Boris era um gato da mais alta estirpe. Nascera na mesma rua onde nasceu o grande poeta Alejandro González da Silva, que teve a sorte de ser lido apenas pela caridade de alguns amigos e de algumas pessoas da família. Ali também nascera outra ilustre, Estela Vignolle, que era juíza, e que, por acaso, veio a ser a dona de Boris e pôs nele esse nome pomposo. Dizem que ali habitara um assassino, que nasceu em outro lugar e que matou o rapaz mais bonito da rua, para a infelicidade de Estela.
Foi no dia daquela tragédia que Estela encontrou Bóris passeando sozinho. Chamaram-lhe a atenção a sua pelagem amarela, laranja-escuro, recoberta com linhas tigradas, o seu caminhado alegre e o seu olhar simpático. Ainda era um gatito.
Quando ela o pegou no colo, ele fez um miadinho como se dissesse:
- Cuidado, seja mais delicada!
Depois de um instante, já estava ronronando tranqüilo. (Se existe uma coisa que os gatos sabem é em quem confiar.)
Quando chegou em casa encontrou um rival: um currupião cantor que partiu para cima dele com unhas e bico. O gatinho se encolheu assombrado e se enfiou detrás do sofá.
Depois dessa recepção calorosa, o gato cresceu pensando que aquele bichinho pequeno, colorido, que tinha o dorso amarelo, como ele, deveria ser a figura do que lhe ensinaram ser um cão.
O currupião nunca aceitou a amizade do Boris. Era muito convencido de seus dotes. Sabia cantar, assoviar e imitar os compassos do Hino Nacional, o que deixava seu Francisco, o dono do bichinho, muito orgulhoso.
O currupião escutava de mau humor os sons que o gato produzia e se pudesse falar, ele diria:
- Ô, Boris, cale a boca! Você não vai conseguir cantar nem do jeito de um tiziu que dirá com a minha perfeição!
Parece que o gato ouviu e topou o desafio. Foram meses, anos de treinamento solitário, sem maestro ou partitura. Toda vez que ele estava acordado, sim, pois Boris era um dorminhoco, e o currupião cantava, ele entrava no meio, o que deixava o passarinho muito irritado.
O currupião pulava em cima dele e dava-lhe uma bicada. Mas não adiantava. O gato era persistente e continuava:
- Corrô, corrô, corropião, pião, ão, ãããããããããããããããããããããããã.
Depois mudava de tom:
- fifiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. - Como se assobiasse.
Essas mudanças no comportamento do gato era motivo de diversão na casa, Estela dizia:
- Bóris, daqui a pouco vai nascer um bico na sua boca. Você está ficando bicudo, rapaz. Pare com essas vontades de ser cantor. Vá brincar de caçar mosquito!
Dentro daquele apartamento era a única espécie que ele podia caçar. Às vezes, aparecia uma mariposa, um besouro, e ele se embrenhava em feroz luta como se estivesse brigando com um leão. Porém, era só o currupião começar a cantar que ele se lembrava que ser cantor era muito mais divertido. Para se consolar, pensava:
- Pelo menos não tenho que acordar cedo feito esse maluco. Durmo até a hora que quiser, enquanto ele tem que despertar antes do sol nascer!
Estava cogitando sobre isso quando teve uma idéia. No dia seguinte, ele se levantou no mesmo instante em que o currupião iniciou sua cantoria, posicionou-se ao lado dele e começou a cantar.
Seu Francisco, que madrugava, imaginou que seu passarinho havia atraído uma fêmea. Foi à sacada esfregando as mãos de frio e de alegria. E com pasmo lá encontrou Bóris e o currupião cantando posicionados em direção ao nascente.
domingo, 27 de maio de 2007
sexta-feira, 25 de maio de 2007
Garimpeira
Ah, se eu pudesse escolher um ofício, seria garimpeira. Sairia garimpando os tesouros que estão por aí.
Hoje saí para garimpar. Encontrei tantos tesouros que terei que omitir alguns. Primeiro, encontrei um menino embolado numa rede amarela em cima de uma árvore. Eu o cumprimentei. Ele é meu amigo, mas nem sabemos o nome um do outro.
Eu gritei por ele, ao que ele se desenrolou da rede muito sorridente e foi logo me contando uma história. Disse que o meu cãozinho, o filhote da cachorra dele, o que eu havia escolhido, havia morrido. Notícia que me deixou muito triste. Explicou que eu fui infeliz em escolher o filhote mais magrinho e tímido, que vivia longe da ninhada. Eu lamentei, perguntei se ele havia chorado tal tragédia, mas ele me disse que não. Que pena! E imaginei um funeral para o cachorrinho. Mas ele já não estava mais ali.
Depois passei numa casa, onde havia inúmeras crianças e vi dois meninos iguais, guiando juntos um carrinho. Eles eram os seres mais lindos do mundo, morenos, olhos azuis, cabelos escuros e lisos. Logo conheci outro irmão deles. Era loiro dos olhos verdes, devia ter uns cinco anos. Por último conheci o quarto menino, o mais velho de todos e era bonito também.
Porém, os gêmeos eram os mais encantadores, magrinhos, com aqueles olhos azuis parecendo dois faroletes em contraste com o cabelo escuro.
Segui adiante. Desci o vale, passei pela cachoeira que não pode ser vista, mas ouvi a queda d'água, derramando-se tranqüila, harmoniosa, despreocupada de tudo em volta.
Lá embaixo do vale, encontrei o Gabriel, sobre quem fiz uma aposta com o meu sobrinho para adivinhar o nome. Eu gritei:
- Gabriel!
Ele respondeu:
- Oi!
Meu sobrinho ficou abismado porque acertei de primeira!
Gabriel tem três anos. É meigo e carinhoso como toda criança bem-amada. Prossegui, depois de uma afável troca de palavras e juras de amizade.
Parei numa construção feita de bambu e concreto, local que eu nunca vi gente e que sempre despertou a minha curiosidade. Ouvi um barulho e vi que hoje, os supostos donos estavam lá. Aproximei-me de um limoeiro que fica nos fundos e, como pretexto para conversa, eu pedi um limão.
O dono, que era um japonês muito simpático, concluí depois, autorizou-me a pegar quantos limões quisesse. Vendo sua simpatia, perguntei se podia entrar para ver a construção.
Lá encontrei um lindo tesouro: a Luíza, uma menina de quatro anos, alegre e comunicativa. Ela foi logo me contando tudo de seu fim de semana, chamando-me atenção para uma flor que, segundo ela, iria se abrir dali a um instante.
Ela tinha duas irmãs mais velhas: Clara e Alice. A primeira era tipicamente japonesa, a Alice era mais para branca, como a mãe. E Luíza, era bem mestiça, mas bem diferente dos pais, que eram corteses, porém pouco conversadores.
A Luíza, tenho certeza que, em tempos longínquos, fora minha filha.
E na volta, entre tantas coisas, "tinha uma pedra no meio do caminho", olhei para trás, mas não vi Drummond. E, notando que nenhum outro poeta se interessaria pela pedra, retirei-a do meio do caminho para que ninguém nela tropeçasse.
Hoje saí para garimpar. Encontrei tantos tesouros que terei que omitir alguns. Primeiro, encontrei um menino embolado numa rede amarela em cima de uma árvore. Eu o cumprimentei. Ele é meu amigo, mas nem sabemos o nome um do outro.
