terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Enternecer-se na Solidão


"A solidão é fera, a solidão devora (...) e faz nossos relógios caminharem lentos". Linda composição de Alceu Valença. Eu dei para pensar sobre a solidão e quando eu dou para pensar, minha amiga me alerta: Cuidado! Estás pensando?
Estava pensando no que tem de brilhante e atraente na solidão, no que ela tem de secreto e de gozo. Pois existe uma solidão que não é "padecimento" é "enternecimento", é encontro e confronto do ser em solidão consigo mesmo.
A solidão tem muitas faces, é benigna e perigosa. É pluma que acaricia, é lâmina que fere. É na solidão, que, finalmente, ouso me perguntar: "Quem sou eu?"
Mas sinto que foi plantado no meio de nós um medo terrível da solidão. A solidão-maldita, a solidão-tenebrosa, a solidão-angústia, a solidão-que-mata! E o oxímoro do problema é que o medo da solidão só pode gerar aquele tipo de solidão, que é padecimento.
A mim parece que pouca gente tem coragem de assumir, de vivenciar e de amar a solidão. Mas a história está aí cheia de grandes solitários: Nietzsche, Rilke, Van Gogh, Borges, Kant, Emily Bronthë, Emily Dickinson. (Parece que me equivoquei com a quantidade, consegui lembrar de poucos, ou talvez seja ignorância minha.)
O ser- em- comunhão, afetivo, transcende a solidão-sofrimento, o ser-em-solidão enternecida transcende a si mesmo. É o que concluo, se não estou enganada.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Resta-me...

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite." Assim começa Neruda o seu poema. Tão lindo esse verso! Se eu houvesse escrito: "Beijar Albertine a transforma em uvas de jade..." "provar o gosto da rosa secreta que desabrocha das faces de Albertine." (Proust) Apenas essas duas frases eu já me sentiria feliz. Mas nada disso escrevi e hj me sinto incapaz de escrever um verso, (nunca fui boa de verso.)
Resta-me dizer o que escutam os meus ouvidos e o que os meus olhos vêem: um caminhão acaba de passar na rua, o gato come mastigando com ferocidade alegre a sua ração, os pássaros não estão cantando, não há vento batendo nas palmeiras do jardim, o sol não está brilhando. Vejo as helicônias vermelhas da minha janela. Ôpa, acabei de ouvir o bem-te-vi cantar. O portão da casa está aberto, apenas um dos gatos o vigia, achando que pode fazer alguma coisa pela minha segurança. Não precisa, gatinho! Deixa o povo entrar!
Mas agora, que surpresa! A palmeira começa a agitar vagarosamente suas palmas como a sinalizar para mim. Tão lentamente que parece uma carícia. E, lá no fundo do quintal, o meu galo cantou! Os bem-te-vis recomeçaram a cantar! E um beija-flor assobia, colhendo com prazer nectar de hibisco. Ô, animalzinho que admiro! Vive tão frugalmente e sua plumagem é tão linda!

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Da Arte de Flertar - Parte II - O dia em que flertei com Gianecchini

Eu estava ali, observando a esteira do aeroporto, minha única preocupação era: cadê a minha mala, por que essa demora?! Esteira vai, esteira vem e nada. Já entediada daquela apreciação, levantei os olhos e sabe que olhos os meus encontraram? Os olhos do Gianecchini! Ele abriu um sorriso e eu, quase explodindo por dentro, sorri, fiquei vermelha, senti um calor como se uma tocha acabasse de se acender dentro de mim. Minha amiga gritou:
- Olha, Mel, o Gianecchini!
Todos os passageiros que estavam ali, também esperando suas bagagens, viraram-se para nós, com ar de espanto.
Minha amiga, lançou um beijo para ele e ele jogou outro beijo para ela. (Eu queria ter recebido aquele beijo.)
Devo esclarecer que nunca havia me interessado por Gianecchini. Mas aquele olhar, aquele sorriso, a sua presença, lançava não sei o quê de misterioso e magnetizante que me seduzia de uma forma imprevisível.
Havíamos viajado no mesmo vôo. Talvez no último vôo da Varig antiga. Não entendo de avião, mas era uma aeronave enorme, que vinha de Manaus até o Rio, conexão em Brasília.
O Gianecchini usava uns adornos indígenas em volta do pescoço, uns colares feitos de frutinhas da floresta Amazônica, uma camiseta branca e um boné com a aba virada para trás. Ele estava ali, ao natural, como um índio, para além de sua imagem.
- Ah, se a minha mala demorasse a chegar! - Acabara-se a pressa.
E demorou, por sorte. Enquanto isso eu não me fartava de vê-lo. E ele, com ar tímido, baixava e levantava os olhos, prendia o sorriso, e me olhava de novo.
Minha amiga me disse:
- Mel, você está no seu período fértil! Seqüestre-o até o banheiro e faça um filho com ele!
Os meus colegas, que estavam juntos e testemunhavam tudo, caíram na risada.
Por fim, a minha bagagem chegou, tivemos que partir, ele continuou lá esperando do outro lado da esteira. Passei bem perto dele, mas não me aproximei muito, não fui pedir autógrafo nem nada, contive-me com aquela centelha que só poderia crescer dentro de mim. E era o que bastava.
Quando já íamos saindo do saguão do aeroporto, minha amiga olhou para trás e disse:
- Mel, ele está olhando.
Eu me virei e disse: - Tchau, Gianecchini!
Ele acenou e sorriu.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Da Arte de Flertar - Um prazer Estético - Parte I

