril e em junho do mesmo ano ficam noivos, entretanto, até o casamento teve o longo noivado, período em que eles vivem um amor intenso, alimentado pelas cartas.
Sobre as cartas de Martha, Freud diz: “Você escreve com tanto acerto e inteligência que me assusta um pouco.” Não sei se ela era tão inteligente assim. Talvez sim ou talvez fosse apenas o elogio de um homem apaixonado.
Harold Bloom, presidente dos arquivos de Freud, disse, certa vez, que a correspondência entre Sigmund e Martha foi “a mais importante correspondência amorosa da cultura ocidental”.
E você, já trocou muitas cartas de amor?

Um comentário:

Karl Malak disse...

Gostei de ver que vc entrou a toda! Considere-me como seu leitor habitual (tentei "abitual", não deu. Achei então que era "abtual", ficou mais esquisito ainda - daí caiu a ficha...)
Depois, comentamos em mais detalhes. Beijos.