Eu gritei por ele, ao que ele se desenrolou da rede muito sorridente e foi logo me contando uma história. Disse que o meu cãozinho, o filhote da cachorra dele, o que eu havia escolhido, havia morrido. Notícia que me deixou muito triste. Explicou que eu fui infeliz em escolher o filhote mais magrinho e tímido, que vivia longe da ninhada. Eu lamentei, perguntei se ele havia chorado tal tragédia, mas ele me disse que não. Que pena! E imaginei um funeral para o cachorrinho. Mas ele já não estava mais ali.
Depois passei numa casa, onde havia inúmeras crianças e vi dois meninos iguais, guiando juntos um carrinho. Eles eram os seres mais lindos do mundo, morenos, olhos azuis, cabelos escuros e lisos. Logo conheci outro irmão deles. Era loiro dos olhos verdes, devia ter uns cinco anos. Por último conheci o quarto menino, o mais velho de todos e era bonito também.
Porém, os gêmeos eram os mais encantadores, magrinhos, com aqueles olhos azuis parecendo dois faroletes em contraste com o cabelo escuro.
Segui adiante. Desci o vale, passei pela cachoeira que não pode ser vista, mas ouvi a queda d'água, derramando-se tranqüila, harmoniosa, despreocupada de tudo em volta.
Lá embaixo do vale, encontrei o Gabriel, sobre quem fiz uma aposta com o meu sobrinho para adivinhar o nome. Eu gritei:
- Gabriel!
Ele respondeu:
- Oi!
Meu sobrinho ficou abismado porque acertei de primeira!
Gabriel tem três anos. É meigo e carinhoso como toda criança bem-amada. Prossegui, depois de uma afável troca de palavras e juras de amizade.
Parei numa construção feita de bambu e concreto, local que eu nunca vi gente e que sempre despertou a minha curiosidade. Ouvi um barulho e vi que hoje, os supostos donos estavam lá. Aproximei-me de um limoeiro que fica nos fundos e, como pretexto para conversa, eu pedi um limão.
O dono, que era um japonês muito simpático, concluí depois, autorizou-me a pegar quantos limões quisesse. Vendo sua simpatia, perguntei se podia entrar para ver a construção.
Lá encontrei um lindo tesouro: a Luíza, uma menina de quatro anos, alegre e comunicativa. Ela foi logo me contando tudo de seu fim de semana, chamando-me atenção para uma flor que, segundo ela, iria se abrir dali a um instante.
Ela tinha duas irmãs mais velhas: Clara e Alice. A primeira era tipicamente japonesa, a Alice era mais para branca, como a mãe. E Luíza, era bem mestiça, mas bem diferente dos pais, que eram corteses, porém pouco conversadores.
A Luíza, tenho certeza que, em tempos longínquos, fora minha filha.
E na volta, entre tantas coisas, "tinha uma pedra no meio do caminho", olhei para trás, mas não vi Drummond. E, notando que nenhum outro poeta se interessaria pela pedra, retirei-a do meio do caminho para que ninguém nela tropeçasse.
domingo, 20 de maio de 2007
Do que aconteceu com o Pintagol de Beatriz
Alice colocou o corpo do pintagol sobre a cama de Beatriz. Fechou a porta do quarto, foi para a sala e sentou-se em frente à televisão.
Beatriz entrou e cumprimentou a amiga com um sorriso.
- Bia, o passarinho pegou o gato. - Disse Alice como se acabasse de ver uma pulga dando um salto.
- Como?!
- Não. Eu quis dizer o contrário.
- Oh, não! O meu pintagol?! - Alice confirmou com a cabeça. Beatriz deixou os livros caírem no chão.
- Eu vou matar esse gato!
- Bia, o animal não tem culpa de nada. É instinto.
- Alice, como consegue continuar assistindo a seu programa de tevê, quando o meu pintagol morreu! Isso é insuportável.
Beatriz, num ímpeto, desligou a televisão.
- Bia, pare de dar chilique. Um dia, ele ia morrer mesmo!
- Você não entende nada. Não sabe o quanto dói.
- Mas não precisa se vingar em mim.
- Está certa, Alice. Vou para o meu quarto.
Beatriz viu o frágil corpo estendido sobre sua cama, algumas gotas de sangue haviam tingido o lençol e desenhado uma rosa. Ela pegou o pintagol e o apertou com carinho contra o seu peito. Os olhos do animalzinho ainda estavam abertos. Ela os admirou, lembrando como eles piscavam e que não piscariam mais.
- E agora, eu te pergunto, meu pintagol, como vou despertar sem teu canto? Um gato enfiou as presas no teu peito delicado e num instante calou a tua voz. Para onde foi o teu canto? Ninguém sabe explicar. Deve existir um céu exclusivamente para ti. Para mim não sei se há.
Beatriz estava chorando muito. Mas, de repente, percebeu que estava deitada na sua cama, que o dia estava amanhecendo e que o pintagol estava cantando aos seus pés.
Levantou-se, enxugou as lágrimas do rosto, acariciou a cabeça do pintagol e lhe deu um beijinho.
- Desculpe, querido, dei muito trabalho para acordar?!
Beatriz entrou e cumprimentou a amiga com um sorriso.
- Bia, o passarinho pegou o gato. - Disse Alice como se acabasse de ver uma pulga dando um salto.
- Como?!
- Não. Eu quis dizer o contrário.
- Oh, não! O meu pintagol?! - Alice confirmou com a cabeça. Beatriz deixou os livros caírem no chão.
- Eu vou matar esse gato!
- Bia, o animal não tem culpa de nada. É instinto.
- Alice, como consegue continuar assistindo a seu programa de tevê, quando o meu pintagol morreu! Isso é insuportável.
Beatriz, num ímpeto, desligou a televisão.
- Bia, pare de dar chilique. Um dia, ele ia morrer mesmo!
- Você não entende nada. Não sabe o quanto dói.
- Mas não precisa se vingar em mim.
- Está certa, Alice. Vou para o meu quarto.
Beatriz viu o frágil corpo estendido sobre sua cama, algumas gotas de sangue haviam tingido o lençol e desenhado uma rosa. Ela pegou o pintagol e o apertou com carinho contra o seu peito. Os olhos do animalzinho ainda estavam abertos. Ela os admirou, lembrando como eles piscavam e que não piscariam mais.
- E agora, eu te pergunto, meu pintagol, como vou despertar sem teu canto? Um gato enfiou as presas no teu peito delicado e num instante calou a tua voz. Para onde foi o teu canto? Ninguém sabe explicar. Deve existir um céu exclusivamente para ti. Para mim não sei se há.
Beatriz estava chorando muito. Mas, de repente, percebeu que estava deitada na sua cama, que o dia estava amanhecendo e que o pintagol estava cantando aos seus pés.
Levantou-se, enxugou as lágrimas do rosto, acariciou a cabeça do pintagol e lhe deu um beijinho.
- Desculpe, querido, dei muito trabalho para acordar?!
quinta-feira, 17 de maio de 2007
"Imagina, coração, eu, 20 anos na Papuda"
"Imagina, coração, eu, 20 anos na Papuda".