Meninas e meninos, para ativar aquela parte do cérebro responsável pelo prazer sexual, você só precisa fazer uma coisa: flertar. Na minha opinião, é um prazer tão feliz e duradouro, contrariando sua qualidade mais aparente, que é o efêmero, que me parece um prazer estético. O prazer do flerte pode ser prolongado pela imaginação, pois o que ele tem de intangível e abstrato dá matéria para um sonho de perfeição que, muitas vezes, o real não permite. - Que beijos deliciosos, que hálito gostoso, que palavras lindas saem de sua boca! - Você imagina.
O flerte está fora de moda, ou eu me engano? Inventaram um versão moderna para o flerte que é esse negócio de "ficar". (Nada contra.) O cara vai lá e já quer chegar nos "finalmentes". Nada daquela sutileza, da delicadeza e da vagareza do flerte. Ou mesmo daquela falta de objetivos "práticos".
O flerte é simplesmente uma ligação encantatória que se estabelece momentaneamente entre duas pessoas, que pode durar um segundo, cinco minutos, ou perdurar por semanas, por meses, ou por anos.
Ele ocorre, geralmente, de forma súbita, como um clarão, quando no meio da multidão você distingue alguém que lhe faz pensar: Oh, meu Deus, se eu o (a) visse novamente! Pode acontecer também entre você e um velho conhecido. Ocorre mais ou menos assim: você vê a mesma pessoa todos os dias, até que, num belo dia, ela está de um jeito que, por um instante, você não a reconhece. Ambos têm a mesma sensação, e, naquele momento, algo nasce de forma surpreendente. Explode como uma estrela!
A atração do flerte é a paixão pelo impossível. Essa paixão que alimenta os romances até hoje. Veja o caso de Charlote e Werther. Há uma impossibilidade, seja geográfica, temporal, moral ou ética.
Meninas e meninos, a coisa mais interessante que possui um ser humano não é o corpo belo. É a sua aura. Esse conjunto de gestos, palavras, voz, postura, olhar, etc, que tornam uma pessoa atraente ou não. Na aura, algo subjetivo emana, algo transcende a pura imagem.
O principal recurso do flerte é o olhar. Um olhar sonhador, doce, melancólico ou alegre é mais cativante do que o olhar sensual propriamente dito.
O olhar feminino que tinha para mim todas essas propriedades era o olhar de Greta Garbo. Do lado masculino, era Elvis e James Dean.
Meninas e meninos, não é a voz da sabedoria que está falando, embora eu já tenha não sei quantos fios de cabelos brancos, não quero perder tempo contando.
Até mais.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

