Ontem, dia 11 de dezembro, vi o Oscar Niemeyer.
Quando cheguei na entrada da Biblioteca Nacional, pontualmente às 18:30h, já havia centenas de pessoas: fotógrafos, homens de ternos, mulheres bem vestidas, outras nem tanto, e uma sarabanda de tipos exóticos.
Entrei no meio da multidão com a roupa nova, que fui comprar para o evento, depois de refugar a minha surrada roupa de trabalho, mas nada de encontrar o nobre visitante.
Depois de rápida investigação, descobri que ele não estava no recinto.
Uma leva de fotógrafo se dirigiu para o Museu. Fomos no faro deles, eu e minha amiga Jô. Com medo de ele chegar à Biblioteca e perdermos a sua chegada, fiquei indecisa, mas depois de consultar a intuição de Cassandra, resolvemos arriscar.
Na porta do Museu perguntei ao recepcionista, que era um senhor de bigodes brancos, se o Oscar estava ali. O homem nos assegurou que não. Mas desconfiei. Fui atrás de outra fonte de informação. Quando ouvi a resposta afirmativa, entrei correndo no Museu, não sei como passei pelo guarda, nem assinei o livro de controle de visitas.
Havia uma roda, um monte de gente, minha amiga olhou naquela direção e foi logo dizendo: Está ali ele. Estou vendo!
E eu não via. - Cadê? Cadê? - Perguntei morrendo de ansiedade.
Enfim vi-o sentado entre duas pessoas, vestindo um camisão azul, não era terno, com os ombros caídos, a cabeça demasiada grande sobre o corpo frágil. Tinha o olhar perdido e no semblante não expressava nem alegria, nem tristeza, mas a dignidade de um deus.
Num impulso, entro no meio do alvoroço e estendo-lhe a mão para cumprimentá-lo. Minha mão fica alguns segundos no ar, ele me encara, como se buscasse em sua memória algo relacionado à minha pessoa, já que o chamei de "Oscar". Depois ele aperta minha mão.
"Muito prazer conhecê-la". "Satisfação". Foram essas as suas palavras, que não esquecerei.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Coincidências da realidade
Há acontecimentos que nos impressionam por sua semelhança com a ficção. Os fatos seguem, por vezes, uma estrutura tão bem arquitetada que mais parece saída da mente de um bom escritor. Quem poderia imaginar que o pai da menina feita refém pelo namorado era procurado pela polícia?
Vejo as notícias sobre o caso Daniel Dantas. Além das cifras citadas nas matérias, chama a minha atenção o nome e o sobrenome do Juiz "Fausto de Sanctis". Todos sabem o que significa "fausto" (grandioso, glorioso, feliz, venturoso). Já o sobrenome "De Sanctis" lembra a palavra santo, que significa o ser puro, elevado, inviolável. Mas fausto é também o nome do trágico personagem de Goethe, o sujeito que faz um pacto com Mefistófeles, o próprio demônio.
O nome do procurador da República, referido no caso, Rodrigo de Grandis, fala por si.
Poucos escritores seriam capazes de criar nomes tão apropriados para seus personagens como esses nomes me parecem.
Vejo as notícias sobre o caso Daniel Dantas. Além das cifras citadas nas matérias, chama a minha atenção o nome e o sobrenome do Juiz "Fausto de Sanctis". Todos sabem o que significa "fausto" (grandioso, glorioso, feliz, venturoso). Já o sobrenome "De Sanctis" lembra a palavra santo, que significa o ser puro, elevado, inviolável. Mas fausto é também o nome do trágico personagem de Goethe, o sujeito que faz um pacto com Mefistófeles, o próprio demônio.
O nome do procurador da República, referido no caso, Rodrigo de Grandis, fala por si.
Poucos escritores seriam capazes de criar nomes tão apropriados para seus personagens como esses nomes me parecem.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Santa catarina
Sim, mas por pior que seja a tragédia do povo de Santa Catarina, a gente não pára de se preocupar com nossos pequenos problemas!
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Encontro com o Passarinho
Há um passarinho que pousa em hora certa, lugar certo. Às 9 horas da manhã, ele está lá, no seu mirante. Uma pequena placa na barragem do Lago Paranoá. Olha para as águas, em silêncio, aprumado. Medita, pensa, não sei. Mergulha no lago, toma banho, pesca. Ê passarinho feliz!
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Destempero da Inveja
Ora, qualquer pessoa que visse o que vi, por volta das quinze horas da tarde de hoje, teria o mesmo sentimento de inveja. Vi um casal de namorado no estacionamento do ministério. Eles se abraçavam, se beijavam, sorriam. - Ah, não! Aquilo era um despropósito.
Por ironia, a moça exibia um crachá. Um crachá com o logotipo do Ministério do Trabalho e do Emprego!
Pois é, enquanto eu corria apressada os olhos pela janela do prédio, o casalzinho se divertia! Que destempero de inveja!
Por ironia, a moça exibia um crachá. Um crachá com o logotipo do Ministério do Trabalho e do Emprego!
Pois é, enquanto eu corria apressada os olhos pela janela do prédio, o casalzinho se divertia! Que destempero de inveja!
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
POEMA (MAL FEITO) À CASA
POEMA (MAL FEITO) À CASA
CASA ENCANTADA
QUE ESCUTA EM SILÊNCIO MEU RISO OU MEU PRANTO
CASA QUIETA,
ONDE O SABIÁ GOSTA DE CANTAR
CASA FRUTÍFERA,
AONDE O BEM-TE-VI VEM CATAR AMORAS,
CASA, QUE AMO,
CASA HABITAT DE MEUS GATOS,
MORAS EM MIM.
CASA CASTA, CASA CASTELO, CASA MURALHA,
MINHA SOMBRA, MEU OASIS,
AO REDOR DE TI, PLANTEI ÁRVORES,
HERAS, TREPADEIRAS E FLORES DIVERSAS.
CASA QUE AMO MAIS QUE QUALQUER LUGAR NO MUNDO
ESTÁ ENTRANHADA EM MIM
ESTOU ENTRANHADA EM TI COMO A ÁRVORE À TERRA.
COM ESSA MANIA DE CULPAR O LUGAR
POR MINHA INFELICIDADE
ACABEI POR TE CULPAR
MAS NÃO TENS CULPA DE NADA, MINHA QUERIDA!
SOU EU QUE ME FAÇO INFELIZ
SOU RESPONSÁVEL POR ISSO.
NA MINHA FRAQUEZA, SÓ ME FIZ INFELIZ!
CASA, TU NÃO ÉS MAIS UMA COISA
ÉS ORGÂNICA COMO UM SER
E ÉS PURA DOÇURA,
ÉS PURO ALENTO, REPOUSO, AFETO,
TRANQUILIDADE, PAZ.
ÉS UM PEQUENO PARAÍSO QUE NÃO SOUBE DESFRUTAR.
TE AMO, QUERIDA CASA!