Eu vi o homem segurando um papelão, onde estava escrito esse apelo em letras garrafais. Ele estava no semáforo, exposto moralmente ao sol escaldante do meio-dia, como se continuasse a expiar a sua pena. As rugas banhavam seu rosto assim como as bagas de suor. Porém, os seus olhos denotavam que ele ainda tinha muitos degraus para subir até a velhice.
Observei que ele era muito esguio. Nada da barriguinha acentuada que em geral têm os homens livres. Não me recordo se ele tinha cabelos brancos. Provavelmente não os possuía.
Ele estendeu aquela "faixa" para mim e me olhou com certa reverência. Havia mais palavras escritas no papelão, mas não deu tempo de ler.
Procurei umas moedas. Não, umas moedas seria um desrespeito. Dei-lhe uma cédula. Era de pouco valor, mas era uma cédula.
Ele me agradeceu em nome de Deus e partiu. Como não deu tempo de perguntar-lhe o nome, nem como era Deus, apelidei-o de Esmeraldo.
Agora ele está no seu encalço, como um fantasma, querendo contar-me a sua vida desgraçada, falar de suas misérias, de suas alegrias, de suas farras. Eu digo para ele:
- Paciência, Esmeraldo! Não me assusta, cara, que vinte anos na cadeia não é mole não. Vai ter que alugar meus ouvidos um bocado. Acalma-te, que minhas orelhas já estão esquentando.
Eu vi o homem segurando um papelão, onde estava escrito esse apelo em letras garrafais. Ele estava no semáforo, exposto moralmente ao sol escaldante do meio-dia, como se continuasse a expiar a sua pena. As rugas banhavam seu rosto assim como as bagas de suor. Porém, os seus olhos denotavam que ele ainda tinha muitos degraus para subir até a velhice.
Observei que ele era muito esguio. Nada da barriguinha acentuada que em geral têm os homens livres. Não me recordo se ele tinha cabelos brancos. Provavelmente não os possuía.
Ele estendeu aquela "faixa" para mim e me olhou com certa reverência. Havia mais palavras escritas no papelão, mas não deu tempo de ler.
Procurei umas moedas. Não, umas moedas seria um desrespeito. Dei-lhe uma cédula. Era de pouco valor, mas era uma cédula.
Ele me agradeceu em nome de Deus e partiu. Como não deu tempo de perguntar-lhe o nome, nem como era Deus, apelidei-o de Esmeraldo.
Agora ele está no seu encalço, como um fantasma, querendo contar-me a sua vida desgraçada, falar de suas misérias, de suas alegrias, de suas farras. Eu digo para ele:
- Paciência, Esmeraldo! Não me assusta, cara, que vinte anos na cadeia não é mole não. Vai ter que alugar meus ouvidos um bocado. Acalma-te, que minhas orelhas já estão esquentando.
Viriço, o curandeiro
- O Viriço tinha um ofício muito importante, sabia? Esqueci de te contar. - Disse minha mãe.
- Já sei. Ele era mágico. A senhora já me disse.
- Ele era curandeiro. Curava gente, curava bicho, curava árvore, curava até pedra, se duvidasse.
Um dia, meu pai foi procurar o Viriço para curar uma de suas melhores vacas. O Viriço lhe perguntou:
- Como é o nome de sua vaca, Joaquim?
Naquele tempo, todo animal era batizado. Meu pai lhe informou que a vaca era chamada de "Bonita".
- Onde ela está caída? - O Viriço perguntou. Meu pai apontou o rumo do mato onde a vaca estava prostrada.
- Vá para casa, Joaquim. Sua vaca já está se levantando.
Meu pai voltou lá e, para sua surpresa, encontrou a vaca boazinha, pastando tranqüila como se nunca tivesse sentido uma dor de cabeça. Por falar nisso, estou sentindo uma enxaqueca horrível.
- Então, mamãe, deixe-me rezar, pois nasci com os mesmos dons de Viriço.
Impus as mãos como uma beata sobre a testa da minha mãe e, com aquela seriedade dos palhaços, comecei a balangar os lábios, cuidando para que chiassem muito. Após alguns segundos, minha mãe, respirando fundo, exclamou:
- Que alívio, menina! Tu tens os dons do Viriço mesmo. Estou boazinha!
- Mamãe, a senhora não estava com dor de cabeça coisa nenhuma, pois eu não rezei nada, só fiquei batendo os beiços!
Minha mãe deu uma tapinha na bunda e disse:
- Ah, moleca, sem-vergonha! Engana até a própria mãe! Tomara que o Viriço hoje de noite venha puxar as tuas orelhas, viu?
- Ele pode vir. Tomara que aproveite para cochichar umas histórinhas aos meus ouvidos.
- Já sei. Ele era mágico. A senhora já me disse.
- Ele era curandeiro. Curava gente, curava bicho, curava árvore, curava até pedra, se duvidasse.
Um dia, meu pai foi procurar o Viriço para curar uma de suas melhores vacas. O Viriço lhe perguntou:
- Como é o nome de sua vaca, Joaquim?
Naquele tempo, todo animal era batizado. Meu pai lhe informou que a vaca era chamada de "Bonita".
- Onde ela está caída? - O Viriço perguntou. Meu pai apontou o rumo do mato onde a vaca estava prostrada.
- Vá para casa, Joaquim. Sua vaca já está se levantando.
Meu pai voltou lá e, para sua surpresa, encontrou a vaca boazinha, pastando tranqüila como se nunca tivesse sentido uma dor de cabeça. Por falar nisso, estou sentindo uma enxaqueca horrível.
- Então, mamãe, deixe-me rezar, pois nasci com os mesmos dons de Viriço.
Impus as mãos como uma beata sobre a testa da minha mãe e, com aquela seriedade dos palhaços, comecei a balangar os lábios, cuidando para que chiassem muito. Após alguns segundos, minha mãe, respirando fundo, exclamou:
- Que alívio, menina! Tu tens os dons do Viriço mesmo. Estou boazinha!
- Mamãe, a senhora não estava com dor de cabeça coisa nenhuma, pois eu não rezei nada, só fiquei batendo os beiços!
Minha mãe deu uma tapinha na bunda e disse:
- Ah, moleca, sem-vergonha! Engana até a própria mãe! Tomara que o Viriço hoje de noite venha puxar as tuas orelhas, viu?
- Ele pode vir. Tomara que aproveite para cochichar umas histórinhas aos meus ouvidos.
P.S. Imagem - auto-retrado de Paul Gauguin
O Pintagol de Beatriz
Contaram-me, mas não apurei, que um canário quando se enamora de um pintassilgo, jamais aceita outro amante. É amor eterno. Não há canário belga, dos Açores, ou canário-da-terra-brasileira ou das Ilhas Canárias, que consiga obter novamente o seu amor. (Deus me livre de me apaixonar por um pintassilgo!)
Do cruzamento do canário com o pintassilgo nasce uma ave mais linda do que os seus pais: o pintagol. Seu canto é doce, persistente, alegre e vivaz. Quando ele canta parece que mil pássaros invisíveis a ele se juntam.
Beatriz possui um pintagol. Ele vive solto pela casa, saltitando ou se exibindo em pequenos vôos até se empoleirar no ombro dela.
Todos os dias de manhã, ele canta para acordá-la. Enquanto ela não desperta, ele não pára a cantoria.
Do cruzamento do canário com o pintassilgo nasce uma ave mais linda do que os seus pais: o pintagol. Seu canto é doce, persistente, alegre e vivaz. Quando ele canta parece que mil pássaros invisíveis a ele se juntam.