II - De onde se fala das especialidades e do ofício de Floranza

Floranza trabalha num convento, daqueles medievais, com claustros escuros, capelinhas e santinhos por todos os lados, apesar de ter sido fundado em 1760, quando a Idade Média já havia ficado para trás. É um prédio tombado pelo patrimônio histórico. Ela não entende por que um edifício que só cheira a mofo, que a pintura já desbotou faz tempo, cujos moradores mais numerosos são os morcegos, é tão importante assim. Ela prefere os prédios modernos, claros, retangulares, teto baixo, sem aquelas cúpulas assombrosas de onde a qualquer momento um morcego pode fazer chover na cabeça de quem tiver o azar.
A freira lhe explicou que nada pode ser mudado de lugar. Disse-lhe até que adora o cheiro de xixi de morcego, pois é este o cheiro mais vivo da memória de sua infância, vivida em outro convento. Floranza caiu na risada.
- Irmã, você não pode está falando sério! Jura?
- Pelo coração de Jesus!
- Irmã, todo convento é assim?
- Claro que não, esse é muito especial. É uma relíquia! - Disse a freira com orgulho, não, com satisfação, porque com orgulho é pecado.
Floranza não sabia o que era relíquia. Seu nível de instrução era o básico, sabia ler, escrever com erros de ortografia,(daqueles que o leitor precisa adivinhar o que se queria dizer) e sabia contar. Mas não perguntou o que era. E depois o que isso lhe importava se seu trabalho era: dar-lhe limpar santinho, dar-lhe tirar a poeirinha do andor, das flores artificiais, dar-lhe matar as aranhas das paredes, dar-lhe limpar o piso, sem falar das cacas dos ratos voadores, etc. Três vezes na semana.
Folgava o restante? Não. Só no domingo. Nos outros dias, trabalhava numa casa bonita, ajardinada. Essa, sim, fazia gosto limpar. Mas não gostava muito dos donos. A "patroa" a obrigava a usar um uniforme cinza arrematado com franjas de flores brancas.
- Pra que colocar enfeite nesta roupa? É a mesma coisa que enfeitar um bujão de gás! - Pensava Floranza com os botões do uniforme.
Não que ela tivesse forma de botijão, ela era bem feita de corpo. Floranza tinha sorte. Fazia inveja aos donos da mansão que, de tanto comer sucrilho e outras coisinhas leves, eram obrigados a usar o tamanho GGG.
- Floranza, onde está meu celular? Floranza, onde está a minha bolsa? Floranza, onde está, onde está o meu vestido vermelho? Floranza, onde está o meu calmante? - Todas as vezes era assim, Floranza tinha que dar conta de tudo.
- Sua especialidade, Floranza, é esconder as coisas. Você fez uma especialização nisso, aposto! - Reclamava a patroa.
- E a senhora se especializou em mandar nos outros. A querer tudo na mão. - Dizia Floranza para a gola de seu uniforme, Deus a livre de a patroa escutá-la.
No convento, mais paciente, a freira lhe pedia: Floranzinha, ache o meu dedal, perdi não sei onde. Floranzinha ache meu terço. - E Floranza encontrava. A freira, feliz, elogiava: - Ainda bem, Floranzinha, que tua especialidade é achar as coisas. Menina, um dia, ainda acharás um tesouro!
- Eu já encontrei, é Jesus.
- O teu Jesus é outro! Esse teu Jesus não morreu na cruz como o dos católicos.
Floranza era protestante, porém, não protestou nada. Ficou em recatado silêncio.

Falha Técnica

O contador de visitas não está funcionando hj, dia 14/02. Isso merece um palavrão. QUE MIVIXEUKIRTUYNUIVEDXUTA. Descobriu?!

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

A VIDA EXTRAORDINÁRIA DE FLORANZA

I - Simplesmente Floranza!
Quero contar pra você a história de Floranza. Por simplificação eu a chamo de Flor, Florzinha, e, às vezes, quando ela não me escuta, eu a chamo de Flo-ran-zaaaaaaaa.
Começo apresentando-a: ela tem 29 anos, tem os cabelos cor de mel, meio ondulados, os olhos verdes, em formato de amêndoas - milhares de escritores já descreveram o formato dos olhos femininos com essa palavra, o que possa fazer, se os olhos de Floranza me parecem exatamente assim?! - Tem um detalhe: na extremidade da sua pálpebra superior surge uma linha côncava, dando ao seu olhar a beleza do mistério.
O nariz e a boca são pequenos, o que salienta as maçãs do seu rosto, desenhadas como as maçãs do rosto de uma índia. Parece-me que em Floranza combinam-se harmoniosamente os genes do branco, do negro e do índio.
A vida dela é tão comum que chega a ser extraordinária.
Tem tanto escritor escrevendo a biografia de gente famosa, de pessoas "importantes", de um homem que caiu de um palanque, mas que caiu em pé, prodígio que nem o homem aranha realizaria. Escrever sobre essas pessoas não me anima, (nem eles deixariam que eu tivesse esse grande "privilégio") ainda mais se ainda são vivos, pois eles vão lá conferir o livro para ver se a coisa não ficou feia pra eles, pois desejam ser bem apresentados, como aqueles retratos que os pintores da realeza eram obrigados a fazer, e se não ficam satisfeito, se algo feriu o seu ego, eles brigam na justiça, dizem que o escritor os traiu, uma confusão.
Amanhã começo a história de Floranza.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Das recompensas

Como estava contando antes, fiquei furiosa porque um cabeçudo desprovido de idéias me chamou de "dona Maria". Pois eu vim com aquilo na cabeça durante o percurso inteiro até o meu trabalho. Uns 30 km, diga-se. Como ando numa velocidade média de 70km/h, descontando os pardais, devo ter ocupado a minha mente com esse "fato" por cerca de 25min (além dos minutos que estou levando pra escrever sobre esse assunto "importante"), isso é horrível. Porém, quando eu cheguei no trabalho e adentrei no hall do prédio, surgiu um belo moço com um sorriso mais que simpático, eu nunca o tinha visto, e gentilmente segurou a porta do elevador para mim. Pronto. Fui imediatamente curada da fúria!

