José Pedro estava em frente ao computador num dos seus joguinhos. Ele me explicava as regras do jogo e eu tentava lhe contar um caso.
José Pedro, me ajude a descobrir o autor desse terrível crime.
- Que crime?
- Ontem à noite, eu escutei o grito do gato branco. Um grito bravo, um grito de briga, entendeu?
Sem tirar os olhos da tela do computador, ele me perguntou:
- E gato grita?
- Bem, gato mia, mas quando ele mia assustando a gente, é como se ele gritasse.
- Entendi. - Ele respondeu, matando mais um de seus inimigos virtuais e dando risadinhas de felicidade.
- Acontece, José Pedro, que, na manhã seguinte, notei que o ninho da pata estava todo bagunçado. Um ser misterioso retirou as penas que cobriam os ovos que a pata estava chocando e colocou em seu lugar folhas de bananeiras. Quem foi essa criatura?
- Uma criatura que gosta de ovo. - Respondeu-me e, logo desviando da conversa, disse com todo entusiasmo:
- Olha, quantos pontos eu já ganhei!
- Mas, José Pedro, os ovos da pata não foram comidos!
- Nesse jogo, eu tenho três tipos de poderes. (ele interrompeu.) Fogo! - mas não tem o de adivinhar! (Continuou.)
- Eu só quero que você pense e me ajude a descobrir.
- Quando eu estiver respondendo a minha tarefa, eu penso.
- Está combinado.
O José Pedro não estava ligando para a minha história. Desisti.
Ele tem cinco anos e, felizmente, o fato de ele gostar de jogos não o impede de ser ele um excelente leitor. Ele lê muito bem. Escutá-lo é muito divertido. Ele lê: transatlântico, libélula, inexorável, retângulo, obtuso, com a mesma facilidade que lê: rosa, furúnculo, filosofia, suculento e por aí vai.
Ele estava concentradíssimo no jogo, então, eu perguntei:
- Quando termina?
- Não sei. Quando eu ganhar.
- José Pedro, você sabia que você é a pessoa que lê da forma mais linda do mundo!
- Ôba! - Ele respondeu.
- Você ganhou ponto, foi?
- Não, é que você falou que eu sou a pessoa que lê mais lindo do mundo!
- E é mesmo. Então, me responda: para quem você puxa ser tão inteligente?
- De ninguém. Eu puxo de mim mesmo. Eu puxo da minha cabeça!
Bem, eu fiquei deslumbrada diante dessa resposta, pois as crianças são ensinadas a responder essa pergunta. Em geral, dizem: eu puxo pra mamãe ou eu puxo pro papai.
Eu achei a resposta do José Pedro tão profunda, tão autêntica, que o fiz repeti-la várias vezes, até que eu a internalizasse.
De repente, eu me vi transportada para o Século VIII a.C, pois me lembrei de Hesíodo, que depois de ter sido esbulhado por seu irmão, compôs "Os trabalhos e os dias", livro que fala do surgimento de uma raça de ferro, que é o próprio tempo de Hesíodo, constituído por fadigas, misérias e angústias. Ele se tornou um aedo (um poeta popular). Mas o seu sofrimento não foi em vão. A partir de Hesíodo se inaugura uma nova tradição ética: a areté (a virtude) deixa de ser atributo natural de bem-nascidos para se transformar numa conquista, resultado do esforço e do trabalho enobrecedor de qualquer homem.
José Pedro é um discípulo de Hesíodo, ele puxa sua inteligência de si mesmo. Ele não precisa da vanglória ancestral. Quantos, ainda hoje, precisam disso!
José Pedro, me ajude a descobrir o autor desse terrível crime.
- Que crime?
- Ontem à noite, eu escutei o grito do gato branco. Um grito bravo, um grito de briga, entendeu?
Sem tirar os olhos da tela do computador, ele me perguntou:
- E gato grita?
- Bem, gato mia, mas quando ele mia assustando a gente, é como se ele gritasse.
- Entendi. - Ele respondeu, matando mais um de seus inimigos virtuais e dando risadinhas de felicidade.
- Acontece, José Pedro, que, na manhã seguinte, notei que o ninho da pata estava todo bagunçado. Um ser misterioso retirou as penas que cobriam os ovos que a pata estava chocando e colocou em seu lugar folhas de bananeiras. Quem foi essa criatura?
- Uma criatura que gosta de ovo. - Respondeu-me e, logo desviando da conversa, disse com todo entusiasmo:
- Olha, quantos pontos eu já ganhei!
- Mas, José Pedro, os ovos da pata não foram comidos!
- Nesse jogo, eu tenho três tipos de poderes. (ele interrompeu.) Fogo! - mas não tem o de adivinhar! (Continuou.)
- Eu só quero que você pense e me ajude a descobrir.
- Quando eu estiver respondendo a minha tarefa, eu penso.
- Está combinado.
O José Pedro não estava ligando para a minha história. Desisti.
Ele tem cinco anos e, felizmente, o fato de ele gostar de jogos não o impede de ser ele um excelente leitor. Ele lê muito bem. Escutá-lo é muito divertido. Ele lê: transatlântico, libélula, inexorável, retângulo, obtuso, com a mesma facilidade que lê: rosa, furúnculo, filosofia, suculento e por aí vai.
Ele estava concentradíssimo no jogo, então, eu perguntei:
- Quando termina?
- Não sei. Quando eu ganhar.
- José Pedro, você sabia que você é a pessoa que lê da forma mais linda do mundo!
- Ôba! - Ele respondeu.
- Você ganhou ponto, foi?
- Não, é que você falou que eu sou a pessoa que lê mais lindo do mundo!
- E é mesmo. Então, me responda: para quem você puxa ser tão inteligente?
- De ninguém. Eu puxo de mim mesmo. Eu puxo da minha cabeça!
Bem, eu fiquei deslumbrada diante dessa resposta, pois as crianças são ensinadas a responder essa pergunta. Em geral, dizem: eu puxo pra mamãe ou eu puxo pro papai.
Eu achei a resposta do José Pedro tão profunda, tão autêntica, que o fiz repeti-la várias vezes, até que eu a internalizasse.
De repente, eu me vi transportada para o Século VIII a.C, pois me lembrei de Hesíodo, que depois de ter sido esbulhado por seu irmão, compôs "Os trabalhos e os dias", livro que fala do surgimento de uma raça de ferro, que é o próprio tempo de Hesíodo, constituído por fadigas, misérias e angústias. Ele se tornou um aedo (um poeta popular). Mas o seu sofrimento não foi em vão. A partir de Hesíodo se inaugura uma nova tradição ética: a areté (a virtude) deixa de ser atributo natural de bem-nascidos para se transformar numa conquista, resultado do esforço e do trabalho enobrecedor de qualquer homem.
José Pedro é um discípulo de Hesíodo, ele puxa sua inteligência de si mesmo. Ele não precisa da vanglória ancestral. Quantos, ainda hoje, precisam disso!
3 comentários:
Pois, eu puxo para Hesíodo.
Ray muito obrigada por você ter tanto carinho por meu filho , você não imagina com ele ficou feliz lendo e eu te garanto que ele nunca vai esquescer dese gesto carinhoso.
BEIJO
ELIETE
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