Beatriz possui um pintagol. Ele vive solto pela casa, saltitando ou se exibindo em pequenos vôos até se empoleirar no ombro dela.
Todos os dias de manhã, ele canta para acordá-la. Enquanto ela não desperta, ele não pára a cantoria.
Quando ela entra no banheiro, ele fica colado à porta cantando até ela sair de lá.
Ela sai meio apressada, com a toalha cobrindo-lhe o corpo até o colo. O Pintagol canta um pouquinho em gratidão. Depois fica em silêncio aguardando ansioso o momento em que Beatriz se desvencilha da toalha.
Ele voa até o criado-mudo e fica calado contemplando em detalhes aquela criatura grande que ele tanto ama. (Parece que igual fenômeno acontece ao pintagol. Quando ele se apaixona por um ser humano, esquece os outros pássaros. Pelo menos foi isso o que aconteceu com o pintagol de Beatriz.)
Beatriz tem o corpo delicado e bem feito. Seus cabelos dourados caem-lhe até os seios e seu umbigo parece um pequenino botão de rosa. O pintagol observa-a deslizando a mão cheia de creme pelo corpo. Ele ergue e abaixa a sua pequena cabeça em concentrado movimento. E, quando Beatriz puxa os cabelos para trás e as duas taças de seus seios se revelam, o pintagol reinicia seu canto, como se acabasse de ver o sol.
Ela sai meio apressada, com a toalha cobrindo-lhe o corpo até o colo. O Pintagol canta um pouquinho em gratidão. Depois fica em silêncio aguardando ansioso o momento em que Beatriz se desvencilha da toalha.
Ele voa até o criado-mudo e fica calado contemplando em detalhes aquela criatura grande que ele tanto ama. (Parece que igual fenômeno acontece ao pintagol. Quando ele se apaixona por um ser humano, esquece os outros pássaros. Pelo menos foi isso o que aconteceu com o pintagol de Beatriz.)
Beatriz tem o corpo delicado e bem feito. Seus cabelos dourados caem-lhe até os seios e seu umbigo parece um pequenino botão de rosa. O pintagol observa-a deslizando a mão cheia de creme pelo corpo. Ele ergue e abaixa a sua pequena cabeça em concentrado movimento. E, quando Beatriz puxa os cabelos para trás e as duas taças de seus seios se revelam, o pintagol reinicia seu canto, como se acabasse de ver o sol.
quarta-feira, 16 de maio de 2007
O Carrão de Caio
-Vrunvrum, vrum, vruuuuuuuuuuuuum...
Era Caio guiando seu carro em alta velocidade.
- Quer uma carona, Estefânia? - Disse ele puxando o freio bruscamente, parando próximo à sua irmã, que estava brincando de amarelinha.
- Aceito. Mas vê se dirige com cuidado.
Estefânia segurou na cintura de Caio. Ele meteu a primeira marcha e o carro arrancou de vez.
- Ai, que esse carro me acaba!
Reclamou Estefânia sentindo um solavanco.
- Segura o cinto, Estefânia. Deixa de ser mole! Eu sou o melhor motorista do mundo!
- Cuidado, Caio, você quer atropelar as galinhas?
-Ah, Fani, como você é medrosa! Isso me dá frouxos de risos.
Caio sorria emocionado, sentindo o gosto da rapidez de seu veículo.
-Devagar, Caio, senão eu vou acabar caindo.
-Vrum, vrum, vruuuuuuuuuuuuum. - Eles continuaram.
- Caioooooo!
Eles ouviram um grito.
- Caio, é a mamãe. Pare agora. - Ordenou Estefânia, valendo-se de seu lugar de primogênita.
- Péra, Fani. Sabe como é carro novo... o freio demora a pegar. Vrunvrum, vruuuuu, vruuuuu...
O carro foi perdendo o fôlego até que morreu.
A mãe de Caio se aproximou com as duas mãos na cintura, com ar arrebatado e muito nervosa.
- Caio, me dá aqui a tampa da panela, moleque. Me dá também a minha colher de pau. Deixou a minha a panela descoberta e ainda por cima levou a colher de mexer o feijão!
A mãe de Caio tomou a barra da direção e o câmbio da marcha do carro. O veículo se desmontou num instante. O menino ficou a pé.
Estefânia o consolou:
- Ah, esse carro não prestava mesmo! Vamos voar de avião. É melhor!
Era Caio guiando seu carro em alta velocidade.
- Quer uma carona, Estefânia? - Disse ele puxando o freio bruscamente, parando próximo à sua irmã, que estava brincando de amarelinha.
- Aceito. Mas vê se dirige com cuidado.
Estefânia segurou na cintura de Caio. Ele meteu a primeira marcha e o carro arrancou de vez.
- Ai, que esse carro me acaba!
Reclamou Estefânia sentindo um solavanco.
- Segura o cinto, Estefânia. Deixa de ser mole! Eu sou o melhor motorista do mundo!
- Cuidado, Caio, você quer atropelar as galinhas?
-Ah, Fani, como você é medrosa! Isso me dá frouxos de risos.
Caio sorria emocionado, sentindo o gosto da rapidez de seu veículo.
-Devagar, Caio, senão eu vou acabar caindo.
-Vrum, vrum, vruuuuuuuuuuuuum. - Eles continuaram.
- Caioooooo!
Eles ouviram um grito.
- Caio, é a mamãe. Pare agora. - Ordenou Estefânia, valendo-se de seu lugar de primogênita.
- Péra, Fani. Sabe como é carro novo... o freio demora a pegar. Vrunvrum, vruuuuu, vruuuuu...
O carro foi perdendo o fôlego até que morreu.
A mãe de Caio se aproximou com as duas mãos na cintura, com ar arrebatado e muito nervosa.
- Caio, me dá aqui a tampa da panela, moleque. Me dá também a minha colher de pau. Deixou a minha a panela descoberta e ainda por cima levou a colher de mexer o feijão!
A mãe de Caio tomou a barra da direção e o câmbio da marcha do carro. O veículo se desmontou num instante. O menino ficou a pé.
Estefânia o consolou:
- Ah, esse carro não prestava mesmo! Vamos voar de avião. É melhor!
quarta-feira, 9 de maio de 2007
Dica: Como conseguir um atestado de doido!
Beatriz escutou um ruído estranho. Olhou no relógio e verificou que eram três horas da manhã. Se fosse um ladrão, que levasse as coisas, pois estava morrendo de sono.
De repente, acenderam a luz em frente ao seu quarto.
- Que ladrão audacioso! - Ela pensou num desmaio. - Só falta ele puxar a descarga.
Pois foi o que aconteceu. Beatriz se arrepiou, imediatamente seu sono se foi. O ladrão era um cara metido. Atrevera-se entrar no seu banheiro e agora estava escovando os dentes e fazendo bochecho. Era demais! O melhor era ficar quieta. Ainda bem que ele se engasgara, estava tossindo.
- Bem feito!
Mas aquela tosse, ela conhecia muito bem. Levantou-se de um salto e encontrou um homem no banheiro fazendo a barba.
- Tio, o que o senhor está fazendo?
- A barba. Não está vendo?!
- Para quê?
- Para ficar barbeado, é lógico!
O tio de Beatriz era matemático e detestava perguntas obvias.