CASA ENCANTADA
QUE ESCUTA EM SILÊNCIO MEU RISO OU MEU PRANTO
CASA QUIETA,
ONDE O SABIÁ GOSTA DE CANTAR
CASA FRUTÍFERA,
AONDE O BEM-TE-VI VEM CATAR AMORAS,
CASA, QUE AMO,
CASA HABITAT DE MEUS GATOS,
MORAS EM MIM.
CASA CASTA, CASA CASTELO, CASA MURALHA,
MINHA SOMBRA, MEU OASIS,
AO REDOR DE TI, PLANTEI ÁRVORES,
HERAS, TREPADEIRAS E FLORES DIVERSAS.
CASA QUE AMO MAIS QUE QUALQUER LUGAR NO MUNDO
ESTÁ ENTRANHADA EM MIM
ESTOU ENTRANHADA EM TI COMO A ÁRVORE À TERRA.
COM ESSA MANIA DE CULPAR O LUGAR
POR MINHA INFELICIDADE
ACABEI POR TE CULPAR
MAS NÃO TENS CULPA DE NADA, MINHA QUERIDA!
SOU EU QUE ME FAÇO INFELIZ
SOU RESPONSÁVEL POR ISSO.
NA MINHA FRAQUEZA, SÓ ME FIZ INFELIZ!
CASA, TU NÃO ÉS MAIS UMA COISA
ÉS ORGÂNICA COMO UM SER
E ÉS PURA DOÇURA,
ÉS PURO ALENTO, REPOUSO, AFETO,
TRANQUILIDADE, PAZ.
ÉS UM PEQUENO PARAÍSO QUE NÃO SOUBE DESFRUTAR.
TE AMO, QUERIDA CASA!
sábado, 15 de novembro de 2008
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Caderno de José Saramago
Há um novo oásis na web. É o blog de José Saramago, que você pode acessar neste endereço:
http://caderno.josesaramago.org/
É sempre entusiasmante ler o que Saramago escreve lá.
http://caderno.josesaramago.org/
É sempre entusiasmante ler o que Saramago escreve lá.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
domingo, 12 de outubro de 2008
Diário de Viagem - parte II
Mas no dia seguinte, descontei na comida. Costela de porco assada na brasa. Passei bem.
Fui tomar banho de rio e como não havia trazido roupa de banho, banhei de calcinha e sutiã. Ali não passa ninguém, pode-se até tomar banho nu. O rio chama-se "Casa Forte". É um rio de água fria, azulada, não muito fundo, estreito, com lajedos grandes.
Ao redor dele cresce uma planta, que minha mãe chama de bruto, muito parecida com graviola. Dar um fruto muito parecido. Em minha opinião, é mais saboroso que a graviola. Existe uma árvore que dar uma frutinha vermelha, que se chama criuli ou crioli, nunca vi em outro lugar. É bem silvestre e com sabor marcante. Existem também ali muitos pés de pitomba de leite, que se parece muito com a pitomba comum, mas que é mais doce e suculenta.
Uma antiga amiga de minha mãe foi nos visitar e, ao me ver, exclamou: - Tu não cresceu mais, nem engrossou!
Simplesmente adorei essa frase. Nunca tinha escutado a palavra "engrossou" no lugar de engordou. É o mais puro refinamento. Ê povo sabido!
Na casa do meu irmão, toda hora tem panela no fogo. Sabe-se quando começa a fazer comida, mas não quando termina. É um eterno banquete. Quer dizer, seria se a comida fosse variada. Mas ali, cabra, porco não faltam.
Me pareceu que as criaturas mais felizes dali são realmente os porcos, pois ficam na beira do rio, se banhando, se refrescando, aparando o caju com a boca, ou pescando piaba, e ainda têm direito a sua porção de milho todos os dias. Que vida mansa!
Fui tomar banho de rio e como não havia trazido roupa de banho, banhei de calcinha e sutiã. Ali não passa ninguém, pode-se até tomar banho nu. O rio chama-se "Casa Forte". É um rio de água fria, azulada, não muito fundo, estreito, com lajedos grandes.
Ao redor dele cresce uma planta, que minha mãe chama de bruto, muito parecida com graviola. Dar um fruto muito parecido. Em minha opinião, é mais saboroso que a graviola. Existe uma árvore que dar uma frutinha vermelha, que se chama criuli ou crioli, nunca vi em outro lugar. É bem silvestre e com sabor marcante. Existem também ali muitos pés de pitomba de leite, que se parece muito com a pitomba comum, mas que é mais doce e suculenta.
Uma antiga amiga de minha mãe foi nos visitar e, ao me ver, exclamou: - Tu não cresceu mais, nem engrossou!
Simplesmente adorei essa frase. Nunca tinha escutado a palavra "engrossou" no lugar de engordou. É o mais puro refinamento. Ê povo sabido!
Na casa do meu irmão, toda hora tem panela no fogo. Sabe-se quando começa a fazer comida, mas não quando termina. É um eterno banquete. Quer dizer, seria se a comida fosse variada. Mas ali, cabra, porco não faltam.
Me pareceu que as criaturas mais felizes dali são realmente os porcos, pois ficam na beira do rio, se banhando, se refrescando, aparando o caju com a boca, ou pescando piaba, e ainda têm direito a sua porção de milho todos os dias. Que vida mansa!
Diário de Viagem
De Brasília – Teresina
De Campo Maior a Jatobá do Piauí – 03/10/08
A estrada de Campo Maior a Jatobá é margeada por velhos cajueiros. É caju de todas as espécies. Vermelhos, dourados, amarelos, cor de vinho, pequenos, redondos ou grandes e compridos. O mês de outubro é especialmente bonito porque é a época dos cajus.
Durante o percurso de Campo Maior a Jatobá, fomos pegando caju com a mão.
Eu estava furtando caju na casa de um moço, quando o vejo chegando de mansinho. Fui logo dizendo: Estamos furtando os seus cajus. São deliciosos. A gente vem de Brasília. Isso não existe lá! Ele, com um sorriso simpático, respondeu: – Tem nada não. Pode pegar. – E foi lá dentro da casa dele e me deu um saco de cajus. E quando já estava indo embora, ouvi: – Espera aí. – Era a esposa dele, que vinha com um balde de cajus miudinhos, vermelhos, para nos dar.
À noite fomos jantar numa casa com vista para o cemitério, aí eu me lembrei de Michel de Montaigne porque ele afirmou que a casa ideal deveria ter vista para o cemitério para que estivéssemos sempre com a morte em perspectiva – que fúnebre – . O cemitério era bonito, com túmulos altos, bem edificados, embora alguns estivessem em ruínas.
Na hora da comida, esqueci completamente dessa vizinhança. O jantar era galinha caipira e capote, mas quando comecei a apreciar o menu machuquei a minha gengiva, perdi a graça e quase não comi. Que pena. A comida estava boa!
De Campo Maior a Jatobá do Piauí – 03/10/08
A estrada de Campo Maior a Jatobá é margeada por velhos cajueiros. É caju de todas as espécies. Vermelhos, dourados, amarelos, cor de vinho, pequenos, redondos ou grandes e compridos. O mês de outubro é especialmente bonito porque é a época dos cajus.
