terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Resta-me...

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite." Assim começa Neruda o seu poema. Tão lindo esse verso! Se eu houvesse escrito: "Beijar Albertine a transforma em uvas de jade..." "provar o gosto da rosa secreta que desabrocha das faces de Albertine." (Proust) Apenas essas duas frases eu já me sentiria feliz. Mas nada disso escrevi e hj me sinto incapaz de escrever um verso, (nunca fui boa de verso.)
Resta-me dizer o que escutam os meus ouvidos e o que os meus olhos vêem: um caminhão acaba de passar na rua, o gato come mastigando com ferocidade alegre a sua ração, os pássaros não estão cantando, não há vento batendo nas palmeiras do jardim, o sol não está brilhando. Vejo as helicônias vermelhas da minha janela. Ôpa, acabei de ouvir o bem-te-vi cantar. O portão da casa está aberto, apenas um dos gatos o vigia, achando que pode fazer alguma coisa pela minha segurança. Não precisa, gatinho! Deixa o povo entrar!
Mas agora, que surpresa! A palmeira começa a agitar vagarosamente suas palmas como a sinalizar para mim. Tão lentamente que parece uma carícia. E, lá no fundo do quintal, o meu galo cantou! Os bem-te-vis recomeçaram a cantar! E um beija-flor assobia, colhendo com prazer nectar de hibisco. Ô, animalzinho que admiro! Vive tão frugalmente e sua plumagem é tão linda!

3 comentários:

Karl Malak disse...

Fritz Perls dizia que o homem que conseguisse escrever deixando apenas fluir o que lhe estava dentro seria um gênio. Parece que para as mulheres isto é mais verdade ainda...

lena disse...

É tão lindo o que escreveste e tão delicado! que fico sem palavras a altura para dizer qualquer coisa...
Me ocorreu a sensação de quando se tá num mundo turbulento, cercado por uma paisagem urbana, repetitiva, e de repente, ao dobrar a esquina, se depara com uma linda flor, delicada, perdida numa paisagem cheia de vida, pedindo para ser amada, pois sua beleza não faz sentido se não tiver quem a aprecie, a cheire e queira dela cuidar...

disse...

!Hola!

hace días que tengo ganas de visitar el "toque de mel", pero és que me quedé sin internet. Ahora que lo conseguí, tengo para mi que he descubierto un tesoro encantado. Eso no és un toque de mel, sino una colmea llena. Entonces, me acuerdo desas palabritas de Nietzche: "É muito grande a tensão da minha nuvem; por entre os risos dos relâmpagos quero lançar granizo às profundidades" ... "sou uma selva e uma noite de escuras árvores; mas aquele que não temer a minha obscuridade encontrará sob os meus ciprestes sendas de rosas."