- E pra onde o senhor vai com essa maleta?
- Para o trabalho. É evidente!
- Tio, são três e meia da manhã! Se o senhor chegar lá no seu trabalho a essa hora vão lhe dar um atestado...
- Três e meia da manhã?! Tem certeza? Mas eu ouvi os passarinhos cantando.
- Eu acho que o senhor sonhou.
Ele olhou pela persiana, apreciou a escuridão e, dando risada, concluiu:
- É! Eu acho que vou é aproveitar pra ver se pego logo esse atestado de doido!
De repente, acenderam a luz em frente ao seu quarto.
- Que ladrão audacioso! - Ela pensou num desmaio. - Só falta ele puxar a descarga.
Pois foi o que aconteceu. Beatriz se arrepiou, imediatamente seu sono se foi. O ladrão era um cara metido. Atrevera-se entrar no seu banheiro e agora estava escovando os dentes e fazendo bochecho. Era demais! O melhor era ficar quieta. Ainda bem que ele se engasgara, estava tossindo.
- Bem feito!
Mas aquela tosse, ela conhecia muito bem. Levantou-se de um salto e encontrou um homem no banheiro fazendo a barba.
- Tio, o que o senhor está fazendo?
- A barba. Não está vendo?!
- Para quê?
- Para ficar barbeado, é lógico!
O tio de Beatriz era matemático e detestava perguntas obvias.
- E pra onde o senhor vai com essa maleta?
- Para o trabalho. É evidente!
- Tio, são três e meia da manhã! Se o senhor chegar lá no seu trabalho a essa hora vão lhe dar um atestado...
- Três e meia da manhã?! Tem certeza? Mas eu ouvi os passarinhos cantando.
- Eu acho que o senhor sonhou.
Ele olhou pela persiana, apreciou a escuridão e, dando risada, concluiu:
- É! Eu acho que vou é aproveitar pra ver se pego logo esse atestado de doido!
terça-feira, 8 de maio de 2007
Passarinho Branquinho!
- Passarinho branquinho!
- Não mexa. Isso é urubu!
Conheço um cara muito corajoso. Ele segura cascavel pela presa e onça pelo pescoço. Ele já pegou até em filhote de urubu.
Dizendo ele que os bichinhos são lindos. Branquinhos e plumosos. E que o ninho cheira muito... muito mal!
Explicou-me que o urubu vomita diante do cheiro humano.
Para o urubuzinho ser humano cheiroso é ser humano morto!
- Não mexa. Isso é urubu!
Conheço um cara muito corajoso. Ele segura cascavel pela presa e onça pelo pescoço. Ele já pegou até em filhote de urubu.
Dizendo ele que os bichinhos são lindos. Branquinhos e plumosos. E que o ninho cheira muito... muito mal!
Explicou-me que o urubu vomita diante do cheiro humano.
Para o urubuzinho ser humano cheiroso é ser humano morto!
Histórias Ouvidas no Terreiro do Tamanduá I
Tamanduá, como todos sabem, é o nome de um animal esquisito, da língua comprida, que vive papando as formigas e que é o terror dos cupins. Mas não é dele que vou contar. Vou contar de uma fazenda velha. Nenhuma semelhança com as "fazendas" de quem mora na cidade. Era fazenda com casa de adobe, piso de ladrilho, varanda com peitoril, terreiro grande e varrido, fogão à lenha, lamparina. Redes pelos quartos e pela varanda. Paiol para guardar o legume, aprisco para as cabras, curral para as vacas. Com uma árvore grande no terreiro para dar sombra de dia e atrair as assombrações de noite.
Essa fazenda tinha o nome de Tamanduá. Era um dos lugares mais isolados do mundo. Na época em que havia gente morando lá, quando se ouvia barulho de carro, uma vez no ano, no máximo, aquilo era um acontecimento. Também não havia estrada, nem caminho que pudesse ser construído. Nunca vi lugar ter mais pedras no caminho.
A vantagem é que a vida lá continua rural, pastoril. Não há luz elétrica, água encanada. O estreito caminho se ematou. A casa está abandonada! Só as cabras insistem em habitá-la. Tomam-lhe de conta os fantasmas.
À noite, ouvia-se muitas histórias no terreiro do Tamanduá. Sentávamos debaixo da árvore em nossas cadeiras feitas de couro de boi, acendíamos uma fogueira para espantar os muruim, que eram as piores assombrações. O urutau cantava:
- Flor, flor, flor!
- Mamãe, por que aquele passarinho canta assim? - Perguntava Maria, a menina mais nova,
que tinha seis anos.
- Ah! Aquele passarinho é a mãe da lua. Ela canta chamando o esposo dela. O nome dele é Flor.
- E ele não responde?
- Não. Ele partiu. Ele a abandonou. Sumiu no mundo e nunca mais ninguém o viu.
- Que pai ruim! Como pôde fazer isso?! Mesmo tendo uma filha tão bonita e tão famosa! Mesmo assim, abandonou a mãe. - Maria Lastimou.
- Aposto que arranjou outra! - Completou Tasso, em tom irônico, o filho mais velho.
- Mamãe, por que será que ela não pára de chamar por ele? - Continou a menina.
- Porque ela não sabe que ele não vai voltar.
- É a esperança! A tal esperança que a faz cantar. - Meteu-se a mais velha entre as meninas, que esquentava as mãos na fogueira.
- A esperança é boa, filha. Assim, ela tem motivos para cantar. - Ensinou a mãe.
- Para mim, ela chora. E esse marido dela fez escola porque agora tem um monte de homem largando a mulher e indo embora. - Completou a filha mais velha, pensando no seu pai que há muito tempo havia partido.
O urutau também quis participar e encerrou aquela discussão lamentando:
- Flor, Flor, Flor...
Essa fazenda tinha o nome de Tamanduá. Era um dos lugares mais isolados do mundo. Na época em que havia gente morando lá, quando se ouvia barulho de carro, uma vez no ano, no máximo, aquilo era um acontecimento. Também não havia estrada, nem caminho que pudesse ser construído. Nunca vi lugar ter mais pedras no caminho.
A vantagem é que a vida lá continua rural, pastoril. Não há luz elétrica, água encanada. O estreito caminho se ematou. A casa está abandonada! Só as cabras insistem em habitá-la. Tomam-lhe de conta os fantasmas.
À noite, ouvia-se muitas histórias no terreiro do Tamanduá. Sentávamos debaixo da árvore em nossas cadeiras feitas de couro de boi, acendíamos uma fogueira para espantar os muruim, que eram as piores assombrações. O urutau cantava:
- Flor, flor, flor!
- Mamãe, por que aquele passarinho canta assim? - Perguntava Maria, a menina mais nova,
que tinha seis anos.
- Ah! Aquele passarinho é a mãe da lua. Ela canta chamando o esposo dela. O nome dele é Flor.
- E ele não responde?
- Não. Ele partiu. Ele a abandonou. Sumiu no mundo e nunca mais ninguém o viu.
- Que pai ruim! Como pôde fazer isso?! Mesmo tendo uma filha tão bonita e tão famosa! Mesmo assim, abandonou a mãe. - Maria Lastimou.
- Aposto que arranjou outra! - Completou Tasso, em tom irônico, o filho mais velho.
- Mamãe, por que será que ela não pára de chamar por ele? - Continou a menina.