Durante o percurso de Campo Maior a Jatobá, fomos pegando caju com a mão.
Eu estava furtando caju na casa de um moço, quando o vejo chegando de mansinho. Fui logo dizendo: Estamos furtando os seus cajus. São deliciosos. A gente vem de Brasília. Isso não existe lá! Ele, com um sorriso simpático, respondeu: – Tem nada não. Pode pegar. – E foi lá dentro da casa dele e me deu um saco de cajus. E quando já estava indo embora, ouvi: – Espera aí. – Era a esposa dele, que vinha com um balde de cajus miudinhos, vermelhos, para nos dar.
À noite fomos jantar numa casa com vista para o cemitério, aí eu me lembrei de Michel de Montaigne porque ele afirmou que a casa ideal deveria ter vista para o cemitério para que estivéssemos sempre com a morte em perspectiva – que fúnebre – . O cemitério era bonito, com túmulos altos, bem edificados, embora alguns estivessem em ruínas.
Na hora da comida, esqueci completamente dessa vizinhança. O jantar era galinha caipira e capote, mas quando comecei a apreciar o menu machuquei a minha gengiva, perdi a graça e quase não comi. Que pena. A comida estava boa!
terça-feira, 5 de agosto de 2008
terça-feira, 29 de julho de 2008
terça-feira, 15 de julho de 2008
domingo, 13 de julho de 2008
Senhor Proust
Estou lendo "Senhor Proust", biografia de Marcel Proust escrita com base nas lembranças de sua antiga criada, Céleste Albaret, por Georges Belmont.
É como eu digo: ninguém conhece melhor o patrão que os empregados.
É como eu digo: ninguém conhece melhor o patrão que os empregados.
terça-feira, 8 de julho de 2008
segunda-feira, 7 de julho de 2008
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Sonata ao luar
Quando os pássaros se recolhem em seus ninhos, há aquele silêncio triste.
Naquela hora, a velha Isolda, escutava a sonata ao luar.
E ficava com seus fios de cabelos despenteados entre os dedos, sentindo o peso de mais um dia que chegara ao fim.
Naquela hora, a velha Isolda, escutava a sonata ao luar.
E ficava com seus fios de cabelos despenteados entre os dedos, sentindo o peso de mais um dia que chegara ao fim.
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Oscar Niemeyer não veio!
Oscar Niemeyer não veio!
Eu sabia. Tinha uma esperança vã. Aquele tipo de esperança que não tem nenhum fundamento. Você não tem nenhuma razão apra acreditar que a coisa vá acontecer.
Chegamos no espaço Oscar Niemeyer antes das 19 horas. O garçom servia água.
Depois de cerca de meia hora ali, eu já estava com a barriga cheia de água.
Perguntei ao garçom se ia ser servido água a noite inteira. Ele me respondeu sigilosamente que não. Verdade. Serviram o coquetel. Canapés, canapés, salgados. E eu e minha amiga comendo.
O mesmo garçom me avisou que o melhor estava por vir. Verdade. Ele serviu camarão e bacalhau. Mas quem disse que a porção de água que consumi juntamente com os salgadinhos me deixaram comer mais alguma coisa...
Uma repórter ensaiava, ela errava, repetia e dizia um texto tosco. Entrevistou autoridades, ou melhor, fez-lhes uma pergunta. Ficou olhando para o técnico que a filmava e gesticulava para ele, sequer ouviu o que o entrevistado lhe disse. Depois sorriu um sorriso falso e agradeceu.
O evento era o lançamento da revista "Nosso Caminho", idealizada pelo Niemeyer. É toda em preto e branco, com muitas fotos e muitos textos do Niemeyer.
A capa é a foto da futura torre digital de Brasília. Um monumento que me lembrou o farol de Alexandria. Parece uma tulipa com duas pétalas. Em cada uma delas há um salão como uma bolha, de onde o visitante terá uma visão panorâmica de Brasília.
Naquele clima esfusiante entraram alguns estudantes com cartazes e fotos de índios. Um deles dizia: "Nosso caminho não é o noroeste". Outro perguntava: "Especulação imobiliária estava no plano original de Brasília?"
E quando o governador entrou no salão, os estudantes se aglutinaram em torno dele. As luzes das câmaras foram acesas. O governador, ao lado de sua bela esposa, distribuiu sorrisos e apertos de mãos e não disse nada.
E assim com os estudantes vi que o espírito do Oscar Niemeyer estava presente naquele salão.
Eu sabia. Tinha uma esperança vã. Aquele tipo de esperança que não tem nenhum fundamento. Você não tem nenhuma razão apra acreditar que a coisa vá acontecer.
Chegamos no espaço Oscar Niemeyer antes das 19 horas. O garçom servia água.
Depois de cerca de meia hora ali, eu já estava com a barriga cheia de água.
Perguntei ao garçom se ia ser servido água a noite inteira. Ele me respondeu sigilosamente que não. Verdade. Serviram o coquetel. Canapés, canapés, salgados. E eu e minha amiga comendo.
O mesmo garçom me avisou que o melhor estava por vir. Verdade. Ele serviu camarão e bacalhau. Mas quem disse que a porção de água que consumi juntamente com os salgadinhos me deixaram comer mais alguma coisa...
Uma repórter ensaiava, ela errava, repetia e dizia um texto tosco. Entrevistou autoridades, ou melhor, fez-lhes uma pergunta. Ficou olhando para o técnico que a filmava e gesticulava para ele, sequer ouviu o que o entrevistado lhe disse. Depois sorriu um sorriso falso e agradeceu.
O evento era o lançamento da revista "Nosso Caminho", idealizada pelo Niemeyer. É toda em preto e branco, com muitas fotos e muitos textos do Niemeyer.
A capa é a foto da futura torre digital de Brasília. Um monumento que me lembrou o farol de Alexandria. Parece uma tulipa com duas pétalas. Em cada uma delas há um salão como uma bolha, de onde o visitante terá uma visão panorâmica de Brasília.
Naquele clima esfusiante entraram alguns estudantes com cartazes e fotos de índios. Um deles dizia: "Nosso caminho não é o noroeste". Outro perguntava: "Especulação imobiliária estava no plano original de Brasília?"
E quando o governador entrou no salão, os estudantes se aglutinaram em torno dele. As luzes das câmaras foram acesas. O governador, ao lado de sua bela esposa, distribuiu sorrisos e apertos de mãos e não disse nada.
E assim com os estudantes vi que o espírito do Oscar Niemeyer estava presente naquele salão.
terça-feira, 1 de julho de 2008
Seu Maleta
Porque não devolvi um livro para um amigo um outro me chamou de "maleta". Ele escreveu:
"A maleta da ..... não devolveu o livro do fulano".
Mas depois eu soube que maleta não é coisa tão ruim. A origem do nome deve-se a um homem lá de Goiânia que ia para a biblioteca pública sempre com uma maleta.