Ingentilezas no trânsito

Digo "ingentilezas" para não escrever uma palavra ferina. Eu estava dirigindo pela rua secundária e parei no cruzamento com a principal, quando escutei uma voz mandona atrás de mim e dizer: "Vai, dona Maria." Essa frase detonou em meu cérebro um turbilhão de emoções tão grande que senti vontade de parar o carro, descer e encarar aquele sujeito estúpido, (sim era um homem, um taxista), e dizer-lhe: "Como é que é?" Mas me contendo , eu olhei pelo espelho e disse: "Grosso".
Isso me deixou cólerica por duas razões: primeiro porque não dava para invadir a avenida principal porque vinha um carro, o qual não podia ser visto pelo infeliz que estava atrás de mim porque havia dois contêineres de lixo que o impediam de vê-lo. A segunda razão foi por causa do "dona Maria". Essa frase sintetiza tudo quanto é de preconceito contra a mulher, a mulher na direção de um carro, a mulher pilotando uma máquina, contém uma generalização absurda, como são quase todas . É machista, sexista, desrespeitosa. Naquele momento, não era somente a minha pessoa que estava sendo ofendida, mas todas as mulheres. Se há uma coisa que me enerva é essa mania de muita gente de cabeça grande e de idéias pequenas tentar diminuir a mulher. No fundo, é o desejo de roubar do outro aquilo que não se possui: dignidade.

sábado, 10 de fevereiro de 2007

"Versos inscritos numa taça feita de um crânio"

"Versos inscritos numa taça feita de um crânio". Escreveu Lord Byron, pois segundo o próprio, uma vez desaparecido o cérebro, o seu substituto mais nobre só poderia ser o vinho. Ele não só escreveu isso, como mandou fazer uma taça a partir de um crânio humano! Os créditos vão para o tradutor do livro Beppo, Paulo H. Britto, edição que estou lendo.
A biografia de George Gordon Byron é cheia de aventuras. Dizem que ele era um homem fatal, aquele por quem todas as mulheres, inclusive os gays, se sentem seduzidas e se descabelam! Um Chico Buarque mais jovem. Não, é impróprio, o Chico viveu mais de 30 anos com a mesma mulher, coisa que para Byron seria impossível, até porque ele morreu com 36 anos. Não encontro ninguém com quem possa compará-lo. Ele era bem o tipo que muitas mulheres gostam: inteligente, belo, irreverente e perdulário, (gastava tudo, vivia correndo dos credores, embora fosse nobre.) (Eu, por exemplo, prefiro os homens inteligentes aos medíocres, mas desde que ele seja bonito.)
Voltando a Byron, ele teve como amante uma marquesa, uma camponesa, uma mulher casada e, dizem, até sua meia-irmã. ( E ainda o chamavam de manco.) Ele começou por amar mulheres mais velhas, mas depois... Veja o que ele escreve no livro Beppo sobre a mocinha: "É certo que a mocinha debutante tem seus encantos; mas é tão dengosa, ora amuada, ora petulante; tão cheia de risinhos, tão medrosa, olhando pra mamãe a todo instante, temendo alguma coisa pavorosa! (...) E o hálito cheira a manteiga." (tradução P.H.B.)
Esta do hálito, eu gostei. Pior seria se cheirasse a cebola. Mas se Byron conhecesse as garotas de hoje...
Depois que ele escreveu esse livro, conheceu uma mocinha de 19 anos, que já era casada, e mudou de idéia. Apaixonou-se por ela. Tornou-se seu cavalier serviente.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Adornada com flores


No jardim de casa. Não gostei muito desta foto. Não tenho uma foto que preste! "Toda foto é de um morto." Disse Roland Barthes. Ainda bem. Assim, pelo menos, posso sonhar que hoje eu esteja com a aparência melhor que esta aí.
Foto de dez/06.

Toque de Mel

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

O que você está lendo?