- Porque ela não sabe que ele não vai voltar.
- É a esperança! A tal esperança que a faz cantar. - Meteu-se a mais velha entre as meninas, que esquentava as mãos na fogueira.
- A esperança é boa, filha. Assim, ela tem motivos para cantar. - Ensinou a mãe.
- Para mim, ela chora. E esse marido dela fez escola porque agora tem um monte de homem largando a mulher e indo embora. - Completou a filha mais velha, pensando no seu pai que há muito tempo havia partido.
O urutau também quis participar e encerrou aquela discussão lamentando:
- Flor, Flor, Flor...
sexta-feira, 4 de maio de 2007
O homem queria ver o Fundo!
Um auditor fiscal chegou numa empresa e, se apresentando para a jovem secretária, disse:
- Eu quero ver o fundo.
A moça olhou atravessado, pegou o telefone e ligou para a chefe:
- Doutora Elizabete, tem um homem aqui na recepção dizendo que quer ver o fundo!
A secretária estranhou quando ouviu a diretora autorizar o ingresso daquele cidadão.
O auditor cumprimentou a empresária e, com aquela precisão própria de seu ofício, ordenou:
- Abra o fundo. Eu quero ver tudo!
- Pois não. É aquela senhora ali a responsável pelo fundo.
Respondeu prontamente a diretora indicando uma velhinha, que só não caíra na aposentadoria compulsória porque não estava no serviço público.
Sorrindo com os seus dentes hígidos, todos os três, ela se levantou de um ímpeto e já ia arriando as calças. Tomando um susto, o auditor a interrompeu:
-Calma, senhora. Quero ver o fundo... o fundo de investimentos!
- Eu quero ver o fundo.
A moça olhou atravessado, pegou o telefone e ligou para a chefe:
- Doutora Elizabete, tem um homem aqui na recepção dizendo que quer ver o fundo!
A secretária estranhou quando ouviu a diretora autorizar o ingresso daquele cidadão.
O auditor cumprimentou a empresária e, com aquela precisão própria de seu ofício, ordenou:
- Abra o fundo. Eu quero ver tudo!
- Pois não. É aquela senhora ali a responsável pelo fundo.
Respondeu prontamente a diretora indicando uma velhinha, que só não caíra na aposentadoria compulsória porque não estava no serviço público.
Sorrindo com os seus dentes hígidos, todos os três, ela se levantou de um ímpeto e já ia arriando as calças. Tomando um susto, o auditor a interrompeu:
-Calma, senhora. Quero ver o fundo... o fundo de investimentos!
quinta-feira, 3 de maio de 2007
A Vingança
Ontem contei como descobri o segredo do bundex da minha vizinha. Grande descoberta! Você pode concluir. Mas o negócio do bundex está movimentando o mercado.
Eu estava numa dessas lojas de departamento, quando vi uma moça aproximar-se da vendedora e discretamente perguntar pelo objeto.
- O bundex?!
A vendedora exclamou elevando a voz, deixando a potencial compradora arrepiada.
- Sim. Tu sabes que tamanho serve pra mim? - Disse num tom baixinho.
- Eu não faço idéia!
Respondeu a vendedora sem muito entusiasmo. Certamente, não recebia por comissão.
- Vou chamar a responsável pelo setor.
De repente surgiu uma magricela arrebitada correndo de patinetes. Era a encarregada.
- Eliane, que tamanho serve para ela? - A vendedora perguntou.
- Qual é o tamanho do teu Rafaela? - Perguntou a encarregada para a vendedora.
- Do meu?! Mas, eu não uso. Quem usa é você!
Observei que elas tinham certo pudor em dizer o nome do objeto.
- Usa sim. - Afirmou Eliane encerrando o assunto.
- Moça, leve o 46 que é o tamanho que a Rafaela usa. Está de bom tamanho para você?
Sugeriu a encarregada apontando para o bumbum da outra.
Mas a moça ficou envergonhada e nada respondeu, pois ao seu redor se juntara um monte de mulheres interessadas no objeto.
Mas, voltando ao passado, no dia seguinte ao que descobri que existia tal objeto, surgiu a oportunidade da vingança.
Eu e minha vizinha fomos almoçar juntas num desses services-selfs típicos de Brasília e do restante do planeta.
Servi arroz, feijão, macarrão, frango, salada, batata frita, torresmo, etc. Servi suco e ainda peguei uma jaca para comer de sobremesa.
Meu prato estava aquela montanha. Parecia um prato de servente de pedreiro. Para completar, pedi mais um ovinho frito.
No prato da minha vizinha havia apenas uma alface perdida no meio de uns grãozinhos de arroz e um filete de frango.
Sentamos à mesa. Ela se benzeu, não sei se por causa do meu prato. Enquanto isso, eu lancei a mão ao garfo. De repente, ela me perguntou:
- Como consegue ser magra desse jeito?
- É genética! - Respondi.
Eu estava numa dessas lojas de departamento, quando vi uma moça aproximar-se da vendedora e discretamente perguntar pelo objeto.
- O bundex?!
A vendedora exclamou elevando a voz, deixando a potencial compradora arrepiada.
- Sim. Tu sabes que tamanho serve pra mim? - Disse num tom baixinho.
- Eu não faço idéia!
Respondeu a vendedora sem muito entusiasmo. Certamente, não recebia por comissão.
- Vou chamar a responsável pelo setor.
De repente surgiu uma magricela arrebitada correndo de patinetes. Era a encarregada.
- Eliane, que tamanho serve para ela? - A vendedora perguntou.
- Qual é o tamanho do teu Rafaela? - Perguntou a encarregada para a vendedora.
- Do meu?! Mas, eu não uso. Quem usa é você!
Observei que elas tinham certo pudor em dizer o nome do objeto.
- Usa sim. - Afirmou Eliane encerrando o assunto.
- Moça, leve o 46 que é o tamanho que a Rafaela usa. Está de bom tamanho para você?
Sugeriu a encarregada apontando para o bumbum da outra.
Mas a moça ficou envergonhada e nada respondeu, pois ao seu redor se juntara um monte de mulheres interessadas no objeto.
Mas, voltando ao passado, no dia seguinte ao que descobri que existia tal objeto, surgiu a oportunidade da vingança.
Eu e minha vizinha fomos almoçar juntas num desses services-selfs típicos de Brasília e do restante do planeta.
Servi arroz, feijão, macarrão, frango, salada, batata frita, torresmo, etc. Servi suco e ainda peguei uma jaca para comer de sobremesa.
Meu prato estava aquela montanha. Parecia um prato de servente de pedreiro. Para completar, pedi mais um ovinho frito.
No prato da minha vizinha havia apenas uma alface perdida no meio de uns grãozinhos de arroz e um filete de frango.
Sentamos à mesa. Ela se benzeu, não sei se por causa do meu prato. Enquanto isso, eu lancei a mão ao garfo. De repente, ela me perguntou:
- Como consegue ser magra desse jeito?
- É genética! - Respondi.
quarta-feira, 2 de maio de 2007
O Segredo do Bundex
Há muito tempo, eu desconfiava da minha vizinha. Ela era tão magricela quanto consigo ser, porém, possuía a bunda grande e empinada. Curiosamente e me utilizando daquela discrição típica da conversação feminina, eu a interroguei:
- Pode me explicar como consegue ter essa bunda?