Quando ele faleceu, os parentes encontraram a mala cheia de livros com o carimbo da biblioteca. O filho, cheio dos pruridos, ligou para a biblioteca. O homem da biblioteca respondeu: é o velhinho da maleta. Ah, sim, é o seu maleta.
Foi assim que o adjetivo maleta passou a designar pessoa que toma livro emprestado e não devolve. Mas eu não sou maleta, não. Ainda vou devolver o livro. A culpa não é minha, é que certos livros se apegam a gente.
"A maleta da ..... não devolveu o livro do fulano".
Mas depois eu soube que maleta não é coisa tão ruim. A origem do nome deve-se a um homem lá de Goiânia que ia para a biblioteca pública sempre com uma maleta.
Quando ele faleceu, os parentes encontraram a mala cheia de livros com o carimbo da biblioteca. O filho, cheio dos pruridos, ligou para a biblioteca. O homem da biblioteca respondeu: é o velhinho da maleta. Ah, sim, é o seu maleta.
Foi assim que o adjetivo maleta passou a designar pessoa que toma livro emprestado e não devolve. Mas eu não sou maleta, não. Ainda vou devolver o livro. A culpa não é minha, é que certos livros se apegam a gente.
domingo, 29 de junho de 2008
Passarinhos com frio
Os passarinhos com frio se dependuram na gaiola, juntam as cabecinhas ou as asas para se proteger do frio. Crianças curiosas passeiam em redor. Eles não entendem porque olham tanto pra eles.
Batem na gaiola, gritam, jogam comida. Eles ficam ali indiferentes, pensando em como era bom morar num ninho quentinho, cheio de palha, com uns ovinhos para cuidar. Ver a noite estrelada, acordar com o primeiro raio de sol e voar.
Mas estão presos e não cometeram crime algum.
Batem na gaiola, gritam, jogam comida. Eles ficam ali indiferentes, pensando em como era bom morar num ninho quentinho, cheio de palha, com uns ovinhos para cuidar. Ver a noite estrelada, acordar com o primeiro raio de sol e voar.
Mas estão presos e não cometeram crime algum.
festa junina de Brasília
Yakisoba, cachorro quente, quentão, nas festas juninas de Brasília têm!
Canjica, bolo de milho, farofa não tem não.
Que saudade sinto das festas juninas do Piauí.
Com fogueira e todo mundo comendo bolo de mandioca e espiga de milho.
Fazendo simpatia ou brincando de ser padrinho e comadre.
Um compromisso que se faz ao redor da fogueira, passado a fogo.
Quem não tem um padrinho de fogueira?
A sanfona, a zabumba o triângulo e os casais vão dançando.
Um xamego danado de bom!
Canjica, bolo de milho, farofa não tem não.
Que saudade sinto das festas juninas do Piauí.
Com fogueira e todo mundo comendo bolo de mandioca e espiga de milho.
Fazendo simpatia ou brincando de ser padrinho e comadre.
Um compromisso que se faz ao redor da fogueira, passado a fogo.
Quem não tem um padrinho de fogueira?
A sanfona, a zabumba o triângulo e os casais vão dançando.
Um xamego danado de bom!
sábado, 28 de junho de 2008
A vida está em outro lugar
O título é o nome de um livro de Milan Kundera. Conta a história de Jaromil, um rapaz tímido, que vive a vida apenas no pensamento.
A vida de Jaromil é muito intensa, porém apenas na sua imaginação.
Completamente dominado por sua mãe, que é como se o mantivesse preso a uma coleira como um cão, Jaromil é uma criatura infeliz.
Certo dia, ele conhece uma moça, chega a ir para a cama com ela, contudo não concretiza o ato sexual. A mocinha pensa que é porque ele é muito ingênuo e delicado. Não sabe ela que que tudo deixou de acontecer porque ele estava com vergonha de sua horrível cueca.
A vida de Jaromil é muito intensa, porém apenas na sua imaginação.
Completamente dominado por sua mãe, que é como se o mantivesse preso a uma coleira como um cão, Jaromil é uma criatura infeliz.
Certo dia, ele conhece uma moça, chega a ir para a cama com ela, contudo não concretiza o ato sexual. A mocinha pensa que é porque ele é muito ingênuo e delicado. Não sabe ela que que tudo deixou de acontecer porque ele estava com vergonha de sua horrível cueca.
Gato Camuflado
Descobri que meu gato, que é branco, quase albino, não gosta de sua cor. Ele fugiu ontem e quando retornou estava com a cara tisnada, da cor de carvão.
Outro dia, ele brigou com outro gato, que ousou nascer de sua mesma cor. Quem sabe não é o pai dele ou algum irmão bastardo.
Acho que ele pintou a cara feito um indío que se pinta para a guerra. Está à espera do outro gato.
Outro dia, ele brigou com outro gato, que ousou nascer de sua mesma cor. Quem sabe não é o pai dele ou algum irmão bastardo.
Acho que ele pintou a cara feito um indío que se pinta para a guerra. Está à espera do outro gato.
terça-feira, 17 de junho de 2008
Frase do dia
Já vi muita coisa nesta vida, até cavalo com soluço.
Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas
Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas
domingo, 25 de maio de 2008
Bichinhos
Um joão de barro passeia no jardim, anda com seu passo lesto, assobia, come bichinhos, junta barro e conversa com seu par.
O gato budista espia de longe e suspira!
Que quadro mais lindo!
O gato budista espia de longe e suspira!
Que quadro mais lindo!
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Criador de Cabra
Bita, bita... E lá vinham as cabras, atrás vinham os cabritinhos. Comiam uma pequena ração de milho e já estavam amigas da gente. Cabras são animais afetuosos. Se afiliam da gente. E os cabrinhos enjeitados! Aqueles que perdiam a mãe, eram criados por a gente. Era bom dar a mamadeira para os filhotinhos. Às vezes a gente segurava uma cabra mais leiteira para alimentar os cabritinhos. A cabra escondia o leite. O cabritinho batia nas tetas da cabra, puxava o ubre e sacodia o rabo de pura felicidade.
domingo, 18 de maio de 2008
Melancia
A roça tinha milho, feijão, abóbora e melancia. Na páscoa havia milho verde e melancia. A menina vinha passar a páscoa em casa. Tinha vontade de levar as melancias na barriga, de guardar consigo o seu sabor. Se pudesse levaria aquela doçura consigo. Ela ficava especialmente encantada com o melancieiro. Como frutificava naquela terra, naquele chão de pedra e cascalho. Onde havia um pouco de chão e estrume o melancieiro ia crescendo com muitas frutas. A flor pequena originava um fruto tão grande. Era desproporcional à ramagem. De onde a melancia tirava tanta açúcar e tanta água? Não sabia que a melancia era filha da poesia.
