O Viriço era muito corajoso. Vaqueiro, peão, boiadeiro, lavrador, carpinteiro, pescador, caçador, plantador, etc. Pelo que contava, era mais valente que Lampião. Homem da sua estirpe tinha que "ser um forte"!
Quando via um cemitério ficava mais firme no lombo do burro do que prego enfiado em barra de sabão.
Uma certa noite, ele viajava sozinho montado no seu burro. Era uma noite muito escura e a estrada era solitária. Por ali, só passava quem tinha algum negócio importante pela região, ou seja, quase nenhuma pessoa.
O burro seguia a galope, diminuiu a velocidade para um xote, depois, passou a caminhar pé ante pé. Naquele passo macio, o Viriço caiu no sono.
Não dormitou muito, pois logo caiu do burro, e este, vendo-se livre de sua carga, resolveu pegar o seu próprio rumo.
Quando o Viriço percebeu, o burro estava bem adiante, esturrando os lábios, celebrando sua liberdade.
-Péra aí, seu filho d'uma égua!
-Eu sou filho d'uma égua mesmo! - Respondeu-lhe o burro, relinchando de alegria. - E não lhe espero não!
- Espera não, mas eu te pego, seu filho d'uma vaca!
O Viriço meteu o pé na carreira, mas, a cada passo que dava, metia o pé num toco, e era tanto toco que seu pé já estava esfolado.
- Que monte de toco é este, seu burro?! E está tudo pintado de branco!
- São cruzes do cemitério, seu Burro!
O Viriço, mal ouviu essa notícia, mais firme do que vara verde, recuou assombrado.
Porém, no outro dia, ele contou o seguinte:
- Rapaz, quando eu notei, estava no meio do cemitério, chutando as cruzes. As ditas almas, donas dos marcos, apareceram muito zangadas comigo. Corri atrás, elas fugiram com medo e se enfiaram pelos buracos no tronco de um oiti.
Ah, se eu pego uma daquelas almas, que eu lhe arrancava pelos cabelos os segredos do céu ou do inferno!
quinta-feira, 12 de abril de 2007
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