A esperta me respondeu sem titubear:
- É genética!
Nesse caso, restava-me a resignação.
Um dia, eu vi em cima do canteiro de buganville de flores alaranjadas um objeto curioso.
Eu estava justamente conversando com minha vizinha, recostada no parapeito da sacada do meu apartamento. Notando, de repente, aquele objeto de mau gosto exposto ao público, exclamei:
- Que coisa horrorosa é aquela? Parece uma calcinha absorvente!
A vizinha perdeu o fio da meada da história que estava me contando. Inventou uma desculpa e escapuliu.
Eu fui cuidar da minha vida. Fui ler um livro. Mas, aquela curiosidade besta não me deixava em paz. Desci até o jardim. Mas lá encontrei somente as flores do buganvile. Nada do curioso objeto.
Quando minha irmã chegou em casa, eu comentei:
- Hoje eu vi uma calçola recheada estendida sobre o canteiro de bouganvile! Acredita?
- Claro! É da vizinha! Ela deve ter estendido na janela e o vento derrubou. Avisa pra ela!
- Da vizinha?! Mas a tal calçola não está mais lá.
- Será que alguém pegou?
Minha irmã começou a sorrir.
- Eu vou te contar. Ela me pediu para eu não te dizer. Mas agora não tem mais jeito. Aquilo é o recheio da bunda dela!
- O quê?!
- É uma calcinha com enchimento. Ela inventou. A propósito, ela me deu uma de presente!
- Ah, é? E para mim, ela só faz mentir.
- Pois é, ela tem vergonha de ti. Mas ela é gente boa. Deu até uma para a mamãe!
- Menina, pelo amor de Deus, não vai contar para os outros que tua mãe usa um bundex.
Interveio minha mãe entre o riso e a vergonha.
- Bundex? - Perguntei espantada. - Já tem até nome? Só falta patentear, pois garanto que, pelo rumo, vai fazer muito sucesso.
Isso aconteceu há alguns anos. A boba da minha vizinha não patenteou a sua invenção. A idéia se espalhou e virou uma febre.
Agora, não precisa da genética. É só comprar um bundex! Está em liquidação!
- Pode me explicar como consegue ter essa bunda?
A esperta me respondeu sem titubear:
- É genética!
Nesse caso, restava-me a resignação.
Um dia, eu vi em cima do canteiro de buganville de flores alaranjadas um objeto curioso.
Eu estava justamente conversando com minha vizinha, recostada no parapeito da sacada do meu apartamento. Notando, de repente, aquele objeto de mau gosto exposto ao público, exclamei:
- Que coisa horrorosa é aquela? Parece uma calcinha absorvente!
A vizinha perdeu o fio da meada da história que estava me contando. Inventou uma desculpa e escapuliu.
Eu fui cuidar da minha vida. Fui ler um livro. Mas, aquela curiosidade besta não me deixava em paz. Desci até o jardim. Mas lá encontrei somente as flores do buganvile. Nada do curioso objeto.
Quando minha irmã chegou em casa, eu comentei:
- Hoje eu vi uma calçola recheada estendida sobre o canteiro de bouganvile! Acredita?
- Claro! É da vizinha! Ela deve ter estendido na janela e o vento derrubou. Avisa pra ela!
- Da vizinha?! Mas a tal calçola não está mais lá.
- Será que alguém pegou?
Minha irmã começou a sorrir.
- Eu vou te contar. Ela me pediu para eu não te dizer. Mas agora não tem mais jeito. Aquilo é o recheio da bunda dela!
- O quê?!
- É uma calcinha com enchimento. Ela inventou. A propósito, ela me deu uma de presente!
- Ah, é? E para mim, ela só faz mentir.
- Pois é, ela tem vergonha de ti. Mas ela é gente boa. Deu até uma para a mamãe!
- Menina, pelo amor de Deus, não vai contar para os outros que tua mãe usa um bundex.
Interveio minha mãe entre o riso e a vergonha.
- Bundex? - Perguntei espantada. - Já tem até nome? Só falta patentear, pois garanto que, pelo rumo, vai fazer muito sucesso.
Isso aconteceu há alguns anos. A boba da minha vizinha não patenteou a sua invenção. A idéia se espalhou e virou uma febre.
Agora, não precisa da genética. É só comprar um bundex! Está em liquidação!
terça-feira, 1 de maio de 2007
Giuliano, O Sedutor
Giuliano, O Sedutor
Giuliano conhecia o seu poder. Ele nascera para seduzir o sexo oposto. Seu nome de origem italiana fora bem escolhido, considerando a fama dos homens daquela nacionalidade. Se tivesse conhecimento, julgaria que poderia seduzir as virgens do Templo do Sol. Porém, mesmo sendo um ignorante, ele fazia muito sucesso.
Giuliano possuía um método que nunca falhava.
Primeiro, aproximava-se da vítima, exibia-se por alguns segundos.
Depois se afastava indiferente. Logo, ele estava perto de outra pretendente, para quem já havia cumprido a primeira etapa de seu plano. Puxava assunto e daí a pouco estavam batendo papo. Ele acurava os sentidos para gravar bem o que ela cantasse ao seu ouvido.
Terceira etapa do plano: repetir, como se fosse seu, tudo o que ela havia lhe contado.
Giuliano não sabia de muita coisa, mas, as suas pretendentes, inexplicavelmente, tratavam dos mesmos assuntos, o que tornava a coisa fácil.
A quarta etapa de seu plano era mais complicada. Ele era dessa espécie que gostava de sexo a toda hora, porém, não gostava do modo convencional, ou seja, da maneira pregada pela Igreja e seus doutores. Assunto que, na opinião dele, deviam guardar silêncio obsequioso, sob pena de revelarem que não respeitavam seus votos.
Gostava de fazer sexo em público e de usar um certo instrumento de tortura. Além disso, fidelidade era alguma coisa impossível para ele. É certo que não estava nem aí para o uso do preservativo. Nisso, ele estava do lado da Igreja. Achava que sexo era para ser feito e se desse resultado, ótimo. Não tinha qualquer responsabilidade para com a prole. Era um pai desnaturado. Nem sabia quantos filhos havia posto no mundo.
Havia uma figura interessante no pedaço. Uma figura verdadeiramente encantadora. Só sabia que ela se chamava Rosa e que ela gostava de comer flores. Surpreendera-a roubando as pétalas de uma roseira num canteiro do passeio público. Todavia, ela nem se agitou, nem o notou.
– Que figura estranha! - Concluiu Giuliano.
Não olhar para ele já era razão suficiente para que a considerasse uma estranha.
Observou que ela se importava mais com as flores, com as abelhas, com as formigas, do que com os seres de sua espécie.
– Quecriatura excêntrica. É a mais estranha de todas elas. Já sei. A Rosa é uma panteísta.
Giuliano concluiu fazendo um grande esforço de inteligência.
– Agora tem essa moda. Só falta ela me contar que é lésbica. – Ele pensou meio decepcionado.
No entanto, Rosa não tinha nada de panteísta. Ia recolhendo os bichinhos. Matava-os e, o que era pior: comia-os!
Giuliano aproximou-se de Rosa com uma sensação estranha. Parecia que seu poder de sedução havia desaparecido. Mesmo assim, perguntou educadamente:
– Por que a senhorita não come o que todo mundo come, senhorita? - Repeitu o pronome de tratamento tentando impressioná-la.