Primeiras Impressões de um Gato
O gato observa a chuva. Fica hipnotizado olhando as gotas finas caindo na grama. A chuva engrossa e ele se afasta correndo. Vem com seu miado suplicante me pedir para fazer a chuva parar. Do mesmo jeito, quando criança, eu fazia pedindo a Deus que fizesse chover. Eu pensava que deus era o manda-chuva. Agora o meu gato acha que o manda-chuva sou eu. Para ele sou Deus! Pobre gatinho, não adiantam suas preces.
domingo, 11 de maio de 2008
Sabiá Voltou!
Sabiá voltou! Se exibe com seu canto doce, enquanto tiver sol. Sabiá não gosta de chuva. A seca bateu no cerrado, ele volta!
sábado, 10 de maio de 2008
É na briga que os vizinhos melhor se conhecem!
- Como eu tava te contando, ontem briguei com o vizinho de cima por causa do barulho. O cara fazia um barulho tão grande que minha mãe escutou o estrondo pelo telefone. Eu fui lá no apartamento dele reclamar. Não deu outra. Fui na calma, queria resolver as coisas civilizadamente, mas o sujeito abriu o bocão e me disse que eu era um mal educado, que eu não sabia que ele tinha um cunhado deficiente, que dava muito trabalho cuidar de uma pessoa assim. Então eu disse: esse seu cunhado é um perneta que fica pulando numa perna só o dia inteiro? Pois pra fazer um barulho daquele só se ele passa o dia inteiro pulando feito canguru.
O cara respondeu que eu certamente não sabia o que era cuidar de uma pessoa deficiente.
Pera aí. Mas o que a deficiência de seu cunhado deficiente tem a ver com o barulho aqui.
Contei pra ele que meu pai também era deficiente. Ele respondeu: Aposto como ele anda! Aí não prestou não. - Meu pai anda de cadeira de rodas. Está prostrado. Qualquer hora pode morrer!
- E meu cunhado está muito mal. Muito mal. Tenho que cuidar dele o dia inteiro. Nisso se resume a minha merda de vida.
-Mas o barulho... o que seu cunhado tem a ver?
O síndico não resolve nada aqui. Mas eu resolvo. Ah, resolvo!
- Você está me ameçando?
- Estou, respondi. Estou lhe ameaçando, anote aí. Eu tenho umas caixas de som lá em casa. Se eu ligar aquelas caixas de som, meu, saiba que o inferno vai ser logo abaixo de você! O barulho será infernal, pode crer. Vou arrebentar com teus tímpanos.
E, aí, ele ficou caladinho. Pera aí. Vou atender o interfone. (Pausa)
Depois de alguns instantes, ele volta ao telefone:
- Era o vizinho pedindo sal emprestado. O da briga. Certamente!
O cara respondeu que eu certamente não sabia o que era cuidar de uma pessoa deficiente.
Pera aí. Mas o que a deficiência de seu cunhado deficiente tem a ver com o barulho aqui.
Contei pra ele que meu pai também era deficiente. Ele respondeu: Aposto como ele anda! Aí não prestou não. - Meu pai anda de cadeira de rodas. Está prostrado. Qualquer hora pode morrer!
- E meu cunhado está muito mal. Muito mal. Tenho que cuidar dele o dia inteiro. Nisso se resume a minha merda de vida.
-Mas o barulho... o que seu cunhado tem a ver?
O síndico não resolve nada aqui. Mas eu resolvo. Ah, resolvo!
- Você está me ameçando?
- Estou, respondi. Estou lhe ameaçando, anote aí. Eu tenho umas caixas de som lá em casa. Se eu ligar aquelas caixas de som, meu, saiba que o inferno vai ser logo abaixo de você! O barulho será infernal, pode crer. Vou arrebentar com teus tímpanos.
E, aí, ele ficou caladinho. Pera aí. Vou atender o interfone. (Pausa)
Depois de alguns instantes, ele volta ao telefone:
- Era o vizinho pedindo sal emprestado. O da briga. Certamente!
O Homem mais feliz do Mundo
O Google me parece as minas do "Rei Salomão". Fui lá e escrevi: "o homem mais feliz do mundo". Pois não é que encontrei! Isso não é incrível! Nunca pensei em encontrar o homem mais feliz do mundo. Não sei como sabem que ele é tão feliz. Parece que uns cientistas fizeram um experimento: mediram, pesaram a felicidade do homem e meio abismados descobriram que o homem havia chegado a tal grau de felicidade que era impossível não ser o homem mais feliz do mundo e, assim, por exclusão, concluíram que ele era" o homem mais feliz do mundo". Como ele se chama? Matthieu Ricard. O que ele faz para ser feliz? Tem belos pensamentos.
Ah, e alguns milhões de euros.
Ah, e alguns milhões de euros.
Orgulho de Caboclo
Orgulho de caboclo é ver a roça de melancia,
é ver o resultado da pescaria,
o filho escrevendo cartas para as moças.
É. No meu tempo, a gente fazia uns sinais nas pedras na beira do rio. Desenhava na areia, nas folhas, no tronco das árvores. Não tinha papel, não. A gente escrevia o nome da moça ao lado do nome da gente e assinava para sempre num pé de aroeira. Era mesmo que registrar no cartório.
Orgulho de caboclo é ver os filhos tudo com a barriga cheia e os melancieiros na roça, tudo maduro. Dá gosto de ver as melancias redondas no meio do roçado. Aquilo é um milagre. Um pezinho cheio de folha que dá um fruto tão grande e tão bonito. E mais ligeiro que o pé de melancia, não há! Dois meses e o pé de melancia, com duas chuvas, dá fruto. É uma vitória da natureza! Não sei de onde o pé de melancia tira tanta água, tanto vermelho e tanto doce!
é ver o resultado da pescaria,
o filho escrevendo cartas para as moças.
É. No meu tempo, a gente fazia uns sinais nas pedras na beira do rio. Desenhava na areia, nas folhas, no tronco das árvores. Não tinha papel, não. A gente escrevia o nome da moça ao lado do nome da gente e assinava para sempre num pé de aroeira. Era mesmo que registrar no cartório.
Orgulho de caboclo é ver os filhos tudo com a barriga cheia e os melancieiros na roça, tudo maduro. Dá gosto de ver as melancias redondas no meio do roçado. Aquilo é um milagre. Um pezinho cheio de folha que dá um fruto tão grande e tão bonito. E mais ligeiro que o pé de melancia, não há! Dois meses e o pé de melancia, com duas chuvas, dá fruto. É uma vitória da natureza! Não sei de onde o pé de melancia tira tanta água, tanto vermelho e tanto doce!
Impersistência da Flor
A seca está chegando. Deixe-me murchar as pétalas. Assim quase cochilando de preguiça a azaléia deixou as pétalas bater em cima dos espinhos de um cacto que resmungou com sua conhecida acidez.
- Ô, sua preguiçosa, levante de cima deu. Deixe de ser encouranhenta.
- Que é isso, seu grosso! Não me toque. Que quer dizer com essa palavra?
- Que você vai ficar dura como couro.