O que você está lendo? Refiro-em a que livro, pois, neste momento você deve estar lendo esta página.
Eu estou lendo “Beppo”, de Lord Byron. Mas ainda não estou pronta para escrever sobre essa obra, que, diga-se, é divertidíssima. Quero hoje escrever sobre Freud, sobre quem eu li há alguns meses e sempre estou voltando, como quem tem sede e volta à mesma fonte.
Uma das coisas que mais me impressionam na biografia de Freud foi a quantidade de cartas que ele trocou. Ele era um correspondente leal e assíduo. Muitas das suas amizades iniciaram-se por cartas, como foi o caso de Jung.
Certamente, na época dele, o problema da escassez de tempo já existia, mas não tão intenso como nos nossos dias. Freud tinha outra relação com o tempo. Imagine que todos os dias, ele se sentava em seu gabinete, escritório, bireau, consultório (não sei) para escrever cartas aos amigos!
Ele tinha um grande amigo chamado Wilhelm Fliess, que também era médico, o qual era para ele uma espécie de alterego, pois eles se identificavam em tudo, até nas doenças! Esse homem admirável fez uma descoberta muito importante para a mulher e para toda a humanidade, ele descobriu os períodos da fecundidade, desvendando os mistérios da concepção. (Se essa informação estiver errada a culpa não é minha, li numa revista.) A partir daí, em tese, a mulher poderia se prevenir contra a gravidez indesejada. O próprio Freud quando soube da descoberta comemorou lamentando, entretanto, ter vindo um pouco tarde para ele, pois a sua esposa já estava grávida do sexto filho. Para Freud essa descoberta merecia uma placa de mármore. A partir daí, creio, que ele aproveitou a descoberta de seu amigo, pois Martha não mais engravidou. (Alguns dizem que, a partir dos 40 anos, Freud simplesmente parou de ter relações sexuais com a esposa, não sei como podem ter certeza disso.)
Mas voltando às cartas, as correspondências de Freud são verdadeiras obras de arte, são cheias de idéias, ensinamentos, afeto. Ele era um homem muito afetuoso, iniciava as cartas a seu mestre e amigo Joseph Breuer com os seguintes dizeres: “o mais estimado dos amigos e o mais amado dos homens”. Quem, em nossos dias, consegue falar assim a um amigo?
O amor dele por Martha Bernays, sua futura esposa, cresce com as cartas, cartas incansavelmente trocadas durante os quatro anos em que durou o noivado, no ritmo aproximado de uma carta por dia! Eram cartas extremamente amorosas, que refletiam não só o amor por ela, mas o turbilhão dos pensamentos que o atormentavam. Martha tornou-se para ele uma espécie de confidente.
Há um trecho de uma carta que ele escreveu pra ela que diz o seguinte: “É preciso que você me ame sem razão, como amam sem razão todos os que amam, simplesmente porque te amo.” Que homem romântico, não é?!
Freud conhece Martha em abril e em junho do mesmo ano ficam noivos, entretanto, até o casamento teve o longo noivado, período em que eles vivem um amor intenso, alimentado pelas cartas.
Sobre as cartas de Martha, Freud diz: “Você escreve com tanto acerto e inteligência que me assusta um pouco.” Não sei se ela era tão inteligente assim. Talvez sim ou talvez fosse apenas o elogio de um homem apaixonado.
Harold Bloom, presidente dos arquivos de Freud, disse, certa vez, que a correspondência entre Sigmund e Martha foi “a mais importante correspondência amorosa da cultura ocidental”.
E você, já trocou muitas cartas de amor?

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Alô Mundão!

Parodiando o cineasta, o meu lema é: uma idéia na cabeça e um teclado na mão. Porém, no momento estou sem idéia do que este blog virá a ser! Pode?! Desejo construí-lo com as boas dicas que você me enviar. (Meu amigo me avisou, vá sonhando!) O que me move é a vontade de escrever, de partilhar com outrem as minhas experiência e impressões sobre o mundo. Não prometo melodias, nem bagos de mel, o fel é de todo inevitável. Farei comentário dos livros que lerei, (pequenos), comentarei episódios do cotidiano, escreverei contos, historietas e o que vier na cabeça.
Como jamais encontrei essa coisa divina: uma pessoa com quem eu pudesse conversar sobre tudo, escreverei pensando que, entre milhares e milhares de pessoas, as quais eu não posso conhecer no plano do "real", poderei encontrar, pelo menos, uma centena desses seres excepcionais. Achou esse papo muito sério? Dizem que sou engraçada, que sou uma palhaça por vocação, adoro fazer rir. Me aguardem!