Dando uma rebolada e sem se dar ao trabalho de levantar os olhos, ela devolveu a pergunta:
– O que ocê perguntou pra mim, seu moço?
Ela tinha um sotaque estranho. Engolia as letras e arrastava muito o erre. Ele observou.
– Por que a senhorita não come o que todo mundo come? – Giuliano repetiu pacientemente.
– Uai, e tem comida mais gostosa do que esta?! Eu sou uma caipira, comprende? Aquilo que ocês come é ração.
Giuliano se surpreendeu muito com a resposta. Ao contrário do que poderia nos parecer, ele ficou mais encantado com ela. Era a primeira vez que alguém lhe dizia algo novo. Embora fosse uma bobagem.
Ele ficou meditando um pouco por ali. Rosa virou-lhe as costas e continuou seu passeio pelo jardim, contente da vida.
Então, Giuliano voltou para as suas pretendentes. Afinal perdera tanto tempo com Rosa que não tivera ocasião de pôr em prática , naquele dia, a última parte do seu plano. A mais sofisticada.
Naquele momento, ele tinha que ser ágil, valente. Preciso como um atirador.
Avistou no outro lado do jardim uma donzela branquinha. Ele preferia as de cores mais chamativas às branquelas. Ele ouviu algum ruído sobre a raça delas. Alguma coisa negativa. Mas, ela estava ali, melancólica! Parecia um ser extraviado. Sentiu que não podia se negar àquela gentileza.
Aproximou-se. Ela tentou se esquivar, pois já sabia como era. Gritou e se assanhou. Porém, antes que tivesse tempo de escapar, Giuliano enfiou duas esporas nas suas costelas. Agarrou-a, e, num segundo, dominou-a.
No mesmo instante, entrou ali a dona de Giuliano, que o pegou no flagra. Sem uma gota de ciúmes e, como se acabasse de ver a coisa mais natural do mundo, entre gargalhadas, ela desafiou-o:
– Giuliano, seu galo bobão! Só consegue pegar essa galinha de granja! Duvido que pegue a galinha rosa. Assim vai me dar prejuízo. Vou diminuir a sua ração, seu falso garanhão!
Giuliano conhecia o seu poder. Ele nascera para seduzir o sexo oposto. Seu nome de origem italiana fora bem escolhido, considerando a fama dos homens daquela nacionalidade. Se tivesse conhecimento, julgaria que poderia seduzir as virgens do Templo do Sol. Porém, mesmo sendo um ignorante, ele fazia muito sucesso.
Giuliano possuía um método que nunca falhava.
Primeiro, aproximava-se da vítima, exibia-se por alguns segundos.
Depois se afastava indiferente. Logo, ele estava perto de outra pretendente, para quem já havia cumprido a primeira etapa de seu plano. Puxava assunto e daí a pouco estavam batendo papo. Ele acurava os sentidos para gravar bem o que ela cantasse ao seu ouvido.
Terceira etapa do plano: repetir, como se fosse seu, tudo o que ela havia lhe contado.
Giuliano não sabia de muita coisa, mas, as suas pretendentes, inexplicavelmente, tratavam dos mesmos assuntos, o que tornava a coisa fácil.
A quarta etapa de seu plano era mais complicada. Ele era dessa espécie que gostava de sexo a toda hora, porém, não gostava do modo convencional, ou seja, da maneira pregada pela Igreja e seus doutores. Assunto que, na opinião dele, deviam guardar silêncio obsequioso, sob pena de revelarem que não respeitavam seus votos.
Gostava de fazer sexo em público e de usar um certo instrumento de tortura. Além disso, fidelidade era alguma coisa impossível para ele. É certo que não estava nem aí para o uso do preservativo. Nisso, ele estava do lado da Igreja. Achava que sexo era para ser feito e se desse resultado, ótimo. Não tinha qualquer responsabilidade para com a prole. Era um pai desnaturado. Nem sabia quantos filhos havia posto no mundo.
Havia uma figura interessante no pedaço. Uma figura verdadeiramente encantadora. Só sabia que ela se chamava Rosa e que ela gostava de comer flores. Surpreendera-a roubando as pétalas de uma roseira num canteiro do passeio público. Todavia, ela nem se agitou, nem o notou.
– Que figura estranha! - Concluiu Giuliano.
Não olhar para ele já era razão suficiente para que a considerasse uma estranha.
Observou que ela se importava mais com as flores, com as abelhas, com as formigas, do que com os seres de sua espécie.
– Quecriatura excêntrica. É a mais estranha de todas elas. Já sei. A Rosa é uma panteísta.
Giuliano concluiu fazendo um grande esforço de inteligência.
– Agora tem essa moda. Só falta ela me contar que é lésbica. – Ele pensou meio decepcionado.
No entanto, Rosa não tinha nada de panteísta. Ia recolhendo os bichinhos. Matava-os e, o que era pior: comia-os!
Giuliano aproximou-se de Rosa com uma sensação estranha. Parecia que seu poder de sedução havia desaparecido. Mesmo assim, perguntou educadamente:
– Por que a senhorita não come o que todo mundo come, senhorita? - Repeitu o pronome de tratamento tentando impressioná-la.
Dando uma rebolada e sem se dar ao trabalho de levantar os olhos, ela devolveu a pergunta:
– O que ocê perguntou pra mim, seu moço?
Ela tinha um sotaque estranho. Engolia as letras e arrastava muito o erre. Ele observou.
– Por que a senhorita não come o que todo mundo come? – Giuliano repetiu pacientemente.
– Uai, e tem comida mais gostosa do que esta?! Eu sou uma caipira, comprende? Aquilo que ocês come é ração.
Giuliano se surpreendeu muito com a resposta. Ao contrário do que poderia nos parecer, ele ficou mais encantado com ela. Era a primeira vez que alguém lhe dizia algo novo. Embora fosse uma bobagem.
Ele ficou meditando um pouco por ali. Rosa virou-lhe as costas e continuou seu passeio pelo jardim, contente da vida.
Então, Giuliano voltou para as suas pretendentes. Afinal perdera tanto tempo com Rosa que não tivera ocasião de pôr em prática , naquele dia, a última parte do seu plano. A mais sofisticada.
Naquele momento, ele tinha que ser ágil, valente. Preciso como um atirador.
Avistou no outro lado do jardim uma donzela branquinha. Ele preferia as de cores mais chamativas às branquelas. Ele ouviu algum ruído sobre a raça delas. Alguma coisa negativa. Mas, ela estava ali, melancólica! Parecia um ser extraviado. Sentiu que não podia se negar àquela gentileza.
Aproximou-se. Ela tentou se esquivar, pois já sabia como era. Gritou e se assanhou. Porém, antes que tivesse tempo de escapar, Giuliano enfiou duas esporas nas suas costelas. Agarrou-a, e, num segundo, dominou-a.
No mesmo instante, entrou ali a dona de Giuliano, que o pegou no flagra. Sem uma gota de ciúmes e, como se acabasse de ver a coisa mais natural do mundo, entre gargalhadas, ela desafiou-o:
– Giuliano, seu galo bobão! Só consegue pegar essa galinha de granja! Duvido que pegue a galinha rosa. Assim vai me dar prejuízo. Vou diminuir a sua ração, seu falso garanhão!
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