Mas a azaléia estava muito fraca para discussão e nem ouviu a resposta do cacto. Se envergou para o outro lado e dormiu. O cacto, no fundo, ficou muito triste, pois gostava da flor pertinho dele. Seu perfume adornava sua feição espigada e lhe dava certo romantismo.
- Ô, sua preguiçosa, levante de cima deu. Deixe de ser encouranhenta.
- Que é isso, seu grosso! Não me toque. Que quer dizer com essa palavra?
- Que você vai ficar dura como couro.
Mas a azaléia estava muito fraca para discussão e nem ouviu a resposta do cacto. Se envergou para o outro lado e dormiu. O cacto, no fundo, ficou muito triste, pois gostava da flor pertinho dele. Seu perfume adornava sua feição espigada e lhe dava certo romantismo.
Fantasma de Pelúcia
Tenho um fantasma de pelúcia que me conta segredos de outro mundo. Calma, ele não faz medo não.
Se ele me dá medo? De jeito nenhum. Deixe-me contar como ele é. Parece um gato, mas tem asa de pássaros e quando voa lembra uma pipa no céu. Se empina, rebola com o vento e dá guinas com o rabo prateado, que mais parece um cometa. Tem cara de gato, asas de pássaros, patas de coelho, barriga de gato mesmo, e um rabinho de prata. O nome dele é Rafael.
Se ele me dá medo? De jeito nenhum. Deixe-me contar como ele é. Parece um gato, mas tem asa de pássaros e quando voa lembra uma pipa no céu. Se empina, rebola com o vento e dá guinas com o rabo prateado, que mais parece um cometa. Tem cara de gato, asas de pássaros, patas de coelho, barriga de gato mesmo, e um rabinho de prata. O nome dele é Rafael.
Escrever é prática?
Um amigo meu me falou que para escrever é necessário prática, prática. Sei não. A única coisa que tenho certeza é que me tornarei mais rápida na digitação. Na dúvida, como diria meu professor de direito, "pau no réu". (Na dúvida, vou escrever.)
segunda-feira, 7 de abril de 2008
Segurada desmaia no INSS
- Guarda me faça um favor. Pegue seu revólver e atire em mim. Atira pelo amor de Deus!
Era uma senhora que havia acabado de sair da perícia médica. É claro que o médico havia indeferido o benefício dela. Não precisava perguntar nada. Isso acontece diariamente.
Mas naquele dia, a coisa foi séria. A mulher desmaiou. Não era chilique. A mulher estava ali estirada no chão feito morta.
Um grupo de curiosos se aproximou e foi um deus-nos-acuda. Uns diziam que ela estava inventando, outros que devia estar morta mesmo.
- Chamem um médico, por favor. - Pediu a chefe.
Vieram dois médicos peritos. Mas, no meio daquela confusão, pessoas começaram a gritar:
- Assassinos, assassinos.
A multidão não deixou os médicos se aproximarem.
Liguei para o serviço de ambulância do governo do estado.
- Me manda uma ambulância aqui para a agência do INSS.
- Em primeiro lugar, com quem você pensa que está falando?
Foi o que me respondeu a pessoa no outro lado da linha. Atarantada, completei:
- Uma mulher está desmaiada aqui e nós precisamos de uma ambulância, urgente.
- Como é o nome dela, senhora?
- Não sei, moça. Eu não conheço.
- O que você é dela?
- Não sou nada. Não já lhe disse: não conheço ela.
-Mas eu não estou entendendo...
- Pelo amor de Deus, me manda uma ambulância...
- A senhora está nervosa. Sem essas informações não posso fazer nada.
- Me passa para um médico, por favor.
Depois de algum tempo, o médico atendeu e me perguntou:
- Quais os sintomas da paciente?
- Ela está desmaiada...
- Ela está respirando?
- Não sei, doutor. Não sou médica.
- Mas eu sou médico e preciso saber se a paciente está viva ou não.
- Como vou saber?
- Quantos anos a paciente tem?
- Não sei. Não a conheço. Ela veio aqui para o INSS...
Do outro lado da linha, o médico ou seja lá quem fosse interrompeu:
- O quê? Você está falando do INSS?! Pois olhe, aqui não tem ambulância nenhuma não. Está tudo ocupado. - E assim desligou o telefone na minha cara.
Sobrou para o doutor Siqueira que desafiou a multidão e socorreu a paciente.
Não era nada demais só uma queda de pressão. Mas se a segurada morresse ali, iam dizer que a culpa era nossa e de todo o INSS. Uma vez um transeunte teve um ataque fulminante na porta da agência e morreu ali mesmo, pois inventaram que ele havia morrido na fila do INSS. Ele só ia passando.
Era uma senhora que havia acabado de sair da perícia médica. É claro que o médico havia indeferido o benefício dela. Não precisava perguntar nada. Isso acontece diariamente.
Mas naquele dia, a coisa foi séria. A mulher desmaiou. Não era chilique. A mulher estava ali estirada no chão feito morta.
Um grupo de curiosos se aproximou e foi um deus-nos-acuda. Uns diziam que ela estava inventando, outros que devia estar morta mesmo.
- Chamem um médico, por favor. - Pediu a chefe.
Vieram dois médicos peritos. Mas, no meio daquela confusão, pessoas começaram a gritar:
- Assassinos, assassinos.
A multidão não deixou os médicos se aproximarem.
Liguei para o serviço de ambulância do governo do estado.
- Me manda uma ambulância aqui para a agência do INSS.
- Em primeiro lugar, com quem você pensa que está falando?
Foi o que me respondeu a pessoa no outro lado da linha. Atarantada, completei:
- Uma mulher está desmaiada aqui e nós precisamos de uma ambulância, urgente.
- Como é o nome dela, senhora?
- Não sei, moça. Eu não conheço.
- O que você é dela?
- Não sou nada. Não já lhe disse: não conheço ela.
-Mas eu não estou entendendo...
- Pelo amor de Deus, me manda uma ambulância...
- A senhora está nervosa. Sem essas informações não posso fazer nada.
- Me passa para um médico, por favor.
Depois de algum tempo, o médico atendeu e me perguntou:
- Quais os sintomas da paciente?
- Ela está desmaiada...
- Ela está respirando?
- Não sei, doutor. Não sou médica.
- Mas eu sou médico e preciso saber se a paciente está viva ou não.
- Como vou saber?
- Quantos anos a paciente tem?
- Não sei. Não a conheço. Ela veio aqui para o INSS...
Do outro lado da linha, o médico ou seja lá quem fosse interrompeu:
- O quê? Você está falando do INSS?! Pois olhe, aqui não tem ambulância nenhuma não. Está tudo ocupado. - E assim desligou o telefone na minha cara.
Sobrou para o doutor Siqueira que desafiou a multidão e socorreu a paciente.
