Uma fila de guardas do DETRAN estava multando os carros no estacionamento. Corpanzil aprumado, cadernetas na mão, capacetes fosforescentes sobre as motocicletas. Era um espetáculo.
Eles esticavam o pescoço, como uma gazela, e, assim, pareciam mais altos. Banqueteavam-se com a quantidade de multas.
Entrei no estacionamento e liberei o cinto. Avistei uma vaga e, quando já estava chegando ao meu destino, surge um daqueles guardas, talvez o mais forte e o mais feroz. Ele me abordou com aquela "urbanidade" característica de todos os guardas que já conheci:
- Senhora, nós estamos multando e a senhora passa sem o cinto, senhora? - O tratamento de "senhora" não tinha nada da suposta respeitabilidade que esse pronome conteria. Esse "senhora", de tão repetitivo, já se tornou um pronome de destratamento. Aliás, já não existe mais ninguém sem-hora!
Antes que eu tivesse tempo para explicar que acabara de tirar o cinto e que estava há cinco segundos do meu destino, ele me interceptou:
- Não importa, o carro está em movimento. A senhora vai ser multada! - Disse ele em tom de ameaça.
Bem, eu sei que essa gente é irritada, quanto mais você argumenta pior a coisa fica! Às vezes, tenho a sensação que o regime militar não acabou.
Estacionei o carro, nem deu tempo abotoar o cinto.
Não olhei para trás, estiquei meu pescoço feito ele. Desfilei feito uma gazela. Quando eu retornar ao carro, verificarei se meu gesto produziu o efeito desejado.
segunda-feira, 30 de abril de 2007
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2 comentários:
Detesto estes guardinhas barulhentos e emplumados. Acham que ascensão social é sair pisando na cabeça dos que apesar de cultos e trabalhadores não são ricaços porque não querem roubar.
Se a escritora fosse ricaça e estivesse num Mercedes, iam ficar babando e colocando tapete vermelho.
Manuela Joaquina Mendez Pavilhão
É a burocracia sem-hora (e sem vergonha) atropelando a inteligência...
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