Não era nada demais só uma queda de pressão. Mas se a segurada morresse ali, iam dizer que a culpa era nossa e de todo o INSS. Uma vez um transeunte teve um ataque fulminante na porta da agência e morreu ali mesmo, pois inventaram que ele havia morrido na fila do INSS. Ele só ia passando.
terça-feira, 11 de março de 2008
Segurado Decreta Feriado no INSS ou o dia em que a Agência Parou
Estava de férias, mas o que não faz o costume? Quando notei estava em frente à minha agência. Nem parecia o INSS. Não havia barulho, nem fila de gente na porta, era um silêncio, parecia que velavam um morto ali dentro. Até o segurança cochilava. Toquei no vidro e ele despertou. Abriu a porta com a má vontade típica de quem é interrompido no melhor momento do sono, por isso não puxei conversa.
Fui direto descendo as escadas no rumo de minha sala. Não consigo evitar o pronome possessivo. Mas se é ali meu habitat. À medida em que ia descendo os degraus um fedor horrível ia tomando conta de tudo.
O silêncio, as cadeiras vazias, os computadores desligados e aquele cheiro horrível tornava o ambiente tão estranho que tive a sensação de ter entrado no lugar errado. Mas não, ali estava a prova: a minha mesa com meu copo azul de tomar água.
Olhei em torno, mas não havia ninguém. Escutei o ruído de uma mão virando um papel. O barulho vinha da sala da chefe. Abri a porta e dei de cara com ela. Mordida de curiosidade, perguntei:
- O que houve aqui? Não tem ninguém hoje!
- Um segurado veio aqui e fez uma coisa que só o Presidente da República pode fazer.
- O quê?
- Decretou feriado.
- Como assim?
- O médico perito deu alta pra ele.
- E daí?
- E daí é que ele trouxe uma dez latas de leite ninho.
- Lata de leite ninho?!
- Cheias de cocô.
- Meu Deus!
- Atirou na cara do doutor e saiu atirando merda pra tudo quanto é lado.
- E os guardas? O que fizeram?
- Prenderam o desgraçado. Mas o estrago já estava feito.
- Todo mundo e tudo quanto é lugar ficou sujo de merda, inclusive essa cadeira que está sentada aí.
Pois foi o que aconteceu! É o que dá tirar férias e vir ao trabalho! Saí de lá mais perfumada do que banheiro de rodoviária.
Fui direto descendo as escadas no rumo de minha sala. Não consigo evitar o pronome possessivo. Mas se é ali meu habitat. À medida em que ia descendo os degraus um fedor horrível ia tomando conta de tudo.
O silêncio, as cadeiras vazias, os computadores desligados e aquele cheiro horrível tornava o ambiente tão estranho que tive a sensação de ter entrado no lugar errado. Mas não, ali estava a prova: a minha mesa com meu copo azul de tomar água.
Olhei em torno, mas não havia ninguém. Escutei o ruído de uma mão virando um papel. O barulho vinha da sala da chefe. Abri a porta e dei de cara com ela. Mordida de curiosidade, perguntei:
- O que houve aqui? Não tem ninguém hoje!
- Um segurado veio aqui e fez uma coisa que só o Presidente da República pode fazer.
- O quê?
- Decretou feriado.
- Como assim?
- O médico perito deu alta pra ele.
- E daí?
- E daí é que ele trouxe uma dez latas de leite ninho.
- Lata de leite ninho?!
- Cheias de cocô.
- Meu Deus!
- Atirou na cara do doutor e saiu atirando merda pra tudo quanto é lado.
- E os guardas? O que fizeram?
- Prenderam o desgraçado. Mas o estrago já estava feito.
- Todo mundo e tudo quanto é lugar ficou sujo de merda, inclusive essa cadeira que está sentada aí.
Pois foi o que aconteceu! É o que dá tirar férias e vir ao trabalho! Saí de lá mais perfumada do que banheiro de rodoviária.
Vi Babete
- Vi Babete na cozinha. Ela estava bonita, do mesmo jeitinho de antes de ter filho.
Foi o único ser vivo que vi depois de morto.
- Mas Babete não era sua cadela?
- Sim, uma vira-lata original.
- Isso quer dizer que animal tem espírito?
- Não sei. Mas que vi ela na cozinha, isso eu vi.
Foi o único ser vivo que vi depois de morto.
- Mas Babete não era sua cadela?
- Sim, uma vira-lata original.
- Isso quer dizer que animal tem espírito?
- Não sei. Mas que vi ela na cozinha, isso eu vi.
Um louva-a-deus
- Matei um louva-a-deus.
- Como você fez isso? O bichinho é tão bonitinho!
- Ele estava comendo minha roseira, então fui lá e, chi-chi, com o veneno.
- E ele caiu mortinho!
- Não. Ele sumiu. Suponho que morreu.
- Sabe que existia um lutador de kung fu que se chamava louva-a-deus?
- Não.
- Esse homem foi muito famoso. Porém estava numa fase de franca decadência quando presenciou a briga de um louva-a-deus com uma cigarra. Isso mudou sua vida.
Depois de observar como lutava o louva-a-deus, o mestre aprendeu novos golpes e voltou a brilha, por isso adotou esse nome.
- Então, o louva-a-deus é um bom professor de kung-fu?! Vou criar uns no meu jardim e chamar uns alunos pra lá. Mas se ele continuar comendo minha roseira, vou lá e, chi-fu, corto as asas dele.
- Como você fez isso? O bichinho é tão bonitinho!
- Ele estava comendo minha roseira, então fui lá e, chi-chi, com o veneno.
- E ele caiu mortinho!
- Não. Ele sumiu. Suponho que morreu.
- Sabe que existia um lutador de kung fu que se chamava louva-a-deus?
- Não.
- Esse homem foi muito famoso. Porém estava numa fase de franca decadência quando presenciou a briga de um louva-a-deus com uma cigarra. Isso mudou sua vida.
Depois de observar como lutava o louva-a-deus, o mestre aprendeu novos golpes e voltou a brilha, por isso adotou esse nome.
- Então, o louva-a-deus é um bom professor de kung-fu?! Vou criar uns no meu jardim e chamar uns alunos pra lá. Mas se ele continuar comendo minha roseira, vou lá e, chi-fu, corto as asas dele.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
A prima do papagaio
Eu tinha uma prima dona de um papagaio. Quando ela se casou, levou-o consigo. Era o seu dote.
Um dia, ela e o maridão viajaram. O papagaio, muito entediado, subiu ao telhado e danou-se a reparar no mundo. Estava assim distraído quando veio uma ave de rapina e, zaz, comeu-o.
Quando marido e mulher voltaram a morte do papagaio quase deu causa a uma separação.
A prima protestou:
- Se não achar meu papagaio, vô mimbora!
O marido achou um da mesma raça, igualzinho e, assim, ela se consolou.
Essa prima do papagaio morreu.
- E o papagaio?
Morreu nada.
Um dia, ela e o maridão viajaram. O papagaio, muito entediado, subiu ao telhado e danou-se a reparar no mundo. Estava assim distraído quando veio uma ave de rapina e, zaz, comeu-o.
Quando marido e mulher voltaram a morte do papagaio quase deu causa a uma separação.
A prima protestou:
- Se não achar meu papagaio, vô mimbora!
O marido achou um da mesma raça, igualzinho e, assim, ela se consolou.
Essa prima do papagaio morreu.
- E o papagaio?
Morreu nada.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Sistema de Engorda das Formigas
Ouvi no rádio uma informação da maior importância: as formigas cortadeiras de folhas não comem as folhas que cortam! Levam-nas sobre as costas para alimentar fungos. Estes, sim, o seu verdadeiro alimento!
Que formigas espertas, alimentam os fungos e, depois que eles estão gordinhos, devoram-nos. E são tão cheias de artimanhas que mais parecem seres humanos. Vão lá no meu jardim roubar as folhas novas, molinhas, pra ter menos trabalho.
É, elas tem razão: trabalho, podendo, todo mundo evita.
Esses rádios não têm mesmo do que falar, não é? E estão fazendo igual às formiguinhas.
Que formigas espertas, alimentam os fungos e, depois que eles estão gordinhos, devoram-nos. E são tão cheias de artimanhas que mais parecem seres humanos. Vão lá no meu jardim roubar as folhas novas, molinhas, pra ter menos trabalho.
É, elas tem razão: trabalho, podendo, todo mundo evita.
Esses rádios não têm mesmo do que falar, não é? E estão fazendo igual às formiguinhas.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
minúsculo gigante
Havia uma florzinha do tamanho de um grão de arroz,
de cor tão viva. Porém ninguém lhe via no jardim.
Era roxo-claro, quase cor de rosa,
Arrumada em pétalas minúsculas.
Brotava de uma folha em formato de coração,
não o coração de verdade, mas como daquele do desenho.
Folhas "lanceoladas", no dicionário de Botânica.
Ela estava ali escondida até que foi vista
por uma mão tão desprevida
que admirada de sua beleza
decepou a florzinha.
Minúscula flor, gigante é sua dor.
de cor tão viva. Porém ninguém lhe via no jardim.
Era roxo-claro, quase cor de rosa,
Arrumada em pétalas minúsculas.
Brotava de uma folha em formato de coração,
não o coração de verdade, mas como daquele do desenho.
Folhas "lanceoladas", no dicionário de Botânica.
Ela estava ali escondida até que foi vista
por uma mão tão desprevida
que admirada de sua beleza
decepou a florzinha.
Minúscula flor, gigante é sua dor.
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Notícia da Orquídea
- Soube de uma uma moça que se trancou com uma uma orquídea e se intoxicou com seu perfume!
- Oh!
- Soube de um homem que não se vacinou contra a febre amarela porque não queria passar três dias sem pinga. O mosquito foi lá e o pobre homem nunca mais bebeu.
- Pelo amor de Deus, dê uma notícia boa!
- A moça da orquídea sobreviveu e os outros bilhões que estão vivos também.
- Ah, sim, naturalmente!
- Oh!
- Soube de um homem que não se vacinou contra a febre amarela porque não queria passar três dias sem pinga. O mosquito foi lá e o pobre homem nunca mais bebeu.
- Pelo amor de Deus, dê uma notícia boa!
- A moça da orquídea sobreviveu e os outros bilhões que estão vivos também.
- Ah, sim, naturalmente!
Plauto
Como pude me esquecer! Descobri Plauto. Ou melhor, Tito Mácio ou Maco Plauto, que nasceu no ano 224 a.C. Tenho mais de Plauto do que podia imaginar. Ele está nas nossas veias. De Balzac a Eça de Queiroz, em todos vejo um pouco de Plauto, até em Machado de Assis. Plauto estava em mim e eu não sabia! Foi um presente.
Jejum
Foi um longo jejum. "A primeira coisa mais importante da vida é escrever. A segunda é ler" Disse-me um sábio. Fiquei fazendo tantas coisas bobas que nem sei o que fiz. Ah, sim, estive escrevendo um relatório de encerramento do meu trabalho. Por esse relatório até me tornei religiosa, pois fiz uma promessa para conseguir concluí-lo.
Talvez não tivesse o que contar. Todos os assuntos me pareceram tão tolos. Nenhum era digno de inaugurar o ano.
Outro dia, vi uma carreta cheia de leitões. Os bichinhos eram todos do mesmo tamanho. Olhando assim dava a impressão que eram iguaizinhos, nascidos da mesma mãe. Me deu uma vontade de escrever sobre os porquinhos. Mas isso lá era assunto pra começar o ano!
Eles estavam meio sujos, mas dava pra notar que eram rosadinhos. Segui atrás da carreta observando os porquinhos até que teve um que me olhou tão amorosamente que quase fui às lágrimas. Mas depois me virou as costas e vi que era uma fêmea. Abri a janela do carro e senti o cheiro horrível de lama podre. Ainda ouvi os grunhidos de suas brigas, de suas reclamações. Dei a seta e ultrapassei. Adeus, porquinhos!
Sim, e lembrando de animais, ontem Maristela e Priscila foram embora, juntamente com Eutanásio, o galo que vivia pedindo socorro. Foi a pata branca, que não tinha nome, coitada. Não teve nome. O seu futuro dono ficou me perguntando: Qual é mesmo a Maristela?
É a do pescoço pelado, respondi. Dali a pouco ele me pergunta: Como é o nome delas? Maristela e Priscila. Maristela é a maior por isso começa com M. Priscila tem o P de pequena. Ah, sim. Ele confirmou.
Não vi quando elas partiram. Vida longa para as minhas amigas. Saudades eternas.
Talvez não tivesse o que contar. Todos os assuntos me pareceram tão tolos. Nenhum era digno de inaugurar o ano.
Outro dia, vi uma carreta cheia de leitões. Os bichinhos eram todos do mesmo tamanho. Olhando assim dava a impressão que eram iguaizinhos, nascidos da mesma mãe. Me deu uma vontade de escrever sobre os porquinhos. Mas isso lá era assunto pra começar o ano!
Eles estavam meio sujos, mas dava pra notar que eram rosadinhos. Segui atrás da carreta observando os porquinhos até que teve um que me olhou tão amorosamente que quase fui às lágrimas. Mas depois me virou as costas e vi que era uma fêmea. Abri a janela do carro e senti o cheiro horrível de lama podre. Ainda ouvi os grunhidos de suas brigas, de suas reclamações. Dei a seta e ultrapassei. Adeus, porquinhos!
Sim, e lembrando de animais, ontem Maristela e Priscila foram embora, juntamente com Eutanásio, o galo que vivia pedindo socorro. Foi a pata branca, que não tinha nome, coitada. Não teve nome. O seu futuro dono ficou me perguntando: Qual é mesmo a Maristela?
É a do pescoço pelado, respondi. Dali a pouco ele me pergunta: Como é o nome delas? Maristela e Priscila. Maristela é a maior por isso começa com M. Priscila tem o P de pequena. Ah, sim. Ele confirmou.
Não vi quando elas partiram. Vida longa para as minhas amigas. Saudades eternas.
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